Vou postar alguns textos pra nos familiarizar com a dor.
O tratamento fica mais claro e prático quando conhecemos a fundo e, entendendo sua fisiopatologia, sabemos o que pode-se ocasionar positiva ou negativamente.
Segundo a Associação Internacional para Estudo da Dor (IASP), o conceito de dor é "uma experiência sensorial e/ou emocional desagradável, decorrente de lesão tecidual ou potencial". Em miúdos, lesão tecidual significa um corte, perfuração, e lesão potencial é da ausência de lesão tecidual, contudo o a lesão será a nível neuropatico periférico ou central. E é segunda descrição que nos interessa.
Dor com duração acima de 3 meses é classificada como crônica e envolve alterações anatomofisiológicas, bioquímicas e neurofuncionais.
Enquanto a dor por nocicepção, especialmente a aguda, é fundamental para a preservação da integridade do indivíduo (é um sintoma que alerta para a ocorrência de lesões no organismo), a dor crônica não tem este valor biológico e é uma importante causa de incapacidade ou limitação. A dor pode ser gerada por excesso de estímulos nociceptivos ou por diminuição da atividade do sistema supressor de dor.
Em condições normais, a informação sensorial é captada pelas estruturas do Sistema Nervoso Periférico (SNP) e transmitida para as unidades do Sistema Nervoso Central (SNC), onde é decodificada e interpretada.
O Quê a Cannabis Faz?
A cannabis atua primariamente numa cadeia química de receptores conhecidos como canabinóides. O mais proeminente e psicoativo é o delta-9-tetrahidrocanabinol, ou THC. O primeiro local de atuação do THC é no cérebro, especificamente na parte alta central que afeta a consciência.
Os receptores canabinóides estão mais concentrados no hipocampo (responsável pela memória, sentimento e ações). Atuando nesses sistemas cerebrais, a cannabis produz os mais importantes efeitos medicinais, afetando a percepçãp da dor, humor, fome e tônus muscular. Executa alguns efeitos sutis em nossos tecidos e células inflamatórias.
Composição Química da Cannabis
Os efeitos primários, peculiares e psicoativos da cannabis são executados pelos canabinóides, que são a constituição única da planta. Em média, 86 canabinóides foram identificados na natureza. Outros foram sintetizados quimicamente.
O principal agente psicoativo é o THC, entretanto existem outros canabinóides que executam funções com propriedades medicinais ou psicoativas.
Canabidiol (CBD), canabinol (CBN), canabavarin (CBV), canabigerol (CBG), canabichromene (CBC), delta-8-THC, canabicyclol (CBL), canabitriol (CBT) e canabielsoin estão entre as variedades de canabin óides naturais. Muitos são conhecidos por disporem de efeitos psicoativos ou farmacológicos, como muitos canabinóides análogos sintéticos.
Pelo THC ser o principal agente psicoativo da cannabis, a potência da planta é mensurada de acordo com seu teor. concentrações típicas de THC são menores que 0,5% no canhamo inativo, 2 a 3% na folha de cannabis e 4 a 7% na cannabis de alto teor. As maiores concentrações ocorrem nas flores (buds) das chamadas sinsemillas, que pode conter entre 10 a 20% ou mais. Altas concentrações podem ser produzidas nos extratos, tônicos e hashish.
Doses terapêuticas orais variam de 2,5% a 20 mg de THC. Um baseado típico (1g de 2,5% de folhas ou 0,5g de 5% de melhor qualidade) contém 25mg de THC. No entanto, mais da metade dessa composição é destruída na combustão ou perda de fumaça parcial. Apenas 15-50% de THC num baseado alcança a corrente sanguínea, tornando a dose atual próxima de 3-12 mg.
O THC não é apresentado de forma ativa na planta. Ele ocorre como forma de ácido conhecido como ácido-tetrahidrocanabinólico (THCA). Quando a canabis é queimada ou esquentada, o THCA é transformado em THC numa reação conhecida como descarboxilação. Comparado ao THC, pouco se conhece sobre o THCA. Sabe-se que não é psicoativo e há pouco descobriu-se que tem propriedades imunomodulatórias, como outros canabinóides.
Se você ingerir a canabis crua, você não sentirá fortes efeitos psicoativos porque o THCA não será convertido em THC. No entanto, como a canabis amadurece, THCA será descarboxilizado. A resina de canabis no hashish contém muito THC ativo.
Um outro canabinóide comum é o CBD. O CBD é o canabinóide mais encontrado em fibras de variedades canábicas. Ao contrário do THC, o CBD carece de informação psicoativa e não interage fortemente com os receptores canabinóides do corpo. Contudo, há uma crescente evidência de que o CDB tem valor medicinal. Ele atua sinérgicamente com com THC, reforçando seus efeitos medicinais enquanto modula a psicoatividade. Sabe-se que o CBD tem efeitos anti-psicóticos, amortece a ansiedade e reações de pânico. Sabe-se que melhora a vigília e potencializa os efeitos do THC contra a dor e espasmos. Em camundongos, o CBD aumentou os níveis de THC e isso é uma grande evidência de que canabinóides podem aumentar a ação de outras drogas.
Sozinho, o CBD tem efeito antiinflamatório, antiepilético, sedativo e função neuroprotetora. É um potente antioxidante, protegendo contra danos químicos de oxidação. Recentes estudos sugerem que podem previnir o aparecimento de diabetes, certos tipos de câncer e artrite reumatóide; danos ao cérebro e nervos, AVC, alcoolismo e doença de Huntington. Inclusive pode previnir infecções de príons, como na doença da vaca-louca. Há evidências que as respostas de dosagem são bifásicas, ou seja, sua eficácia diminui se a dose for muito alta ou muito baixa.
CBD é produzido junto do THCA, o precursor do THC. Na planta, um canabinóide chamado ácido cannabigerólico é precursor de ambos - CBD e THCA-. Cada um é produzido por uma enzima diferente da planta.
Desde que CBD e THCA são produzidos do mesmo precursor, fica difícil em produzir plantas que carreguem níveis altos dos 2 canabinóides. Nas plantas de canhamo, a enzima que produz THCA é inativa ou deficiente, deixando a planta com alto teor de CBD. Infelizmente, a maioria das plantações domésticas vendem canabis com níveis baixos de CBD, raramente maior que 1%. Isso devido a canabis comercial ser diferenciada por raça para remover a enzima de CBD e aumentar os níveis de THC. Felizmente, alguns growers desenvolverão canabis com altos índices de CBD em alguns anos.
O terceiro canabinóide mais comum é o CBN, que é um produto da quebra do THC. Ele tem efeitos psicoativos e medicinais mais brandos e é mais encontrado em canabis degradada ou mal conservada.
Além dos canabinóides, canabis contém mais de cem tipos de terpenóides, estruturas químicas aromatizadas encontrada também encontradas em pinus, citrus e outras plantas odoríferas. São eles os responsáveis pela odor e sabor da canabis. Muitos estudiosos acreditam que os terpenóides contribuem significamente para os efeitos medicinais. Comparado aos canabinóides pouco se sabe sobra os terpenóides na canabis.
Cannabis ainda contém mais de 20 flavonóides, uma família química comum às plantas. Alguns desses flavonóides, conhecidos como cannaflavinas, são únicas à cannabis. Os flavonóides possuem efeito antiinflamatório e propriedades antioxidante e podem ajudar a proteger contra o câncer e outras doenças.
Usuários experientes relatam que diferentes tipos de canabis produzem diferentes tipos de "loucura" (high) e têm diferentes efeitos medicinais. As diferentes proporções de canabinóides, terpenóides e flavonóides em diferentes variedades - ou diferentes exemplares de plantas - são os responsáveis por essa variação de efeitos.
*Texto retirado do livro "Marijuana Medical Handbook - Pratical guide to therapeutics use of marijuana".
Dale Gieringer, PhD;
Ed Rosenthal;
Gregory T. Carter, M.D.
3a edição - 2008
Páginas 11 a 16.