Subject: Meu filho tem uma plantinha de maconha!
Mensagem: Querido Rev. Caio Fábio: Graça e Paz!
"hoje", o motivo desta é um pedido de socorro.
Por favor preciso de sua ajuda.
É o seguinte: tenho três filhos. O mais novo é um menino de 18 anos. Graças a Deus temos um relacionamento muito franco, honesto e "aberto ".
Eu sempre procurei compreendê-los e respeitá-los, para que a recíproca fosse igual...e tem dado certo.
Principalmente porque ensinei-os "no caminho do Senhor"; foram consagrados ainda bebes (assim como eu), e sempre foram alunos da escola bíblica. Quero dizer...
conhecem o caminho e sabem que o" temor do Senhor é o princípio da sabedoria".
Acontece que meu filho conseguiu me tirar esta "segurança".
Como diz minha filha mais velha, tudo por que ele é um adolescente "normal", com todos os "direitos e deveres".
Tem três tatuagens,"piercing" na língua, na orelha, etc...
Até então tudo isto não me incomodava, mas do que o suficiente; pois sei (espero) que seja uma fase; e certamente vai passar; e ele vai amadurecerá; e vai ver que tudo isto não passou de bobagens e perdas de tempo...
O que ele gosta mesmo é de "contrariar".
Como já disse, conversamos muito e sobre todos os assuntos; não existem tabus; nem assuntos proibidos entre nós; inclusive sobre uso de drogas; e ele me garante que está "fora"; e eu sei que se fosse usuário já, teríamos percebido, pois, não somos tão inocente assim...
Acontece que o engraçadinho me apareceu há alguns dias com uma "mudinha" de maconha, num vasinho; inclusive a "maldita" cresce e fica bonitinha muito rápido. Já fiz de tudo para convencê-lo a destruir a plantinha; mas não consigo!!!
Segundo ele, só está fazendo uma apologia contra a "repressão".
Às vezes eu penso em enfrentá-lo e jogar fora; ou "obrigá-lo" a tal; mas como o negocio dele é realmente "contrariar", acho que uma atitude assim ia piorar.
Por isso, estou pedindo sua ajuda, por favor como devo proceder?
Confesso que estou me sentindo "perdida"; confio no seu bom senso e principalmente na sua unção de sabedoria.
Beijos, carinhosa e sinceramente. Nele, em quem temos crido e a quem temos amado.
------------------------------------------- RESPOSTA------------------------------------------------
Minha querida amiga: Acho que você não tem que se impressionar. Você não falou no pai deles. Como ele é? Vocês vivem juntos? Como é a relação dele com o pai?
Esse houver uma relação, é claro. Tenho um filho de 22—o caçula—, que só não botou piercing nas regiões "inferiores da terra"; no resto, colocou em toda parte.
No início, há uns sete anos, eu me chateei muito.
Depois vi que era tudo o que ele queria: me chatear.
Então, não toquei mais no assunto. Ele falava, eu dizia: Legal. Devagar ele foi tirando tudo. Hoje tem um brinquinho desses que até eu usaria: leve e charmoso. Tudo passa! Eles cansam! Nós cansamos, um dia... Lembra?
Um dia você mesma cansou de muita coisa. Sobre a "planta" diga pra ele que ela é muito bonitinha, que você gostou dela, e que você mesma vai "regar".
Diga a ele que foi Deus quem fez todas as plantas—e que a planta é só uma planta—; e diga que você gostou muito da carinha dela! Isso vai "secando o protesto".
E é verdade: foi Deus quem fez; e a danadinha é bonitinha mesmo! Se ele está usando apenas maconha, agradeça a Deus.
E não existe essa relação linear, evolutiva e incontrolável entre maconha e as demais drogas. É mentira. Quem começa com maconha e vai pro pó; se ficar no pó, é porque nunca gostou de maconha. Nesse caso, a maconha foi só um primeiro fruto do qual ele comeu, mas já estava de olho nas demais árvores do jardim. O problema horrível vem de cocaína pra lá.
Essas drogas químicas são profundamente malignas. A maconha, obviamente, se ele não usou, ótimo; se usou, e deixar de usar, será para o bem dele. Se ele usa apenas maconha—e se já o faz a algum tempo—, e não partiu para outros alteradores de consciência; boa coisa é. Quem não partiu para a cocaína e C&a logo depois da maconha, provavelmente, não parta nunca mais.
Graças a Deus! Mas nem fale no assunto com ele. Se o negócio dele é um protesto—e pelo visto bem caseiro; afinal, a plantinha está em casa!—, não deixe que ele a veja preocupada, aflita e perturbada.
Pode ser a reação que ele almeja. Então, seque-a na fonte. Maconha pode fazer muito mal a um adolescente que passe a usá-la muito; tipo: mais de três baseados durante o dia. Isto porque em adultos formados, que a usam antes de dormir ou somente em casa e a noite, eu observo que é bem mais fraco e leve que tomar uma dose de uísque ou umas duas cervejas.
Trata-se de um alterador de consciência que abre o apetite e que dá uma "onda" reflexiva, meditativa, e que não pode ser responsabilizada por violência. Sempre que eu ouço dizer que alguém que estava "maconhado" fez uma grande violência, eu não acredito. De fato, o cara deveria estar bêbado, cheirado ou sob o efeito de drogas químicas; dificilmente maconha.
Estou defendo a maconha? Deus me livre!
Estou apenas dimensionando-a, e pondo-a em seu próprio lugar; e mais: estou dizendo que se o "barato" dele for maconha; fique agradecida—você não tem idéia do que a cocaína, o esctasy, os ácidos, e um monte de outras porcarias podem fazer num garoto—e, nesse caso, em qualquer pessoa!
Quanto ao mais, repressão gera mais rebeldia. Se você fizer isso, estará oferecendo "platéia"—que é o que ele quer. Como você já leu aqui neste site—e aconselho que você releia uma carta intitulada "Que negócio é esse de mal menor?"--muitas vezes a gente tem que fazer gestão de um mal menor.
O nome disso é sabedoria! E veja que neste mundo caído, na maior parte das vezes, nossas decisões não são entre o bom e o ótimo, mas sim entre o ruim e o péssimo. Nesse caso, enquanto o bom não chega; segure as coisas no nível do ruim; e não deixe que as coisas caminhem para o nível do horrível. Faça isso com sabedoria e prudência. Daqui a um tempo, o bom virá; e terá menos dificuldade de se instalar como bem, caso o caminho esteja aberto.
O que estou dizendo a você é o que digo aos meus amigos, e o que digo a qualquer um; digo isso até na televisão.
Aliás, digo isto há pelo menos uns 25 anos. Não mudei. Portanto, é apenas uma opinião baseada em mim mesmo—desse negócio todo eu acho que sei um pouquinho—, e também falo fundado na observação de milhares de casos; tanto de usuários, quanto de pais de usuários; sem falar que já freqüentei algumas classes do N.A.—e aprendi muito lá! No mais, é nunca perder a calma, e nem entrar no "jogo". Seu filho, ainda que inconscientemente, quer brincar.
O uso de droga quase sempre revela uma certa imaturidade emocional e alguma necessidade de evasão do mundo real. O que pode estar por trás disso não pode ser reduzido a uma equações simples como a que expressei acima.
Mas o melhor remédio é a paz que aplica a sabedoria sem neurose. E, lembre: sobretudo não se pode mostrar cara de desespero.
O desespero apenas "fortalece" o comportamento rebelde. Além disso, se você entra no "jogo", dá inicio ao processo psicológico de dependência e co-dependência. Portanto, muita paz nessa hora!
Confie e viva como você tem vivido. Não seja platéia pro show dele. Seja apenas mãe; e exerça o seu papel sem desespero. Sei que logo tudo voltará ao normal.
Quanto a você: confie! Nele , Caio.