UPzinho
O que é Cyberpunk?
O termo cyberpunk aparece para designar um movimentoliterário no gênero da ficção científica, nos Estados Unidos, unindo altastecnologias e caos urbano, sendo considerado como uma narrativa tipicamentepós-moderna. O termo passou a ser usado também para designar os “ciber-rebeldes”,o underground da informática, com oshackers,crackers, phreakers, cypherpunks, otakus, zippies. Esses seriam os cyberpunks reais. Assim, o termo cyberpunk é, ao mesmo tempo, emblema de umacorrente da ficção-científica e marca dos personagens do submundo dainformática.
Escrito por jovens autores, ogênero de ficção científica que viria a ser chamado cyberpunk, foi se formando aolongo da primeira metade da década de oitenta em fanzines e outras publicações americanas eeuropéias. O movimento, na época ainda sem um nome, tinha seu ponto focal no fanzine Cheap Truth, de autoria doescritor Bruce Sterling. Lançado em 1982, Cheaptruth era um folheto de umapágina, distribuído gratuitamente com textos publicados sem copyright. Os textos erampublicados sob pseudônimos, numa tentativa de minimizar o culto àpersonalidade.
A ficção cyberpunk ambienta-se em um futuro próximo,distópico, no qual a tecnologia foi tomada pelas ruas, se desvirtuou da "one best way" e não resolveu nenhum dos problemassociais que prometia, sendo assim, o contrário da utopia moderna. Para amodernidade, a ciência e a tecnologia seriam os principais fatores de melhoriadas condições de existência da humanidade. Não deu certo. O futurismo datecnocultura moderna transformou-se no presenteísmo da ciberculturapós-moderna. As histórias cyberpunks falavam de indivíduos marginalizadosem ambientes culturais de alta tecnologia e caos urbano, daí a origem do nome,colocando em sinergia cyber,de máquinas cibernéticas: tecnologia de computadores, meios de comunicação demassa, implantes neurais, etc., e punk,da atitude “faça você mesmo” do movimento punk inglês da década de 70 do séculopassado. Freqüentemente estes sistemas tecnológicos se estendiam até os“componentes humanos”, através de implantes mentais, próteses, clonagem, ou coma criação de seres gerados a partir de engenharia genética (replicantes). Estaé a parte cyber da ficção cyberpunk. Todavia, como emqualquer cultura, havia aqueles que viviam como marginais, “on the edge”:criminosos, párias, ativistas, visionários. O foco da narrativa está nessesindivíduos, e em como eles subvertiam o uso as ferramentas tecnológicas criadaspelo “sistema”, para diversos objetivos. Esta é a parte punk da ficção cyberpunk.
Os protagonistas das histórias cyberpunks são anti-heróis quetransitam com implantes (ciborgues) por espaços físicos e informacionais em umcenário sócio-político em que corporações gigantescas dominam todos os camposda sociedade, substituindo até mesmo os governos nacionais. Os protagonistas cyberpunks se deparam com situações ligadas aocotidiano das grandes metrópoles atuais, assoladas pelo caos urbano, o crime, apoluição, a degradação das relações sociais. Mesmo sendo distopias, ashistórias vão além da relação de dualidade entre a “tecnofilia” e a“tecnofobia” que marcou a ficção científica até então. Ocyberpunk é uma ficção, segundo seus autores,reflexo da época contemporânea. Como diz William Gibson, um dos autores maisimportantes do “movimento”, o cyberpunk não está preocupado com monstrosalienígenas ou conquistas intergalácticas, o que ele faz é uma paródia dopresente. Assim, o universo da ficção-científica cyberpunkpõe em conjunção oreino da tecnologia de ponta, da racionalidade dahard science, por umlado, e do subterrâneo, do poder ditatorial de mega-coorporações, deinteligências artificiais, de vírus e do caos urbano, por outro. Tudo se parecemuito com o que estamos vivendo neste começo de século XXI.
O movimento cyberpunk foi saudado por fazer a ponte entredois outros gêneros de ficção científica: a hard science e a newwave. A hard science fez muito sucesso no início nasdécadas de 40 e 50, centrada nas especulações sobre as possibilidadestecnológicas. Entre os nomes mais representativos dessa época, estão: PaulAnderson, Hal Clement e Gregory Benford. Já a newwave é filha do ativismopolítico dos anos 60 e 70. Os autores mais conhecidos são Norman Spinrad,Harlan Ellison, Michael Moorcocke e Samuel R. Delany, que aborda a questão daalienação em um futuro high-tech.Os temas caros aos autorescyberpunks mostrambem a mistura desses dois gêneros de ficção científica. Da hard science herda-se a tecnologia de ponta:implantes corporais (circuitos, órgãos artificiais, drogas, cirurgia plástica,mudança genética, interface cerebral), inteligência artificial, neuroquímica,mundos virtuais, vírus, nanotecnologia. Da newwave, a atitude da contracultura. Outros autores que influenciaram omovimento cyberpunkforamWilliam Burroughs e Thomas Pynchon. Apesar de não escreverem ficção científica,eles capturaram o espírito da época marcada pela trilogia sexo, drogas e rock'n roll. Através dasátira, do humor negro, e do que americanos chamam de streetwise - uma inteligência que se aprende narua e não na escola – criticavam, com insolência, oamerican way of live,e influenciaram o nascimento da contracultura dos anos 60.
A palavra cyberpunk começou a ser usada para a literaturado "movimento" quando Gardner Dozois, editor da Isaac Asimov's Science FictionMagazine, cunhou o termo em 1983, a partir de uma história homônima escritapor Bruce Bethke. Gardner Dozois referia-se a um grupo de escritores americanoscomo Bruce Sterling, Rudi Rucker, Lewis Shiner, John Shirley, Pat Cadigan eWilliam Gibson, cuja produção literária tinha uma série de características emcomum, como vimos acima. Em 1984, William Gibson publicou Neuromancer e Gardner Dozois escreveu um ensaio no The Washington Post, no qualele classificou Gibson, Shirley, Sterling, Shiner, entre outros, com o termo cyberpunk. Uma das primeirasnarrativas a reunir algumas dessas características desse movimento, porém, foio livro True names, deVernor Vinge, publicado em 1981.
Do grupo, aquele que ficou maisconhecido foi William Gibson, em cuja obra Neuromancer,de 1984, aparece pela primeira vez o termo ciberespaço (cyberspace). Olivro ganhou os prêmios mais importantes para a produção literária de ficçãocientífica: o Hugo, o Nebula e o Philip K. Dick. O estilo de Willian Gibson foiinfluenciado também pelo romance policial noir de Raymond Chandler e DashiellHammett. Na ficçãocyberpunk deGibson, o mundo asséptico e sob controle da ficção científica convencionalentra em um cenário mundano, de caos urbano típico das grande metrópolescontemporâneas. Em Neuromancer,Case, o protagonista, é alguém coagido pelo sistema de mega-corporações. Ele,ao lado de Molly, é contratado por um misterioso patrão que oferece, em trocado serviço de invasão a sistemas de computadores, soluções para o seu problemade micro-toxinas implantadas no seu corpo e que irão matá-lo em pouco tempo.Case é assim um “cowboy dociberespaço”, como o descreve Gibson.
Texto extraído : http://www.comciencia.br/reportagens/2004/10/11.shtml