Circula pelo Nordeste e região centro-oeste do país, especialmente no estado de Goiás, ao longo de sua fronteira com Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, uma lenda curiosa que fala do pai-do-mato, criatura estranha, esquiva e pouco conhecida, que teria como atenção maior a proteção dos bichos que habitam a área onde ele tem sua morada, procurando dessa forma evitar que os caçadores os matem. São poucas as pessoas que afirmam já tê-lo visto alguma vez, e por isso a descrição que se tem dele é pobre e desencontrada. Alguns garantem que sua estatura é a de um homem normal, mas outros dizem que é bem mais baixo e que deve passar pouca coisa do metro e meio. Diz-se também que o seu corpo é coberto de pelos, como se fosse um grande macaco, e que suas mãos são idênticas à desses primatas. Outra informação é a de que o chamado pai-do-mato teria uma barbicha bem vistosa, de cor negra, de que o seu nariz seria meio azulado, mas que o restante do corpo não teria diferença alguma se comparado com o de qualquer ser humano..
Essa criatura, segundo se fala, não faz nenhum mal aos humanos, e sua preocupação maior é somente evitar que animais da mata e dos campos sejam mortos por caçadores, seja jogando pedras, seja balançando as moitas ou fazendo qualquer tipo de barulho para que eles fiquem alertados e assim consigam fugir a tempo da morte que os espreita. Segundo as versões que apresentam sobre ele, o pai-do-mato anda sempre acompanhado por um bando de caititus, ou porcos do mato, e sempre que necessário monta no maior deles, desaparecendo em carreira desabalada. Não se tem notícia de que alguém já tenha conseguido aprisionar um desses seres estranhos, mas a voz corrente é de que o umbigo é o ponto fraco da criatura, embora ninguém possa explicar por quê. O pai-do-mato costuma caminhar durante o dia em zona de vegetação mais alta, onde ele possa se esconder se porventura encontrar algum homem por seu caminho. Sua visão e audição devem ser boas, pois como já ficou dito, são raras as pessoas que afirmam ter cruzado com ele alguma vez na vida. Não se tem notícia de onde ou de como dorme, mas acredita-se que seja nas árvores.
Em “Páginas do meu Sertão”, 1930, o escritor Derval de Castro apresenta um estudo sobre o interior do estado de Goiás. Em certo trecho do livro (páginas 70 e 71) ele relata: “Sem que jamais tivesse sido visto, conta a lenda queijeira da zona de Anicuns que o pai-do-mato é um animal de pés de cabrito, à semelhança do deus Pã da mitologia, tendo como este o corpo todo piloso. As mãos assemelham-se às dos quadrúmanos. Diferencia destes, entretanto, por andar como ente humano, com o qual se assemelha na fisionomia. Traz no queixo uma irritante barbinha à Mefistófeles, e a sua cor é escuro-fusca, confundindo-se com a do pelo do suíno preto enlameado. Dizem que anda quase sempre nos bandos de queixadas, cavalgando a maior, e conservando-se sempre à retaguarda. Raramente anda só e raramente aparece ao homem. Quando alguém se lhe atravessa na estrada, não retrocede, e, com indômita coragem, procura dar cabo do obstáculo que se lhe antepõe. É corrente, onde ele tem o seu “habitar”, que arma branca não lhe entra na pele, por mais afiada e pontiaguda que seja, salvante no umbigo, que é nele instantaneamente mortal... A urina dele é azul como anil.”
O pai-do-mato também está presente no folclore nordestino, principalmente em Alagoas e Pernambuco. Naqueles estados se acredita que essa criatura estranha é alta, tem cabelos e unhas grandes, orelhas de cavaco e possui voz tão rouca e forte que quando urra o som desse rugido ecoa estrondosamente pela mata. Dizem que engole gente, e que bala e faca não o matam, a não ser que o atinjam em volta do umbigo. FERNANDO KITZINGER DANNEMANN