Roger Waters pede para Gil e Caetano boicotarem show em Israel, e a dupla se negaDE SÃO PAULO 01/06/2015 02h40 46 mil Mais opçõesPublicidade O músico inglês Roger Waters, ex-baixista e cantor do grupo Pink Floyd, escreveu carta em que pede a Caetano Veloso e Gilberto Gil que não façam show em Tel Aviv. A dupla inicia em julho uma turnê internacional -toca em Israel no dia 28 de julho. O documento, datado de 22 de maio, foi encaminhado aos músicos pelo BDS (sigla para "boicote, desinvestimento e sanções"), um movimento global com estratégias que buscam pressionar Israel pelo fim da ocupação de territórios palestinos. Warren Toda - 6.set.2014/Efe O músico Roger Waters, do Pink Floyd, durante exibição de seu filme, "The Wall", no Festival de TorontoNo texto, Waters explicita sua admiração por Caetano e Gil e pede que eles participem do boicote contra Israel. "Caros Gilberto e Caetano, os aprisionados e os mortos estendem as mãos. Por favor, unam-se a nós cancelando seu show em Israel", escreveu. "De tantas maneiras, vocês são um foco de luz para o resto do mundo." Nos últimos anos, Waters manifestou-se diversas vezes em favor da causa palestina. O show de Caetano e Gil em Israel também gerou protestos nas redes sociais. Foi criada uma página no Facebook, "A Tropicália Não Combina com Apartheid", que já reuniu mais de 10 mil assinaturas em uma petição on-line contra a apresentação dos brasileiros em Israel. As assessorias de Caetano e Gil informaram que o show será mantido e que os artistas não comentarão o caso. LEIA A CARTA NA ÍNTEGRA Caros Caetano e Gilberto, Quando olho para suas fotos, escuto suas músicas, leio a história de suas lutas pessoais e profissionais, lembro de todas as lutas de todos os povos que resistiram a um domínio imperial, militar e colonial através do milênio, que lutaram pelos aprisionados e pelos mortos. Nunca foi fácil, mas sempre foi certo. Em uma de suas músicas, Gil, você menciona o arcebispo Desmond Tutu. Eu não falo português, mas assumo que vocês dois aplaudam a resistência do arcebispo Tutu ao racismo e ao apartheid que acabaram derrubados na África do Sul. Eram dias impetuosos, quando a comunidade mundial de artistas estava lado a lado com seus irmãos e irmãs oprimidos na África. Nós, os músicos, lideramos o levante naquele momento, em apoio a Nelson Mandela, a ANC, ao povo africano oprimido e a todos os aprisionados e mortos. Estamos diante de uma oportunidade igualmente significativa agora. Estamos em um ponto culminante. Aqueles de nós que estamos convencidos que o direito a uma vida humana decente e à autodeterminação política devem ser universais estamos, em consonância com 139 nações da Assembleia Geral da ONU, focados na Palestina. Após o ataque brutal de Israel à população palestina de Gaza, no último verão, a opinião pública, acertadamente, pendeu a favor das vítimas, a favor dos oprimidos e dos sem privilégios, a favor dos aprisionados e mortos. O primeiro-ministro de Israel, Netanyahu, com seu governo de extrema-direita, lembra-me da história da "Nova roupa do imperador"; com certeza nunca houve um gabinete mais exposto em sua calúnia como este. Eles se condenam mais a cada fôlego, a cada discurso racista. "Olha, mamãe, o imperador está nu!" Tive a oportunidade, recentemente, de escrever uma carta a um jovem artista inglês, Robbie Williams; eu compartilhei com ele o destino de quatro jovens palestinos que jogavam futebol numa praia de Gaza, mortos por artilharia israelense. Por que eu traria à tona uma praia e futebol? Por quê? Porque eu amo o Brasil, eu tenho a praia de Ipanema nos olhos da minha mente; eu lembro de shows que fiz em São Paulo, Porto Alegre, Manaus e Rio. Como poderia esquecê-los? Eu tenho uma camiseta de futebol, assinada: "para Roger, de seu fã Pelé". Quando estive aí pela última vez, uma criança inocente tinha acabado de ser morta, arrastada por um carro dirigido por criminosos que escapavam da cena do crime. O remorso nacional era palpável, era todo abrangente, vocês, todos vocês, importavam-se com aquela pobre criança. De tantas maneiras, vocês são um foco de luz para o resto do mundo. Como vocês sabem, artistas internacionais preocupados com direitos humanos na África do Sul do apartheid se recusaram a atravessar a linha de piquete para tocar em Sun City. Naqueles dias, Little Steven, Bruce Springsteen e cinquenta ou mais músicos protestaram contra a opressão cruel e racista dos nativos da África do Sul. Aqueles artistas ajudaram a ganhar aquela batalha, e nós, do movimento não-violento de Boicote, Desinvestimentos e Sanções (BDS) pela liberdade, justiça e igualdade dos palestinos, vamos ganhar esta contra as políticas similarmente racistas e colonialistas do governo de ocupação de Israel. Vamos continuar a pressionar adiante, a favor de direitos iguais para todos os povos da Terra Santa. Do mesmo modo que músicos não iam tocar em Sun City, cada vez mais não vamos tocar em Tel Aviv. Não há lugar hoje no mundo para outro regime racista de apartheid. Quando tudo isso acabar, nós iremos à Terra Santa, cantaremos nossas músicas de amor e solidariedade, olharemos as estrelas através das folhas das oliveiras, sentiremos o cheiro da madeira queimando das fogueiras de nossos anfitriões, estimaremos essa lendária hospitalidade. Mas, até que isso termine, até que todos os povos sejam livres, nós vamos fincar nosso emblema na areia, há uma linha que não cruzaremos, nós não vamos entreter as cortes do rei tirano. Caros Gilberto e Caetano, os aprisionados e os mortos estendem as mãos. Por favor, unam-se a nós cancelando seu show em Israel. http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/06/1636156-carta.shtml Roger Waters volta a pedir que Gil e Caetano cancelem show em Israel; leiaDE SÃO PAULO 10/06/2015 02h20 7,8 mil Mais opçõesPublicidade O músico inglês Roger Waters, ex-baixista e líder do Pink Floyd, escreveu outra carta em que pede a Caetano Veloso e Gilberto Gil que cancelem seu show em Israel, marcado para 28 de julho. "No mês passado eu escrevi para Caetano e Gil e não recebi nenhuma resposta, mas suponho que eles irão cruzar a linha do piquete e tocar em Tel Aviv. Que seja", afirmou Waters, em texto datado de domingo (7). O músico fala de dois jovens baleados em janeiro por forças israelenses. Britta Pedersen/Associated Press Roger Waters em apresentação na Alemanha, em 2013.A carta foi encaminhada à Folha pela organização BDS (sigla para "boicote, desinvestimento e sanções"), um movimento global que busca pressionar Israel pelo fim da ocupação de territórios palestinos, e confirmada pela produção do músico. A BDS promove a campanha "Tropicália Não Combina Com Apartheid", que pede o cancelamento das apresentações dos brasileiros. Um abaixo-assinado organizado pelo grupo no Facebook reunia, até a tarde de terça-feira (9), 12.432 assinaturas. CAUSA Nos últimos anos, Waters manifestou-se diversas vezes em favor da causa palestina e já pediu a Neil Young, Robbie Williams e a Lauryn Hill que também desistissem de suas turnês em Israel. Funcionou no caso de Lauryn Hill, em maio. Procurada pela Folha, a produção de Gilberto Gil e Caetano Veloso afirmou que os cantores não irão se pronunciar sobre o caso e que manterão o show em Israel na data prevista. Leia a carta na íntegra: "Ao Editor, No mês passado eu escrevi para Caetano e Gil e não recebi nenhuma resposta, mas suponho que eles irão cruzar a linha do piquete e tocar em Tel Aviv. Que seja. Eles devem ter razões imperativas que estão guardando para si mesmos. Em minha carta a eles, eu falei sobre futebol, praias, direitos humanos e sonhos. Aqui vai uma história sobre sonhos e futebol. Jawhar Nasser Jawhar, 19, e Adam Abd al-Raouf Halabiya, 17, dois jovens e promissores jogadores de futebol, sonhavam em um dia jogar profissionalmente, talvez até defendendo a camisa do país deles. Em 31 de janeiro, enquanto eles caminhavam para casa, saindo de uma sessão de treinamento no Estádio de Faisal al-Husseini em al-Ram, no centro da Cisjordânia, forças israelenses abriram fogo contra eles sem aviso. Jawhar foi atingido sete vezes em seu pé esquerdo e três vezes no direito. Halabiya foi ferido uma vez em seu pé esquerdo e uma no direito. Médicos no hospital governamental de Ramallah dizem que os dois nunca chutarão uma bola de futebol de novo; na verdade, serão necessários seis meses de tratamento antes que os médicos possam avaliar se eles poderão andar novamente. Estes dois jovens não foram acusados de nenhum delito, e nenhum inquérito foi aberto sobre as ações dos soldados responsáveis por suas lesões incapacitantes. Assim, Caetano e Gil, Jawhar e Halabiya não estarão presentes no show de vocês em Tel Aviv. No entanto, os homens que os balearam estão livres para comparecer, se desejarem. Roger Waters 7 de junho de 2015, Nova Iorque" http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/06/1639993-roger-waters-volta-a-pedir-que-gil-e-caetano-cancelem-show-em-israel-leia.shtml