A droga e seus financiadores
Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira
A violência dos últimos dias tem difundido o pânico pela cidade. Nunca foi tão grande a sensação de medo e insegurança. Os episódios dos últimos dias têm despertado todo tipo de análise, mas ainda não foi debatida a necessidade de uma ampla campanha de mobilização da opinião pública contra o consumo de droga. Todos sabemos que, se a droga não ingressa nas fronteiras do país, não há consumo. O problema é que, por mais que se fale, a droga continua a entrar no Brasil. Temos sido impotentes para impedir sua chegada. Sejamos ao menos competentes para inibir, reprimir e desestimular o consumo. Se há tráfico de drogas, é porque há mercado. Está na hora de uma união entre todas as forças da sociedade para conscientizar o consumidor de que é ele o principal responsável pela escalada da violência.Uma pesquisa nacional sobre consumo de drogas realizada em 1999, a pedido do governo federal, revelou que 19,4% dos brasileiros haviam até então consumido, pelo menos uma vez, maconha, cocaína, solvente ou estimulante do apetite. Cerca de 1% da população podia ser considerada dependente de cocaína. Dois anos depois, em 2001, o Centro Brasileiro de Informações de Drogas (Cebrid) revelava que 25% dos jovens brasileiros usavam ou tinham usado droga. Em torno de 1,5% podiam ser considerados dependentes. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Controle Internacional das Drogas, 11,6% dos brasileiros com mais de 12 anos já usaram drogas. A Unesco também realizou importante estudo, cuja conclusão é que 15% dos adolescentes cariocas começam a se envolver com drogas antes dos 15 anos. Ou seja, é necessário realizar um programa urgente de conscientização, com foco na população mais jovem. A sociedade tem sido muito bem-sucedida em propagar a idéia de que o fumo causa câncer, prejudica o sistema cardiovascular etc. E tem fracassado em transmitir a noção de que a droga mata não apenas seu usuário, mas também milhões de pessoas recrutadas pelo tráfico e aqueles que o combatem. Para consumir a droga em larga escala, é preciso dispor de recursos. As mesmas fontes que financiam a droga e a violência (a ela subjacente) preocupam-se depois com a contratação de seguranças, blindagem de carros e apartamentos, portes de arma etc. O usuário da droga é o mesmo indivíduo que, depois de consumir seu pó, lamenta o estado de violência da sociedade, o risco nas ruas, a insegurança, o medo do que vai acontecer com seus filhos no trajeto de casa para a escola. Esquece — porque é mais fácil assim — que é ele o verdadeiro responsável pela violência. É preciso que o consumidor, principalmente o que não é dependente, o chamado consumidor social, saiba que, ao procurar o prazer momentâneo, contribui para uma grande tragédia. Uma tragédia que inclui ingredientes como corrupção, destruição de famílias, morte. Ou seja, ao tentar aplacar suas frustrações e desânimos, o consumidor aniquila a sociedade. O atual estado de coisas não permite contemporizações, meias-palavras. Há três eixos nítidos de ação. Um deles é um combate tenaz ao crime organizado. É tomar consciência de que se vive hoje em estado de guerra. Não procurar camuflá-lo. Estabelecer uma estratégia nacional. Buscar, talvez, a cooperação de forças internacionais. Fechar as fronteiras do país às drogas. São medidas de curtíssimo prazo. Outro eixo é oferecer ao jovem carente a oportunidade de escolha, concorrer com o tráfico, fazer ver que há uma perspectiva real de inserção no mercado de trabalho formal. O terceiro eixo, muitas vezes negligenciado, é mostrar ao jovem rico ou de classe média, e mesmo aos não tão jovens, o que está por trás da droga. O que ele não vê, mas causa ou propicia ao se tornar consumidor. O importante é impedir que experimente.
EDUARDO EUGENIO GOUVÊA VIEIRA é presidente da Firjan
http://oglobo.globo.com/jornal/rio/141707609.asp
Vale a pena dar uma lida!
Saiu tudo no ''Globo'' de hj...