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China quer substituir o cultivo do algodão pelo cânhamo na indústria têxtil
A China é atualmente a maior exportadora de tecidos e papel de cânhamo do mundo e pretende aumentar ainda mais a sua participação no agronegócio e na indústria têxtil mundial, substituindo parte das lavouras de algodão do país pelo cânhamo industrial com a ajuda do empresário carioca Fábio Bastos, dono da multinacional uruguaia Sediña, especializada na produção e exportação de cânhamo.
Embora a maconha e o cânhamo. sejam classificadas como cannabis, a maconha possui alta concentração de THC, a substância psicoativa. Já o cânhamo possui baixo teor de THC e é de grande utilidade para a indústria na fabricação de roupas, cordas, papéis, tintas, plásticos, alimentos, temperos, xampus e cremes.O cânhamo é cultivado em várias partes do mundo, inclusive na Europa, onde a União Europeia em 1998 o legalizou e autorizou inclusive o subsídio ao linho de cânhamo.
Não existem limitações quanto ao seu cultivo na Europa, sendo apenas necessário informar o Ministério da Agricultura e as autoridades nacionais e locais. Não confunda maconha com cânhamo, apesar de ambas as plantas pertencerem ao mesmo gênero da Cannabis sativa. Neste post anterior escrevi sobre a história e todo o potencial industrial do cânhamo.
O vídeo abaixo mostra a colheita mecanizada do cânhamo na Holanda. As hastes são deixados no chão e depois de um processo de putrefação, elas são embaladas e processadas e podem ser usadas na indústria têxtil ou em materiais plásticos na indústria automobilística.
Fábio Bastos, 35, trabalhou por 20 anos com jornalismo e encontrou no Uruguai a chance de melhorar de vida com a legalização do plantio de maconha no país vizinho. Em 2014 Fábio fundou a Sediña que vende produtos voltados para os apreciadores da maconha, como papel seda, isqueiros e piteiras. Presente em 18 países no mundo todo, como Brasil, Estados Unidos, Alemanha e Índia, a Sediña faturou aproximadamente US$ 2 milhões em 2015, e pretende neste ano aumentar este valor para US$ 5 milhões.
Negócio da China
O sucesso da Sediña nos primeiro anos trouxe para Bastos a oportunidade de trabalhar em conjunto com o China’s Hemp Research Centre, órgão do governo chinês responsável por pesquisar sobre as propriedades e o uso da Cannabis Sativa. Quem acende um cigarro de maconha na China ainda tem grandes chances de ser preso. Ainda assim, a planta é uma oportunidade de produzir matéria prima para a indústria têxtil com uma produtividade maior por hectare do que o algodão.
De acordo com o China’s Hemp Research Centre, 1,3 milhão de hectares de maconha plantada seriam suficientes para fornecer, em cânhamo, material equivalente ao colhido nos mais de 5 milhões de hectares destinados ao algodão – que, caso o plano do governo de plantar Cannabis sativa funcione, teria parte de suas terras substituídas pelo plantio de gêneros alimentícios como soja e trigo.
Hoje, a tonelada do cânhamo está cotada no mercado internacional entre US$ 5 mil e US$ 10 mil, enquanto a do algodão fica em aproximadamente US$ 100 por tonelada. Para Bastos, com o avanço da legalização da maconha pelo mundo, o cânhamo surge como uma boa oportunidade ao agronegócio. Antes de 1800, o cânhamo foi o tecido mais utilizado para vestuário, cordas e lona. Com a facilidade criada pelo descaroçador de algodão e a proibição da cannabis sativa em 1937, o cânhamo foi esquecido. Isso é lamentável, porque é claro que ele é superior ao algodão.
– Em média, um acre de cânhamo pode produzir duas a três vezes mais fibra do que um acre de algodão.
– O cânhamo desintoxica o solo através da remoção de substâncias químicas nocivas e poluentes e enriquece o solo com nitrogênio e oxigênio. Já o algodão exige muito do solo.
– Quase 10% de todos os produtos químicos agrícolas e 25% de inseticidas vêm da indústria do algodão, que acabam indo parar no solo, rios e riachos. O cânhamo pode ser cultivado com muito menos produtos químicos, ou muitas vezes, nenhum.
– Cânhamo precisa de um terço da água que o planto do algodão necessita.
– O cânhamo é de 3 a 8 vezes mais forte do que o algodão (dependendo de como ele é processado). Os produtos têxteis duraram mais tempo.
– O tecido de cânhamo respira muito bem, absorve a umidade, protege a pele dos raios UV e é anti-bacteriano.
“O custo benefício em relação ao algodão é 60% melhor”, conta o brasileiro, que não considera que a maconha recreativa em curto prazo possa seguir o mesmo caminho como uma cultura agrícola de larga escala. “Por envolver também a indústria farmacêutica, a planta com THC mais alto ainda precisa de estudos sobre suas formas de utilização antes de pensarmos em produção industrial. ” A marca de moda americana Hemp Blue investe no cânhamo para fabricar suas coleções de jeans.
Em relação ao processo de legalização, Bastos critica a situação no Brasil, a qual classifica como “hipócrita”. “Muitas autoridades disseminam a desinformação ao considerarem o cânhamo e a maconha recreativa como uma mesma coisa. Mesmo países que proíbem o uso da planta como psicotrópico estão ao menos legalizando a produção da fibra. A cada declaração errada das autoridades estamos andando cinco anos para o passado”.
Quando o Mujica (ex-presidente do Uruguai) liberou a maconha em 2013 Bastos acreditou que o consumo de maconha entre os uruguaios iria aumentar, mas a verdade é que com a legalização nada mudou quanto ao consumo. Entre as folhas verdes escuras das plantações de maconha, Bastos continua seu trabalho a frente da Sediña e se mantém a frente da batalha pela legalização mundial: “Alguns países como o Uruguai estão vinte anos no futuro. É um primeiro passo par um avanço mundial da descriminalização da maconha.”