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Marcha da Maconha pede legalização para uso medicinal e recreativo
Uso do canabidiol para portadores de epilepsia foi uma das pautas do ato. Mesmo com a chuva na capital, ato reuniu grande número de participantes.
Mesmo com muita chuva a Marcha da Maconha no Recife não perdeu fôlego na tarde deste domingo (26). Programado para as 16h20, cerca de duas mil pessoas – segundo organizadores – só iniciaram a caminhada pelas ruas do centro da capital pernambucana uma hora depois do previsto. A marcha deste ano tem como bandeiras principais a defesa da legalização para uso médico, recreativo e do plantio da erva para consumo.
Para a integrante do coletivo Livres, Karla Falcão, a marcha é a culminância do que se luta e se discute ao longo de todo ano. “No Brasil, 60% das pessoas vão presas por tráfico de drogas. Desses, 67% portavam menos de 100 gramas. Ou seja, usuários estão sendo criminalizados. A gente sabe que não existe uma guerra contra o tráfico de drogas, mas sim uma guerra contra pessoas, que, geralmente, são as pessoas mais pobres”, acredita.
Karla vai mais além e defende que a legalização abrirá um mercado, uma nova e legal fonte de renda para agricultores. “A gente vê que a maioria das pessoas que moram no Sertão vivem de programas sociais, mas se a gente legalizar o plantio e a comercialização além do uso a gente abre espaço para que essas pessoas possam trabalhar com algo que já trabalham, mas legalmente”.Em meio a gritos de “legalize já”, era possível ouvir pedidos de “Fora Temer”, em menção ao presidente interino da República, Michel Temer. “Pessoalmente, não acho isso certo porque falar isso é dar a entender que o governo do PT apoia a legalização, mas não apoia. Isso é uma pauta que não cabe nessa marcha”, reclama Karla.
Nem só de sérios discursos era composto o ato. Há quem resolveu extravasar e se fantasiar. Na Praça do Derby, área central do Recife, onde se concentrou o movimento, “Capitão Maconha” e um homem vestido de bárbaro com um enorme cigarro no lugar do porrete alegravam quem enfrentava a chuva. Manifestantes ainda customizavam camisas durante o ato. A marcha seguiu pela Avenida Boa Vista até o Pátio de Santa Cruz, na Boa Vista.
O filho de Elaine da Silva, presidente da Liga Canábica de Pernambuco, faz uso medicinal do canabidiol há dois meses. O menino de 5 anos com problemas neurológicos não sofre mais de ataques epiléticos desde que começou a comer uma pasta da maconha misturada com iogurte. É o que garante a mãe ao dizer que mais quatro crianças fazem uso da alternativa no estado.“As pessoas têm muito preconceito, nos olham com outros olhos. Pensam que a maconha é uma droga com os mesmos efeitos do álcool ou cigarro. Eu estou aqui enfrentando muito preconceito para defender o uso e o plantio, mas vale a pena ser olhada com outros olhos quando é a saúde dos nossos filhos em questão”, completa.
Todo molhado de chuva, o carioca Fernando Bezerra, 32 anos, resistia bravamente ao temporal que não cessava. Ele veio ao Recife para participar do primeiro Encontro Nacional de Coletivos e Ativistas Antiproibicionistas (ENCAA), realizado na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e que durou três dias. “Vários estados participaram, tinha gente de todo Brasil. Não vou deixar essa chuva acabar com o que estamos vendo como o resultado de tudo que conversamos e defendemos nesses dias”.