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Eu fumo (época Edição 183 19/11/2001)


jahgrower

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  • Usuário Growroom

Eu fumo

Empresários, médicos, advogados, profissionais e artistas assumem o uso de maconha

Beto Lago, de 32 anos, empresário

Há quatro anos, fumo baseado misturado com tabaco normal. Comando o Mercado Mundo MIX em 14 cidades – um negócio que dá 3.500 empregos indiretos por mês –, coordeno uma revista, faço projetos de marketing. É uma rotina estafante e preciso de algo que me relaxe. Não bebo. A maconha me dá tranqüilidade. Fumo na frente da minha mãe, que já entende que não é algo do outro mundo.

Pedro Aguiar Angeli, de 21 anos, cartunista e músico

Experimentei aos 11 anos, com um primo. Quando meus pais souberam, levei um sermão. Achei bom, é importante ter alguém para deixar a gente ciente de que há perigo. E o grande perigo é o exagero. Fumei apenas uma vez com meu pai, na casa de um amigo dele. Foi estranho. Imagine todo mundo fumando numa casa, é desordem, é desrespeito. Não acho que a maconha deva ser totalmente legalizada, mas descriminalizada. Maconha é apenas algo para se sentir bem.

Angeli, de 45 anos, cartunista

Fumo desde os 12 anos e acho que os meninos de hoje que fumam devem abrir para os pais, mesmo que a reação seja contrária. É mais fácil lidar com a verdade. Com meu pai foi assim. Ele ainda acha que é coisa do diabo, mas quando descobriu soube que eu tinha cacife para entrar e sair. Com meus filhos é tranqüilo. Converso com eles, conto histórias de amigos que se deram mal. Eu nunca quis parar, só quis me educar para usar de maneira limpa e prazerosa. Maconha é apenas para relaxar.

A erva maldita está se transformando em erva de charme. Como ocorre com tudo o que se tem por hábito catalogar no campo dos costumes, trata-se de uma daquelas mudanças que têm explicação difícil e acontecem de modo gradual, até que saltam diante dos olhos com a força da luz do sol. Mas basta olhar ao redor para perceber que, de uns tempos para cá, o uso da maconha vem saindo da cortina de fumaça por onde costumava se mover. O baseado – ou beck, ralf, mingote, jererê, conforme se chama por região do país ou mesmo geração – está na boca do povo. Na televisão, é zapear pelos canais para encontrar referências ou debates sobre o tema em foros tão distintos quanto o programa da loura Adriane Galisteu, documentários de TV a cabo, canais segmentados como MTV ou quadros do Fantástico. No cinema, filmes como o brasileiro Bicho de 7 Cabeças ou o inglês O Barato de Grace ajudam a acender, pelo país afora, a polêmica que ronda o assunto. Nas bancas, revistas científicas, como Galileu, ou focadas no público jovem, como Trip, esgotam a tiragem ao dedicar páginas à discussão médica e jurídica que envolve a droga. Enquanto isso, eventos estudantis como o 1o Cannabis Cup Brasil, realizado em julho em pleno campus da Universidade Católica de Brasília, reúnem adolescentes para a escolha do melhor e mais criativo cigarro de maconha do país – e já se anuncia a segunda edição do concurso para julho do ano que vem, em Natal. O tema, enfim, está na roda.

No campo institucional o assunto também provoca polvorosa. Sob iniciativa de duas estrelas do PT, chegam ao Brasil políticas liberalizantes adotadas em países como a Inglaterra e o Canadá de retirar o uso da maconha da esfera das liberdades individuais e tratá-lo como questão de saúde e segurança pública. A prefeitura de São Paulo – comandada por Marta Suplicy, que já admitiu ter fumado maconha na juventude – fincou posição sobre o tema há três meses. O governo municipal é oficialmente a favor da descriminalização do uso recreativo da droga – e também é a favor do uso medicinal. “Não há dano maior ao usuário eventual de droga do que ser colocado em uma cela brasileira”, argumenta o sanitarista Fábio Mesquita, coordenador do programa de DST/Aids da Secretaria Municipal da Saúde. Na prática, a iniciativa não resulta em efeitos imediatos – mas, de olho no eleitorado jovem, normalmente identificado com a legenda, a prefeitura de Marta quer colocar o assunto em pauta.

O governo do Rio Grande do Sul atua na mesma linha, mas em outras frentes. Os PMs gaúchos têm autorização para fazer o termo circunstanciado, um relatório que substitui o boletim de ocorrência, que sempre é preparado nas delegacias. A partir do dia 13 de janeiro, quando entrará em vigor a Lei no 10.259, que cria juizados especiais da Justiça Federal, o usuário gaúcho nem sequer será levado para a delegacia, onde ficaria preso até pagar fiança e deixaria de ser primário. Apenas vai assinar, diante dos policiais militares, o tal relato da apreensão e se comprometer a aparecer diante de um juiz três dias depois para receber penas alternativas, como trabalhos voluntários. A mudança não significa uma postura mais liberal. Mas o debate sobre o assunto chegou aos corredores do Supremo Tribunal Federal. Por ali, já há quem veja uma mudança no tratamento dispensado pelos magistrados aos usuários. “É uma tendência que se difunde cada vez mais diante da iniqüidade de tratar o problema do uso de drogas leves com medidas repressivas”, acredita o ministro Sepúlveda Pertence.

Patrícia Gomes, de 42 anos, dona da grife Armazen Brasil

O baseado é meu chá das 5, para o cair da tarde. Fumo desde os 18 anos, nunca parei de trabalhar e jamais escondi isso de meus filhos – um de 23 anos e outro de 17. Ambos não gostam de fumar. Eles nunca me viram chacoalhando um copo de bebida com gelo, caída no sofá. Acordo todos os dias às 6h30, caminho e sou uma mulher realizada como mãe e na profissão. É preciso acabar com essa idéia de que todo mundo que fuma é sujo, bandido e leniente.

Otto Maximiliano, de 33 anos, músico

Aos 15 anos fumei meu primeiro cigarro de maconha nas escadarias da Igreja do Alto da Sé, em Olinda. Cheguei em casa e disse para minha mãe. Ela nunca reprimiu, por isso jamais me senti um viciado, um bandido. Já fumei mais. Agora uso a maconha para coroar momentos de felicidade. Mas também gosto de fumar com meu sogro, enquanto conversamos sobre a vida. Minha mulher não fuma. Espero que para meu filho a maconha não seja uma droga proibida.

bJairo Jordão Arcoverde, de 61 anos, artista plástico, sogro de Otto

Comecei a fumar no final da década de 50. Naquele tempo, era coisa de marginal. Mais tarde entrou na moda. Nunca parei de fumar. Fumo todos os dias, em geral em meu ateliê, antes de pintar. Tenho cinco filhos, que sabem que fumo. Mas eu não os incentivo, assim como espero que não fumem cigarro e não bebam em excesso. Jamais tive problemas de saúde por isso, mas sei que maconha pode viciar. Só acredito que cabe a cada um decidir se quer usar.

Conversas do gênero nos sisudos corredores do STF são importantes porque podem, aos poucos, invadir as delegacias. É nelas que, no fim das contas, se decide o destino dos que são encontrados com a erva. Cabe aos delegados decidir se enquadram alguém como traficante ou usuário. ÉPOCA falou com cinco titulares de distritos movimentados do Estado de São Paulo, três do Recife, dois de Salvador e dois de Curitiba. Entre eles, os critérios usados para tipificar os crimes são variáveis. Dependem do histórico da pessoa presa, da circunstância em que ela foi pega – e até mesmo dos humores gerais. Ou seja: os usuários acabam reféns das decisões dos delegados, que nem sempre primam pelo bom senso e muitas vezes são notórios pelos baixos instintos. Há alguns meses, por exemplo, uma adolescente paulista de 18 anos foi levada para uma delegacia por estar com um cigarro de maconha na bolsa. Enquanto esperava o pagamento da fiança, foi deixada em uma cela. Ali, viu pela primeira vez uma pedra de crack – oferecida por outro preso. Em toda família de classe média em que um adolescente foi apanhado com cigarro de maconha já se viveu pelo menos uma situação vexaminosa – a do achaque para liberar o garoto e sumir com o boletim de ocorrência. Casos desse tipo ocorrem aos montes com jovens pobres. Um deles, cantor de rap do Capão Redondo, cinturão de violência na Zona Sul de São Paulo, foi preso aos 19 anos, também por porte. Ficou quatro dias na cadeia, onde conheceu ladrões da região. Dois meses depois, estava roubando computadores na Zona Oeste da cidade.

A coleção de iniciativas recentes – à luz da lei e da administração pública – é ancorada em uma evidência que se pode até definir como epidemiológica: nunca se fumou tanta maconha. Relatório da ONU estima que há pelo menos 144 milhões de usuários da Cannabis sativa ao redor do mundo. No Brasil, a organização aponta um crescimento do consumo de 2,8% para 7,6%, no período de 1987 a 1997, apenas entre jovens de 10 – isso mesmo, 10 – a 19 anos. A pesquisa, divulgada há um ano, foi realizada em dez capitais brasileiras. É um daqueles campos em que não é preciso apelar para tabulações numéricas para perceber o aumento do uso da droga. A novidade é que, aos poucos, se percebe também que os usuários estão dispostos a falar sobre suas preferências. Se há alguma notícia boa em relação às drogas, essa é uma delas.

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  • Usuário Growroom

ÉPOCA entrevistou 14 usuários de maconha – famosos e anônimos – que se dispuseram a sair das sombras que habitualmente envolvem o tema. Eles assumiram fumar, não se esconderam atrás de iniciais e toparam posar para fotos. Essa atitude registra um avanço em relação a meses atrás, quando reportagens do gênero traziam personagens não-identificados, envoltos em luzes escuras. Falaram formadores de opinião entre o público jovem, como Soninha, ex-VJ da MTV que hoje comanda o programa de debates RG, na TV Cultura. Também fizeram seu relato artistas como o cantor pernambucano Otto – que costuma fumar ao lado do sogro, o artista plástico Jairo Jordão Arcoverde, de 61 anos. O cartunista Angeli – autor das tirinhas Wood e Stock, uma dupla de dinossauros hippies que não percebeu a passagem dos anos e queima seus dias fumando cigarros de erva-doce – conta que fuma, mas ficou preocupado quando soube que o filho de 21 anos também era adepto da Cannabis. Falaram ainda pessoas como o empresário e editor Beto Lago, o paulista que comanda o Mercado Mundo Mix – uma feira de moda que chega a 14 cidades, gera 3.500 empregos diretos e 150 indiretos por mês e lançou grifes que já se consolidam no mercado. Ele diz que fuma para fugir do estresse e se diverte ao lembrar que as sobrinhas de 15 e 16 anos não fumam, por medo de engordar com a larica, a fome que vem depois do uso da maconha. Assumiram suas histórias, enfim, advogados, como Rogério Rocco – ex-subsecretário de Meio Ambiente de Niterói e autor de livros como O Que É Legalização das Drogas –, e médicos, como o neurologista Dominique Lurton, ele próprio estudioso dos efeitos da droga.

Todos eles são pessoas produtivas, bem-sucedidas, que escaparam do precipício onde sempre é possível cair pelo uso da maconha (leia a reportagem seguinte). Alguns enfrentaram brigas familiares provocadas pela descoberta de que eram usuários. Outros tiveram problemas com a polícia. Em seu relato, todos dizem apreciar maconha como quem toma uma cerveja. Contam pequenas histórias que dão a impressão de que freqüentam um ambiente em que a erva é tão natural quanto o uísque. E, no geral, dão conotações políticas a seus depoimentos porque acham que o tema deve sair da clandestinidade. Mas representam um segundo momento do debate sobre a maconha.

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  • Usuário Growroom

A maconha é a personagem principal

2700 a.C.

Na China, a Cannabis sativa era usada no tratamento de insônia e asma

1431

Joana D'Arc morre na fogueira acusada de "bruxaria'' e de usar várias ervas, entre elas a maconha, para "ouvir vozes''

1937

O Departamento de Tesouro dos EUA taxa a "marijuana'' e abre caminho para a proibição da droga no país

1940

Henry Ford produz um carro com fibra da Cannabis e movido a óleo da semente da planta

1948

Carta de Princípios da ONU classifica a droga como inimigo a ser combatido e proíbe seu consumo nos países que integram a organização

1964

O pesquisador Raphael Mechoulan isola o THC. A substância da erva serve de princípio ativo aos remédios indicados para quimioterapia

1969

Nos Estados Unidos, o Festival de Woodstock celebra o rock,

a cultura hippie e a maconha

Agosto de 1976

Rita Lee é presa e passa um ano em prisão domiciliar por posse de maconha. Ela só sai de casa para fazer shows

Outubro de 1976

Entra em vigor no Brasil a lei antitóxicos (no 6.368), que estabelece as penas para tráfico e porte de drogas. No mesmo ano, a Holanda libera o uso de drogas leves

1984

O então senador Fernando Henrique diz que tragou um baseado, mas não gostou: "Achei horrível''

1987

No fim do ano, o navio Solana Star derrama na costa do Brasil latas com 22 toneladas de maconha. Elas foram parar nas praias. Foi o "verão da lata''

1992

O candidato à Presidência dos EUA, o democrata Bill Clinton, ao referir-se à maconha: "Fumei, mas não traguei''

1997

Os integrantes da banda Planet Hemp, liderados por Marcelo D2, passam 12 dias na cadeia acusados de apologia à maconha

2001

O Canadá autoriza o uso medicinal da maconha. Doentes terminais ou portadores de câncer e Aids podem fumar e até cultivar a planta

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  • Usuário Growroom

Mundo afora

O mapa do liberalismo controlado

Canadá

O uso medicinal é permitido desde agosto de 2001. Foi o primeiro país a legalizar a droga para fins terapêuticos

Bélgica

O uso terapêutico é autorizado. O consumo para fins recreativos é tolerado desde janeiro de 2001

Alemanha

Consumir maconha é permitido, mas o tráfico é proibido

Portugal

Desde julho de 2001, os usuários são punidos com multa ou tratamento médico

Estados Unidos

O uso medicinal é permitido em nove Estados. O consumo recreativo é proibido

Holanda

Desde 1976, é permitida a venda de maconha em coffee shops

Japão

Permite o cultivo de cânhamo

A matéria é mais extensa e bem interessante sem alguem quiser ve-la na integra

Revista Epoca

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  • Usuário Growroom

Legal a matéria, veja como os tabus sobre a maconha estão sendo quebrados!

Tá todo mundo falando disso agora, o mundo quer a legalização e o fim do preconceito! =)

Agora que algumas pessoas da mída estão se abrindo e adimitindo o uso, ainda melhor, mais força pra nossa cannabis!

Tomara que isso continue, que exponham o assunto cada vez mais, só com informação podemos combater o preconceito! =)

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  • Usuário Growroom

nossa, rodei em casa faz umas 2 semanas... andei procurando umas reportagens tipo essa para mostrar aos coroas (que por sinal, estão psicos).. mas não achei nada tão interessante... vou imprimir amanhã mesmo e mostrar a eles.

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  • Usuário Growroom

Há quatro anos, fumo baseado misturado com tabaco normal. Comando o Mercado Mundo MIX em 14 cidades – um negócio que dá 3.500 empregos indiretos por mês

Afff o cara quebrou, quero ver alguem falar que maconheiro é burro e sem motivação depois de ler essa materia.

Estou tão feliz que vou abrir uma ecessão e carburar uma vela hoje a noite :D

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  • Usuário Growroom

....No Brasil, a droga também foi muito utilizada, no século passado, como medicamento para vários males, mas devido ao crescente número de usuários que passaram a consumir a droga abusivamente e para fins não medicinais, ela foi proibida. Em todo o Ocidente a droga foi proibida na década de 40.

Caralho, porque eu não nasci a cem anos atrás!!!!!!!

Um abraço

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