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Fonte: http://super.abril.com.br/blogs/mundo-novo/2013/06/03/o-problema-e-a-jaula/

O problema é a jaula

Denis Russo Burgierman 3 de junho de 2013

As leis que temos hoje proibindo as drogas foram em grande parte inspiradas por pesquisas científicas realizadas nos Estados Unidos na década de 1960 com ratinhos presos em gaiolas. Cada ratinho ficava trancado sozinho em uma jaula pequena, com um canudo preso a uma veia. A cada vez que o bicho puxava uma alavanca, uma dose de morfina, heroína ou cocaína era despejada em sua corrente sanguínea. Os resultados eram assustadores: a maioria dos animais se afundava nas drogas. Alguns passavam o dia inteiro puxando as alavancas e ficavam tão viciados que se esqueciam de comer e beber e acabavam morrendo de fome. Conclusão: drogas são substâncias mortíferas, que causam dependência severa e matam.

Bom, se ratinhos saudáveis transformam-se em zumbis com uma dose, o mesmo deve acontecer com humanos, certo? Melhor então proibir tudo e punir severamente os infratores, para evitar que meninos e meninas tenham o mesmo destino desses pobres roedores. É essa a lógica da política de Guerra às Drogas.

Aí, no final dos anos 70, um psicólogo canadense chamado Bruce Alexander teve uma ideia. Ele resolveu repetir o experimento, mas, em vez de trancar as cobaias numa solitária, construiu um parque de diversões para os bichinhos – o Rat Park. Tratava-se de uma área enorme, de quase 100 metros quadrados, cheia de brinquedos, túneis, perfumes, cores e, o mais importante, habitada por 16 ratinhos albinos. Ratos brancos, como humanos, são seres sociais – adoram brincar uns com os outros. Eles são muito mais felizes em grupo. Outros 16 ratinhos tiveram sorte pior – foram trancados nas jaulas tradicionais, sem companhia nem distração. Ambos os grupos tinham acesso livre a dois bebedores – um jorrando água e o outro, morfina.

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O Rat Park

Os ratos engaiolados fizeram o que se esperava deles: drogaram-se até morrer. Mas os do Rat Park não. A maioria deles ignorou a morfina. Podendo escolher entre morfina e água, os ratinhos do parque no geral preferiam água. Mesmo quando os ratos do Rat Park eram forçados a consumir morfina até virarem dependentes, eles tendiam a largar o hábito assim que podiam. O consumo da droga entre eles foi 19 vezes menor do que entre os ratinhos enjaulados.

Ou seja, o problema não é a droga: é a jaula. O que é irônico considerando que nossa política de drogas tem como premissa justamente enjaular na cadeia os dependentes.

Hoje entende-se bem como funciona a química da dependência no cérebro. O centro da questão é um químico chamado dopamina, o principal neurotransmissor do nosso sistema de recompensa. Quando animais sociais ficam isolados e sem estímulos, seus cérebros secam de dopamina. Resultado: um apetite enorme e insaciável pela substância. Drogas – todas elas – têm o poder de aumentar os níveis de dopamina no cérebro, aliviando essa fissura. O nome disso é dependência.

Ou seja, não é a droga que causa dependência – é a combinação da droga com uma predisposição. E o único jeito de curar dependência é curar essa predisposição: dando a esse sujeito uma vida melhor, como Bruce Alexander fez com os ratinhos do Rat Park.

Hoje a maioria dos países desenvolvidos entendeu isso e criou políticas públicas de cuidado e acolhimento para resolver o problema da droga. O melhor exemplo disso é Portugal, que há apenas dez anos vivia uma emergência pública com um surto de dependência em heroína, e hoje é considerado inspiração para o mundo em termos de políticas de drogas bem sucedidas. O que Portugal fez foi abrir consultórios nas cracolândias de lá, com um atendimento de boa qualidade, que trata os dependentes com respeito, tenta enriquecer suas vidas, estimula o convívio social, incentiva-os a buscar ajuda, oferece a eles ambientes tranquilos, acolhedores. Os resultados foram espetaculares.

Mas, enquanto o mundo muda em resposta às novas descobertas científicas, o Brasil continua endurecendo suas leis. Em vez de buscar inspiração em Portugal, copia experiências das ditaduras da Ásia, com cadeia, imposição de tratamento, até mesmo conversão forçada a certas igrejas, que recebem dinheiro público para “tratar” drogados usando a Bíblia. Um político paulista disse que sua estratégia para resolver o problema na cracolândia era causar “dor e sofrimento” para expulsar os dependentes de lá – ou seja, aumentar o estresse. É justamente a receita para matar ratinhos. E para aumentar o consumo de drogas.

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Clique na imagem para ler uma história em quadrinhos que conta a história do Rat Park (em inglês)

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  • Usuário Growroom
é o cúmulo do behaviorismo, usar ratos pra basear políticas públicas... até Pavlov deve ter ser revirado com essa!
Sobre a HQ, Stuart McMillen é um quadrinista australiano. Talvez vocês já o conheçam por seu trabalho sobre a Guerra às Drogas, que tem uma versão em português, no link a seguir:
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  • Usuário Growroom

é o cúmulo do behaviorismo, usar ratos pra basear políticas públicas... até Pavlov deve ter ser revirado com essa!
Sobre a HQ, Stuart McMillen é um quadrinista australiano. Talvez vocês já o conheçam por seu trabalho sobre a Guerra às Drogas, que tem uma versão em português, no link a seguir:

E se quiserem mesmo basear as políticas públicas em experimentos com ratos, façam direito! Mesmo dentro da própria lógica reducionista (que não é toda de se jogar fora) o proibicionismo puro e simples não pára em pé.

O Rat Park fornece (ainda que com um cheirinho de behaviorismo) um belíssimo exemplo de como mais e mais evidências científicas questionam fortemente o proibicionismo.

E aí Laranjeiras, você não se baseia em evidências? Ou só quando te convêm?

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  • Usuário Growroom

Esse artigo só podia ser do Denis.

E pensar que a Super e a Veja são separadas somente por alguns andares de um mesmo predio, além da enorme qualidade da linha editorial.

são iguais

a propria veja ja publicou uma reportagem de capa com um titulo semelhante a esse : maconha: não ha razão para proibir

a superinteressante é aguada e medrosa como toda revistinha de banheiro e consultorio de dentista

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  • Usuário Growroom

Rarara!

Isso mesmo, Cerveza...

Na época que o Denis mandou lá até eu curtia, depois quando ele foi pro MIT, a Abril fudeu totalmente a parada!

Mas o Denis voltou!

A super vive oscilando, mesmo com Denis mas ainda faz algumas materias excelentes.

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são iguais

a propria veja ja publicou uma reportagem de capa com um titulo semelhante a esse : maconha: não ha razão para proibir

a superinteressante é aguada e medrosa como toda revistinha de banheiro e consultorio de dentista

aqui na clínica tem superinteressante na sala de espera kkkkkkkkk

e veja também, só que não! ;)

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