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  • Usuário Growroom

No início de 2015, o perito criminal federal gaúcho Rafael Ortiz tinha dois objetivos: analisar sementes de maconha e determinar qual a quantidade de droga que pode ser produzida a partir de uma planta. Ortiz só tinha uma maneira de descobrir: cultivar a própria maconha em uma estufa montada dentro da sede da Polícia Federal gaúcha, em Porto Alegre.

O experimento era necessário por vários motivos. Em 2014, a PF havia registrado 2192 laudos de apreensões de sementes enviadas ao Brasil por correio. Quatro anos antes, foram 34. Os números sacramentavam o que qualquer maconheiro já sabia — a cultura grower estava ganhando força no Brasil.

Como a droga em potencial chegava pelo aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo, a bucha da análise técnica ficava toda com a perícia paulista, que acabou não dando conta. Decidiu-se então que parte das evidências seria encaminhada para as divisões regionais onde ficavam os Estados dos compradores, entre eles o Rio Grande do Sul.

O RS, contudo, não estava capacitado para fazer a análise técnica da semente. Era preciso que Ortiz se tornasse um grower. “Nós não tínhamos esse conhecimento para fazer as análises", ele conta ao Motherboard. "Falei com meu chefe da época e propus fazer uma estufa e plantar essas sementes por um ou dois meses e ver no que dá.” Durou mais — cerca de 10 meses, com o cultivo de cerca de 70 amostras. O perito não à margem da lei, mas dentro dela. Talvez o sonho de muitos maconheiros mundo afora.

Não era um projeto secreto: a experiência foi para as páginas da revista da perícia federal e usada como base para um artigo científico publicado na revista acadêmica Science and Justice. Nem não era algo inédito no prédio da PF: em 2006, a perita Daniele Zago Souza comandou um experimento no qual cultivou 10 pés de maconha para poder criar um roteiro ilustrado de identificação morfológica da Cannabis sativa.

Uma vez aprovado pelo chefe, a equipe de peritos tinha em mãos o que é mais difícil de se conseguir legalmente: a maconha. A lei proíbe a compra de sementes para pesquisa científica ou para estudos de inteligência policial. A única maneira que existe, portanto, era usar o material apreendido. Pouco a pouco, a notícia se espalhou pelos corredores do prédio da PF e o inusitado virou piada: “O pessoal falava muito ‘ah, vocês tão com informação privilegiada de que vão liberar a maconha no Brasil e já estão desenvolvendo tecnologia’”.

Pouco a pouco, o perito Ortiz adquiriu as mesmas habilidades de um grower. Coletou informações na internet, pesquisou a bibliografia, usou o trabalho de Souza e técnicas de botânica aprendidas na infância. “É tentativa e erro, tu vais montando experiências e obtendo quais são as melhores condições para se fazer o cultivo. Germinei as sementes no algodão, como a gente fazia com feijão na 1ª ou 2ª série”, conta. No artigo, porém, o material usado é descrito como papel-filtro.

“Nós seguimos o que é a lei. Ponto. Nossa função aqui é identificar a droga e fornecer natureza e quantidade”

Algumas sementes usadas eram de marcas conhecidas no mercado indoor como Northern Light, Special Kush, Special Queen #1, Royal Bluematic, Dutch Passion, entre outras. Consultei um especialista nesse tipo de cultivo, cujo nome nome não será mencionado por motivos de segurança, para saber o valor do produto — em média as sementes importadas custam 10 euros.

Tal como descrito pela perita Souza, o início do experimento teve três passos: 1. Quebra inicial da dormência deixando-se as sementes em água, no escuro durante à noite, a 30ºC; 2. Germinação em papel-filtro umedecido, no escuro, por 24 horas a 30°C; 3. Plantio em solos de constituição diferentes com fertilizante, húmus de minhoca e areia.

A estufa caseira de Ortiz tinha 0,25m², paredes internas cobertas com papel laminado, luz branca artificial e um sistema de exaustão. Como a maconha gosta de muita água e luz, as plantas eram regadas diariamente e só ficavam no escuro por 6 horas diárias sob uma temperatura constante de 30ºC e umidade relativa do ar em 50%. As plantas eram vigiadas por câmeras e o acesso era restrito à equipe. Logo os brotos começaram a se desenvolver, e a equipe começou a fazer colheitas com plantas de 4,5 semanas.
 

Mandei o estudo publicado na revista da perícia para especialista anônimo e pedi para que analisasse o experimento da polícia. O grower profissional respondeu por mensagem de texto: “É bem tosco, mas não vou contestar não. Está tudo certíssimo, não mudaria absolutamente nada. Acho que eles estudaram bem para fazer”.

O comentário se referia aos resultados do experimento cujo propósito era estimar, na média, quanta maconha produz um pé. Como a lei aplica penas distintas para o usuário e para o traficante, esse era um ponto importante do estudo, porque fornecia critérios objetivos na hora do juiz decidir a pena. Cinco das amostras tiveram um período de crescimento de 12 semanas e chegaram a apresentar inflorescências — os buds, na gíria dos conhecedores.

“O objetivo não era de maximizar a quantidade a ser obtida. A gente queria uma planta média, só para ter uma ideia de como elas se desenvolviam. As plantas de três meses chegavam a pesar 45 gramas. Depois, pesávamos a planta toda. O único tratamento foi separar os caules e as folhas, porque a literatura diz que nas folhas e inflorescências têm mais THC”, disse Ortiz.

 

Em seguida, a planta ficava secando por duas semanas. A massa decaia até chegar a 21,05% da massa fresca inicial — o que dá em torno de 12 gramas. Com a estufa desativada, as amostras foram catalogadas e armazenadas como contraprova, caso o acusado queira recorrer de uma sentença. Consciente da polêmica em torno do tema e das críticas ao seu trabalho, o perito gaúcho defendeu a pesquisa: “Nós seguimos o que é a lei. Ponto. Nossa função aqui é identificar a droga e fornecer natureza e quantidade”.

A plantação acabou, mas os efeitos do estudo, não. O trabalho, que também traçou um perfil químico da canabis indoor, acabou por ficar inscrito em um projeto maior, de rastreamento da origem das apreensões. Isso porque a erva consumida no Brasil vem ou da região do Vale do São Francisco, conhecido como polígono da maconha, ou do Paraguai e as diferenças químicas das plantas das duas regiões já haviam sido descritas. Faltava uma descrição do perfil que ganhou força nos últimos anos, o cultivo em pequenas estufas. Agora não falta mais.

 

 

https://motherboard.vice.com/pt_br/read/o-experimento-que-levou-a-polcia-federal-gaucha-a-plantar-maconha-indoor

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  • Usuário Growroom

Muito interesante, pessoal. Inclusive tem as revistas que a PF postou as análises no link que postei:

 

1) Roteiro ilustrado de identificação morfológica da Cannabis sativa feito em 2006: http://www.apcf.org.br/Portals/0/revistaAPCF/24.pdf


 2) Revista da perícia federal com o experimento do perito da PF em 2015 :  http://www.apcf.org.br/Portals/0/Agencia APCF/revista_digital_apcf_35/revista_digital_apcf_35/content/apcf_35_web.pdf

3)  Artigo científico publicado na revista acadêmica Science and Justice em 2015: http://www.scienceandjusticejournal.com/article/S1355-0306(15)00111-2/pdf

Inclusive no artigo tem fotos das sementes apreendidas e outras informações que podem nos ajudar a importar sementes de maneira mais segura e efetiva. O artigo cita apreensões em Guarulhos, sendo assim todas essas apreensões citadas foram feitas com fretes expressos (os fretes mais caros, com courrier etc) pois os fretes simples e abaixo de 2 kg vão para Curitiba, não para Guarulhos. Sem contar que os envelopes são visivelmente de sementes de maconha, alguns ate mesmo com o simbolo da folha de maconha.

 

 

Fotos:

maconha.PNG

maconha2.PNG

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  • Usuário Growroom

Outra noticia com video do perito e das plantações:

 

Para testes, Polícia Federal planta mais de 70 pés de maconha em estufa

Experimento foi realizado durante um ano e meio nas dependências da superintendência regional do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre

 

O aumento no número de solicitações de perícias em sementes de cannabis sativa importadas apreendidas nos últimos anos no Brasil e a dificuldade em estimar a quantidade de maconha que pode ser produzida para consumo a partir do cultivo "indoor" da planta levaram a Polícia Federal a desenvolver uma pesquisa que a corporação definiu como inédita. Nas dependências da superintendência regional do Rio Grande do Sul, durante um ano e meio, a instituição plantou 73 pés de maconha em uma estufa improvisada no laboratório do setor técnico-científico.
 
No nono andar do prédio da Polícia Federal, na Avenida Ipiranga, em Porto Alegre, os peritos germinaram sementes apreendidas de diferentes marcas e variedades entre o início de 2014 e setembro de 2015. As plantas foram cultivadas em uma pequena estrutura de madeira, de dois andares, com as paredes internas forradas com papel laminado, iluminação artificial e sistema de exaustão. Os peritos usaram temperatura e umidade relativa controladas e intervalos de luz e escuridão total. O ambiente tinha acesso restrito e câmeras de segurança.

As plantas foram mantidas na estufa por períodos que variaram de quatro a 12 semanas. A maioria, 19 pés de maconha, foi cultivada por 4,5 semanas. Dezesseis ficaram seis semanas e somente cinco plantas completaram todo o período de cultivo.

 

O perito criminal da Polícia Federal Rafael Ortiz, um dos autores da pesquisa, explica que entre os objetivos do estudo estava a busca de apoio científico para rastrear a origem de futuras apreensões no país.

— O tráfico de sementes de maconha é um crime relativamente novo no Brasil. A partir de 2010, houve uma explosão de importação irregular, de contrabando. Então, começamos a pensar em como ter alguma ferramenta para saber a origem dessa maconha — diz o perito.

O número de laudos produzidos pela Polícia Federal teve um salto significativo: passou de 34 laudos, em 2010, para 2.192, em 2014, o que corresponde a 6.347% de aumento. Conforme Ortiz, a alta é um reflexo de uma cultura que vem ganhando força no país. Usuários compram sementes pela internet e plantam em casa para ter um "produto melhor", sem "financiar o tráfico".

— No momento em que você compra uma planta proscrita, está agindo como criminoso. Essa ideia de que não está financiando o tráfico comprando sementes é errada. Você está agindo como um criminoso. Está alimentando essa cadeia — opina Ortiz.

 

A polícia, por sua vez, precisa examinar as sementes para detectar a presença de THC (tetrahidrocanabinol), princípio ativo da maconha, para confirmar o crime de tráfico. Em geral, isso só acontece duas semanas após a germinação da semente, observa o perito. Isso explica o aumento no número de laudos produzidos pela Polícia Federal e a motivação do estudo.

Estudo mensurou quantidade de maconha produzida "em casa"

Ainda entre os objetivos da pesquisa, segundo Ortiz, estava a necessidade em mensurar a quantidade de maconha que pode ser produzida a partir do cultivo "indoor" — em pequenas estufas, geralmente em residências — de cannabis, prática que vem ganhando força no país, destaca. Para esse questionamento, as amostras cultivadas em estufa pela Polícia Federal renderam aproximadamente 21% de matéria vegetal fresca, usada para a produção de maconha.

— Num período de duas semanas conseguimos responder algo que não seria possível com exame químico na semente. Nessa planta, conseguimos fazer testes para detectar o THC, comprovando que aquela semente, o fruto, era realmente da espécie cannabis sativa — sustenta Ortiz.
 
Segundo ele, o experimento precisou de uma análise prévia sobre cultivo de maconha.
 
— A gente procurou seguir trabalhos científicos publicados em outros países, só que com uma adaptação, porque aqui não tínhamos um ambiente para isso. Fomos moldando, montando a estufa, com solo controlado, luz controlada, colocando adubo. Mas foi na tentativa e erro. Algumas plantas não nasceram. Não é uma coisa simples de ser feita — afirma o perito. 
 
Ortiz ressalta que a pesquisa, com fins científicos, teve autorização dos órgãos competentes. As plantas, depois, foram colocadas como contraprova.

— Não queremos ensinar o pessoal a plantar maconha. E isso também não pode ser visto como se nós estivéssemos plantando maconha na Polícia Federal. Estamos resolvendo alguns casos que até então eram insolúveis. O material que não foi gasto na execução dos exames foi colocado como contraprova. Caso seja questionado, existe a contraprova, que é um outro requisito legal das perícias de natureza química — explica.
 
O delegado regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal gaúcha, Mauro Lima Silveira, respalda o trabalho do perito. Segundo ele, o estudo também serve para esclarecer que a importação de sementes é crime de tráfico internacional: 
 
— Independente da quantidade que é trazida de outros países, o ato de importar sementes sem autorização dos órgãos competentes é clandestino e ilícito. Sob a ótica da Polícia Federal, a pessoa comete um crime de tráfico internacional de entorpecente.

VIDEO: http://videos.clicrbs.com.br/rs/zerohora/videonews/147859/

Materia: http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2016/01/para-testes-policia-federal-planta-mais-de-70-pes-de-maconha-em-estufa-4952585.html

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" “O pessoal falava muito ‘ah, vocês tão com informação privilegiada de que vão liberar a maconha no Brasil e já estão desenvolvendo tecnologia’”.

 

Pois é, fica claro que o grande problema é a proibição.

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  • Usuário Growroom
8 horas atrás, Venom420 disse:

Quanto tempo e dinheiro jogados fora.  O ser humano as vezes da muita vergonha.

Imagina quantas sementes não devem ter sido desviadas pra casa de vários PFs (ou amigos, familiares) que são growers, já que pra um PF ir numa boca de fumo comprar droga é infinitamente mais difícil do que uma pessoa comum ir, já que no caso de polícia ou treta com traficantes o PF pode se ferrar muito na profissão.

Muitos PFs que usam maconha com certeza são growers e muitos devem atpe ler o Growroom como fonte principal de informações.

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  • Usuário Growroom
8 horas atrás, Venom420 disse:

 

Foram tão efetivos que de 73 sementes conseguiram florar apenas 5 pra descobrir que cada uma gera na faixa dos 15 gramas de inflorescências.
O mais legal é que com 73 sementes durante 10 meses conseguiram apenas 75 gramas de maconha, mas se te pegam com 3 sementes, compradas em instituições legalizadas que pagam impostos e não tem nada a ver com crime, querem te enquadrar como traficante internacional de drogas com sofisticado sistema de criação de super maconha melhorada geneticamente.

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  • Usuário Growroom
8 horas atrás, Snegs disse:

" “O pessoal falava muito ‘ah, vocês tão com informação privilegiada de que vão liberar a maconha no Brasil e já estão desenvolvendo tecnologia’”.

 

Pois é, fica claro que o grande problema é a proibição.

A maior parte dos policiais não dá a mínima sobre o uso em si de maconha. Correm atrás apenas porque a lei diz para correr. 

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  • Usuário Growroom

Acho que não eim cara, pra todos que ja conheci ate hoje maconheiro é tudo drogado vagabundo. Alias, um dia ouvi de um policial civil da denarc que o grande mal do mundo são as drogas e isso foi em uma mesa de bar. 

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