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ToggleA planta da maconha tem diversas substâncias ativas, conhecidas como canabinoides. Esses componentes são encontrados, em maior quatidade nas flores, mas também estão presentes nas folhas e caule da cannabis. Os canabinoides são responsáveis pelas mil e uma propriedades da planta e ativam receptores no corpo humano de diferentes maneiras. A ciência já catalogou mais de 400 canabinoides diferentes. Listamos os principais componentes da erva e suas características mais marcantes:
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Delta(9)-Tetrahidrocanabinol (Δ9-THC)
O mais famoso e abundante princípio ativo da maconha, mais conhecido como THC, é responsável pelos efeitos psicoativos da erva: quanto mais THC, mais forte a onda. Esse canabinoide tem alguns efeitos comprovados por estudos clínicos: analgésico (principalmente no caso da dor crônica e neuropática), no controle de espasmos causados pela esclerose múltipla e como um antiemético (no tratamento de enjôo causado pela quimioterapia).
Há ainda suspeita de que ele funcione como um neuroprotetor, podendo tratar a epilepsia e outras doenças degenerativas, como o Alzheimer e o Parkinson; como um anti-inflamatório, útil no tratamento de doenças como artrite reumatóide; e como um antitumoral, já que o THC parece impedir o crescimento de tumores e até causar a morte de células cancerígenas. Cientistas também tentam determinar o papel do THC em doenças autoimunes, já que ele parece tratar uma série delas (diabetes, esclerose múltipla, etc). Mais estudos são necessários para comprovar essas suspeitas.
Delta 8-Tetrahidrocanabinol (Δ8-THC)
Psicoativo assim como o Delta(9)-THC (que conhecemos como THC), esse componente atua como um broncodilatador, podendo tratar infecções pulmonares. O Delta(8)-THC também dá mais força ao Delta(9)-THC para o tratamento de enjoos.
Ácido tetrahidrocanabinol (THCA)
Trata-se do ácido de THC. Esse componente é convertido em THC quando aquecido, vaporizado ou oxidado, e é portanto encontrado em maior abundância na cannabis fresca, recém colhida. Diferente do THC, o THCA não tem efeito psicoativo, mas parece possuir muitos dos mesmos efeitos medicinais. Dale Gieringer (2008) afirma que esse canabinoide pode apresentar efeitos imuno-modeladores; o que pode ser útil em doenças que atacam o sistema imunológico (como a AIDS) e doenças autoimunes (como a esclerose múltipla e a doença de Chron).
+ THCA: um canabinoide não psicoativo, repleto de propriedades medicinais
THCV (tetrahidrocanabivarin)
Essa substância pode ser encontrada na maconha africana e no haxixe paquistanês. O valor medicinal desse canabinoide menos comum despertou o interesse da farmacêutica GW Pharmaceuticals, que estuda a possibilidade de criar um medicamento a base de THCV para tratar a obesidade, já que, em contraste com outros canabinoides, ele suprime o apetite. O THCV também tem o potencial de tratar a dor (especialmente a dor neuropática) e a epilepsia. Ele interage diretamente com o THC, podendo potencializar seus efeitos medicinais.
Canabidiol (CBD)
Sem efeitos psicoativos, o canabidiol ganhou recentemente o status de protagonista do uso medicinal da cannabis. O CBD, que representa quase 40% dos extratos da planta, tem o poder de tratar diversas patologias, especialmente quando a relação CBD/THC é adequada ao tratamento (o chamado efeito comitiva). Pesquisas indicam que o canabidiol pode ser eficaz no tratamento de epilepsia, ansiedade e até mal de Alzheimer.
Canabinol (CBN)
Este canabinóide de efeitos psicoativos surge da degradação do THC, há pouquíssimo canabinol na planta in natura. O CBN potencializa os efeitos do THC, causando a sensação de torpor (aquela vontade de ficar largado no sofá) e leve sedação. Acredita-se que o CBN possa ser útil no tratamento de diversas enfermidades, incluindo a dor crônica.
CBN (canabinol)
Esse canabinoide aparece a partir da degradação do THC, e é encontrado em pequenas quantidades na cannabis. Ele interage com o CBD, potencializando seus efeitos sedativos. O CBN pode se tornar um canabinoide muito importante no tratamento de doenças graves, já que demonstra potencial no tratamento de Esclerose Lateral Amiotrófica e no combate à proliferação de MRSA, bactéria resistente a antibióticos.
Canabigerol (CBG)
Também pouco estudado, estudos sobre o CBG apontam efeitos anticancerígenos, anti-inflamatórios, analgésicos e bactericidas. Há ainda a possibilidade de o CBG auxiliar no tratamento da epilepsia e de glaucoma, já que ele parece auxiliar na diminuição da pressão intraocular.
Canabicromeno (CBC)
Pouco estudado, o CBC tem demonstrado grande potencial anticancerígeno e em tornar a dor menos perceptível. O CBC também apresenta função anti-inflamatória, antimicrobial, fungicida, hipotensor (diminui a pressão sanguínea) e sedativo.
Ácido canadibióico (CBDa)
O CBDA, assim como o THCA, é o principal componente na cannabis que tem níveis elevados de CBD. O THCA, CBDA, CBGA e outros canabinóides ácidos inibem a maior parte dos COX-1 e COX-2 (reações inflamatórias), o que gera os efeitos anti-inflamatórios da planta.
Para os defensores do uso de canabinoides isolados (como o THC e o CBD) no lugar da maconha, há um temor de que entre os “mais de 400 componentes” presentes na planta, possa haver substâncias prejudiciais à saúde. É verdade que ainda se sabe pouco sobre outros canabinoides, e que mais pesquisas são necessárias para compreendermos melhor o seu funcionamento. No entanto, não há até o momento evidências de que eles possam ser prejudiciais à saúde humana em sua forma natural.
Estudos têm demonstrado que a cannabis em sua forma natural possui efeitos medicinais superiores aos canabinoides isolados. Com tanto potencial terapêutico em apenas alguns dos canabinoides menos conhecidos, é fácil entender porquê. Com mais estudos poderíamos compreender melhor o funcionamento dessas substâncias e determinar sua eficácia, dosagem e quais variedades da cannabis podem tratar quais enfermidades.
Referências:
O Uso Medicinal da Canábis – Susan Witte
Maconha, Cérebro e Saúde – Renato Malcher-Lopes e Sidarta Ribeiro
Recent Research on Medical Marijuana – Paul Armentano
Marijuana Medical Handbook – Dale Gieringer