Profissionais de diversas áreas, acadêmicos, estudantes, ativistas… O fim de semana reuniu cerca de 700 de variados espectros em um evento precursor, com o único objetivo de debater as atuais políticas de drogas, suas consequências e possíveis alternativas para acabar de uma vez com essa guerra fracassada. Ainda que muitas opiniões sejam divergentes, há um ponto comum: a proibição das drogas causa mais males que a droga em si. Por isso, ao final do Congresso Internacional sobre Drogas: Lei, Saúde e Sociedade, alguns dos palestrantes junto a um grupo de participantes redigiram uma carta que será entregue à presidenta Dilma Roussef. O documento é um apelo sincero que pede o fim do proibicionismo e o veto do PL 7663/10, do deputado Osmar Terra. Vale comentar que o deputado, assim como outros proibicionistas, foram convidados a participar do Congresso, tendo rejeitado o convite.
Abaixo, a carta na íntegra, já assinada por 188 pessoas. O documento será disponibilizado online para que os internautas possam assinar embaixo!
Carta de Brasília em Defesa da Razão e da Vida
O Congresso Internacional sobre Drogas: Lei, Saúde e Sociedade foi realizado entre 3 e 5 de maio de 2013 no Museu da República em Brasília para fomentar o diálogo sobre o tema das drogas. Nós, participantes do Congresso e signatários desta carta, constatamos que a política proibicionista causa danos sociais gravíssimos que não podem persistir. Não há evidência médica, científica, jurídica, econômica ou policial para a proibição. Entretanto identificamos alarmados um risco de retrocesso iminente, em virtude do projeto de lei 7663/10, de autoria do Deputado Osmar Terra (PMDB/RS), atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados, relatado pelo deputado Federal Givaldo Carimbão (PSB/AL). Entre vários equívocos, o projeto prioriza internação forçada de dependentes químicos. Vemos com indignação que autoridades do Governo Federal se pronunciam a favor dessa prática. Conforme apontado pelo relator especial sobre tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes junto ao conselho de direitos humanos da Organização das Nações Unidas, a internação forçada de dependentes químicos constitui tortura. Tendo em vista a trajetória política, compromisso com os direitos humanos e experiência pessoal em relação à tortura da Presidenta Dilma Roussef, é inadmissível que o Governo Federal venha a apoiar a internação forçada. Entendemos que a aplicação dessa medida no Brasil atual representa a volta da política de higienização e segregação de classe e etnia.
Mesmo em suas versões mais brandas, o proibicionismo infringe garantias fundamentais previstas na Constituição da República, corrompe todas as esferas da sociedade, impede a pesquisa, interdita o debate e intoxica o pensamento coletivo. A tentativa de voltar a criminalizar usuários e aumentar penas relacionadas ao tráfico de drogas é um desastre na contramão do que ocorre em diversos países da América e Europa, contribuindo para aumentar ainda mais o super-‐encarceramento e a criminalização da pobreza. A exemplo das Supremas Cortes da Argentina e da Colômbia, é preciso que o Supremo Tribunal Federal declare com urgência a inconstitucionalidade das regras criminalizadoras da posse de drogas ilícitas para uso pessoal. Em última instância, legalizar, regulamentar e taxar todas as drogas, priorizando a redução de riscos e danos, anistiando infratores de crimes não-violentos e investindo em emprego, educação, saúde, moradia, cultura e esporte são as únicas medidas capazes de acabar efetivamente com o tráfico, com a violência e com as mortes de nosso jovens. É um imperativo ético e científico de nosso tempo, em defesa da razão e da vida humana.