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O brasileiro Gustavo Grossi foi preso por cultivar maconha em seu apartamento, no Rio de Janeiro. Atualmente, ele reside no Uruguai com a esposa e conseguiu permissão para cultivar plantas em sua casa. Com realidades tão distintas, ele escreveu um relato para o Growroom falando um pouco de sua experiência com os dois países; confira!
Prisão
Em 2010, meu pai e eu fomos pegos pela polícia com cem pés de maconha que cultivávamos em nosso apartamento, no Rio de Janeiro. Na época, a repercussão na mídia nacional foi muito grande e ficamos três meses presos em um presídio de segurança máxima, esperando o julgamento. Por fim, fomos inocentados e não nos autuaram no artigo 28, ocorreu uma transação penal (acordo entre réu e promotoria) e pagamos cestas básicas.
Em 2014 eu e minha esposa conhecemos pela primeira vez o Uruguai, logo depois da regulamentação da cannabis em 2013. Ficamos prontamente encantados com o país, com a educação das pessoas, com a tolerância total não só com a cannabis, mas ao aborto, eutanásia, união homossexual, qualidade dos serviços e produtos e a segurança de poder andar com tranquilidade na rua, o que infelizmente não acontece no Brasil.
Em 2016 tive a ideia de escrever um romance para relatar os eventos ocorridos em 2010. Assim, nasceu o livro Jardim em Chamas, lançado pela editora Portuguesa Chiado, que fala a minha experiência como cultivador como um todo, bem como os momentos difíceis que passei dentro da cadeia. O romance é sobre a guerra contra a cannabis e o mundo que está em chamas e na história faço paralelos entre minha vida e a dos personagens fictícios.
Em 2017, decidimos mudar para Montevidéu, a capital do Uruguai. Depois de conquistar residência permanente, consegui me registrar na modalidade do cultivo caseiro junto ao Ircca (Instituto de Regulación y Control del Cannabis) e agora ter até 6 pés na floração.
Diferenças
Apesar do Brasil e Uruguai serem países fronteiriços e próximos, a diferença entre os dois é gritante. No Uruguai, o consumo de cannabis é permitido há 40 anos, embora só em 2013 a erva tenha sido regulada. Aqui, por exemplo, o consumo de maconha na rua é visto com naturalidade. Os uruguaios têm direito a um sistema de saúde que funciona melhor que em terras brasileiras. O salário mínimo é mais alto. Qualquer emprego garante direitos básicos.
O governo é verdadeiramente laico ao não misturar religião nas questões políticas. Foi justamente esse ambiente que permitiu ao Uruguai ser o centro da vanguarda sul americana em questões do divórcio e regulamentação de cannabis. A educação básica é obrigatória, todos os alunos ganham um tablet e tem acesso à internet.
O Brasil tem muito o que aprender com seu pequeno vizinho ao sul, desde ao quesito cannabis, passando pelos sistemas de educação e saúde. O Uruguai atrai não só a imigração de brasileiros, como de dominicanos, venezuelanos, paraguaios, argentinos e cubanos.
Em relação a cannabis, é um grande alívio poder plantar de forma 100% legal, sem pressa e com todo o cuidado. Consumir maconha por aqui não é pior do que fumar tabaco, o que proporciona uma verdadeira sensação de liberdade.
No Brasil, eu e minha esposa não desejávamos cometer um crime por consumir um planta. Com o país em crise, passando por um momento difícil, um governo ilegítimo no poder, retirando direitos e pressionando minorias, resolvemos fazer as nossas malas. Para o movimento cannabico, o golpe foi horrível e vemos nossa vinda para o Uruguai como exílio político.
Violência
O Brasil encontra-se em um turbilhão social e a guerra às drogas acendeu mais do que nunca esse pavio. Os dados são alarmantes: 90% dos homicídios anuais estão relacionados às drogas, mas nada se faz.
Enquanto a violência reina em nosso país, o governo uruguaio resolveu retirar os usuários de cannabis das mãos do narcotráfico e até agora essa medida está gerando bons resultados.
O número de pessoas que não patrocina mais o prensado é grande e isso gera consequências maiores, como a inibição inclusive do tráfico cross-border, o que quer dizer que os traficantes uruguaios também se prejudicaram para mandar a maconha para outros países.
Além do Uruguai, Portugal, Holanda, República Checa e os estados da Califórnia e Colorado, nos Estados Unidos, deram um basta na guerra às drogas e buscaram alternativas para resolver esse problema. São sociedades muito mais avançadas que o Brasil e que entenderam que legalizar a erva trás modernidade, mais turismo e segurança, além de tirar milhares de consumidores das garras do narcotráfico.
O uso medicinal da cannabis é indiscutivelmente importante, mas precisamos da descrimininalização da maconha como um todo. Todo cidadão precisa ter o direito de cultivar a sua cannabis em casa. Precisamos de leis que diferenciem o narcotráfico com auto cultivo e das associações cannábicas para ontem. Só assim teremos um avanço significativo!
Por um 2018 muito florido para todos!
Gustavo Grossi