Reinaldo Laranjeiras, Osmar Azevedo, Reinaldo Terra… Tem diferença? Saindo um pouco do caráter informativo deste blog, ainda que abertamente parcial, gostaria de registrar aqui minha impressão sobre o Roda Viva dessa segunda, que colocou o Ronaldo Laranjeira contra a parede.
Laranjeira reiterou diversas vezes a necessidade de proteger os jovens do contato com as drogas. Ainda que perguntado indiretamente sobre a intolerância na questão do álcool e tabaco, não foi perguntado, tampouco falou claramente, se é a favor da proibição dessas duas substâncias, que são, indiscutivelmente, o primeiro contato dos adolescentes com as drogas. Lembro que eu, com uns dez anos, colocava o dedinho na espuma do chopp da minha mãe, e com uns 12 anos ela já me deixava acender o cigarro enquanto dirigia.
Sem proibição, e com uma campanha eficaz de conscientização, a taxa de fumantes no Brasil caiu de cerca de 60% nos anos 80 para menos de 15% atualmente. Na contramão, o consumo de álcool tem crescido significantemente a cada ano, seguido por sua massiva e lucrativa publicidade. O que o baboseira Laranjeira não comentou, apesar de levemente defender uma proibição total das drogas então lícitas, ou mesmo da sua publicidade e, mais uma vez, tampouco lhe foi perguntado, foi sobre o pedido do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, do PMDB do Rio Grande do Norte, de retirar o artigo que instituía que rótulos de bebidas alcoólicas deveriam estampar advertências sobre os malefícios do álcool. Coincidência ou não, o comitê financeiro do mesmo partido e do mesmo estado do deputado em questão recebeu R$ 70 mil em dinheiro da indústria cervejeira, segundo consta nos registros do Tribunal Superior Eleitoral. Só nas eleições de 2010, cervejarias doaram mais de R$ 6 milhões a campanhas de, principalmente, candidatos a deputado federal.
Vou deixar de lado todos os outros argumentos e focar na insistente “proteção aos jovens”, repetida seis vezes pelo psiquiatra ao longo da uma hora e mais de programa. Também vou desconsiderar o tema da diminuição de maioridade penal, que abadona e pretende isolar o jovem carente (para evitar o vulgar “jovem negro, pobre e favelado”), o mais cedo possível. Minha pergunta direta ao Ronaldo Laranjeira e seus companheiros que hasteiam a bandeira proibicionista e da guerra às drogas seria: vocês defendem que o álcool e o tabaco passem a ser proibidos? Vocês lutariam por isso, antes mesmo de lutar pela não-legalização da maconha e outras substâncias,para proteger seus filhos e seus netos? Vocês se privariam do seu whisky e seu charuto? Vocês acreditam veemente que essa política assustadora e instigante do proibicionismo afastará nossos jovens das drogas? Vocês apoiam a proibição do consumo e da venda do álcool e tabaco por uma sociedade livre de drogas, como faz parte da utopia imaginária de vocês? Vocês trocariam os milhões recebidos pelo lobby das indústrias das drogas lícitas pelo tratamento real dos dependentes, em toda e qualquer droga? Vocês internariam seu tio alcoólatra de maneira compulsória em uma comunidade terapêutica que visa lucros pelo bem dele mesmo? E seu filho?
A partir do momento que eu receber um “sim” como resposta para todas essas questões, e que tais extremismos absurdos, pelo bem dos jovens, sejam postos em prática, acima de lobbys e lucros exorbitantes, eu poderei tomar a sério tais argumentos. Defender a proibição da maconha como prevenção de riscos para jovens, enquanto garotas de quinze anos enchem a cara de vodka e esfregam suas bundas na frente de autoridades, influenciadas pela novela da TV, me parece pouca sensatez.