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ToggleMédico psiquiatra, cientista, educador e ativista, o norte-americano Lester Grinspoon morreu aos 92 anos na última quinta-feira, dia 25 de junho. Ícone da luta anti-proibicionista, Grinspoon teve um papel fundamental na desmistificação da maconha nos Estados Unidos e em todo o mundo. Uma de suas principais contribuições foi o livro “Marihuana Reconsidered”, lançado em 1971, que abriu portas para o debate sobre os benefícios medicinais da erva, conforme lembra o artigo do “Leafly”.
Escrita quando Grinspoon trabalhava em Harvard, onde formou-se em Medicina, a obra é até hoje considerada bibliografia obrigatória entre especialistas no assunto. Durante décadas, o americano dedicou-se ao ativismo, participando de julgamentos e audiências para falar sobre suas conclusões científicas, além de atuar como membro do conselho consultivo da NORML.
A amizade com Carl Sagan mudou a percepção de Grinspoon sobre a maconha
É sabido que, antes de “Marihuana Reconsidered”, Grinspoon engolia o discurso proibicionista. Tanto que preocupava-se com quantidade de maconha que fumava seu amigo, o famoso astrônomo e escritor Carl Sagan. Para convencê-lo de que a proibição era o caminho correto e assim fazê-lo parar (ou, ao menos, diminuir), resolveu montar um dossiê anti-Cannabis enquanto trabalhava como professor em Harvard. Mas levou um baita susto.
Em suas pesquisas, Grinspoon descobriu que não havia evidências científicas que embasavam a proibição da erva. Entusiasmou-se pelo assunto e decidiu expor seus achados em “Marihuana Reconsidered”, livro que gerou revolta entre os conservadores nos EUA – inclusive, sendo criticado pelo próprio presidente do país na época, Richard Nixon. Vale lembrar que, em 1971, a maconha era proibida há 34 anos e apenas 15% dos estadunidenses apoiavam sua legalização.
O câncer de Danny e a influência de Grinspoon no debate sobre a legalização na Califórnia
Outra curiosidade sobre a trajetória de Dr. Lester Grinspoon é que o período quando o médico começou a se interessar pela pesquisa sobre a Cannabis coincidiu com o descobrimento do câncer em seu filho, Danny. Por sugestão de sua esposa, Betsy, decidiu oferecer a erva ao filho durante a quimioterapia, o que o ajudou a superar os enjoos, náuseas e vômitos.
A experiência junto ao filho no Hospital Infantil de Boston rendeu um estudo pioneiro. O artigo foi publicado em 1975, no “New England Journal of Medicine”, e mostrou a eficácia dos canabinoides no complemente ao tratamento do câncer, amenizando os efeitos colaterais das sessões de quimioterapia.
Outra importante contribuição de Grinspoon aconteceu em 1993, com a publicação de “Marijuana: The Forbidden Medicine”. O livro, que atualiza a importância da Cannabis como substância terapêutica, foi importante para o debate da Proposição 215 na Califórnia, primeiro estado norte-americano a legalizar o uso da erva para fins medicinais.