Por Delma Ferraz
Em todo canto do mundo há pessoas que cultivam maconha. Independente do motivo que as levam a plantar, cuidar e colher sua própria erva, todas essas pessoas têm em comum o interesse pela atividade em si, que demanda tempo e, pelo menos, um mínimo conhecimento de botânica. A planta de canábis não é resistente a qualquer ambiente e tem períodos determinados de florescimento e ciclo de vida, que variam conforme a espécie (strain), ou seja, exige cuidado integral do cultivador.
O cultivo de maconha é permitido em alguns estados e países mais evoluídos do globo, mas infelizmente o Brasil ainda não é um deles. Sempre falamos aqui no GR dos desafios enfrentados por brasileiros que bravamente cultivam suas plantinhas, seja por razões de cunho religioso, medicinal, ideológico. Não faz diferença, sem a legalização do cultivo caseiro da erva, o risco de ser denunciado – e, então, sofrer injustas consequências – é imenso. Além da contrariedade da lei, o peso do preconceito em cima de quem quer ter sua planta no quintal de casa também é uma constante.
E quando essa pessoa amante da cultura canábica é uma mulher, soma-se mais um obstáculo para driblar. Impugnando a objetificação da mulher de algumas campanhas pró-maconha (onde tentam nos colocar em um papel coadjuvante dentro do ativismo canábico), o número de mulheres que plantam maconha é razoável e vem crescendo.
Mesmo nas ilustrações cinematográficas, o cultivo da planta muitas vezes é associado à figura feminina. No filme inglês “O Barato de Grace” (Saving Grace, 2000), uma viúva endividada é convencida pelo jardineiro a plantar maconha na estufa de casa e acaba demonstrando um talento excepcional para o cultivo da erva. Na série americana para a TV “Weeds” (2005-2012), Nancy Botwin (Mary-Louise Parker) também é uma viúva que decide traficar maconha para manter o seu padrão dona-de-casa de subúrbio americano, numa Califórnia ainda ilegal.
O GR mostra algumas mulheres que, na vida real, dedicam seu tempo à produção de maconha. Mulheres que plantam maconha secretamente no Brasil, mulheres que ganham dinheiro e se divertem plantando maconha em estados legalizados dos EUA e uma brasileira que vive no Chile, em pleno processo de legalização da erva medicinal no país.
Pandora, brasileira que mora em Santiago, Chile, desde 2011
“Planto para produzir meu azeite medicinal. Ter a minha medicina a partir de uma semente que eu mesma cuido, vejo crescer, florescer e proporcionar um alívio e a qualidade de vida que há muito tempo não tinha, só me faz crer que isso é um lindo presente da natureza. Me sinto privilegiada em ter acesso a este bem natural, que deveria ser dado a todos.”
Carlita Flores, carioca dedicada ao cultivo de maconha
“Em um país onde a maconha não é legalizada, plantá-la é uma alternativa ao comércio ilegal da droga, é ativismo contra a violência, contra a política de drogas falida do Brasil. É também lutar para que os pacientes da planta não tenham que importar ampolas caríssimas de CBD. A luta pela legalização está diretamente ligada ao cultivo, afinal a maconha é uma planta e precisa ser plantada. Além disso, cultivando descobre-se qual strain é a melhor para você, consumindo uma erva pura e de qualidade.”
Diamond D., paulistana e grower iniciante
“Planto para garantir a qualidade e a procedência da erva que eu fumo. O cultivo é a maneira de promover ajuda a tantos pacientes que precisam dos benefícios da erva e do usuário recreativo não alimentar o tráfico. Enquanto poucos lucram com a comprovadamente falida guerra às drogas, outros tantos necessitam dos remédios que provêm da planta. Em um país que evita aceitar a verdade universal da maconha, uma das plantas mais versáteis da natureza para a medicina, plantar maconha é ter coragem de desafiar leis que só prejudicam a sociedade.”
Jenn Doe Hendricks (@jenndoe420)
Célebre maconheira americana, grower profissional e entusiasta das garotas cultivadoras com a hashtag #girlsgrowtoo. Tem um perfil popular no Instagram, onde exibe suas plantas, as colheitas e todo o lifestyle canábico. Eleita a Miss High Times, conquistou o primeiro lugar na Cannabis Cup do ano passado com um haxixe puro.
Dra Dina
Conhecida como a verdadeira Nancy Botwin, tem em sua carteira de clientes celebridades como Snoop Doggy Dog e políticos americanos. Assim como a personagem de The Weeds, cresceu sem contato e demonizando a maconha até entender que os benefícios da planta poderiam ajudar um amigo com câncer. Antes do movimento de legalização se tornar popular na Califórnia, Dra Dina precisou transitar com cuidado entre a lei e cartéis mexicanos antes de se tornar uma das maiores fornecedoras de maconha medicinal do oeste dos EUA.