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ToggleAs associações de usuários para fins de cultivo têm pautado as recentes notícias acerca da cannabis no Brasil. Tão importante quanto o entendimento da planta como remédio, é o conhecimento das formas de como obtê-lo.
A estratégia de formação e formalização de um grupo com o mesmo intuito é uma forma de proteger os indivíduos. Ter uma instituição representando os interesses comuns é uma maneira de garantir seus direitos, mas a medida que cresce a demanda pelo cultivo, surgem também os problemas inerentes ao fato deste ainda ser proibido no Brasil.
Recentemente fomos surpreendidos com a notícia de mais uma prisão de cultivadores, desta vez na capital de Minas Gerais. Dentre os detidos, havia um usuário comprovadamente medicinal e um diretor de uma dessas associações canábica para fins medicinais.
Independente de qual tenha sido a circunstância que levou a prisão, estamos diante do primeiro relato de uma prisão sob acusação de tráfico, de um paciente com prescrição para uso e autorização para importação de cannabis medicinal.
Esse acontecimento nos leva a pergunta: Até que ponto a prescrição médica e o direito de acesso concedido pela Anvisa garantem a segurança e o bem estar do usuário medicinal?
Talvez as associações estejam trazendo a falsa sensação de segurança para os indivíduos. Acredita-se que com a formação e formalização de um grupo, livra-se de complicações penais. Porém está claro que nem diante da comprovação da necessidade do uso estamos isentos de prisões e violações de nossos direitos.
A surpresa nessa história, é que não vimos qualquer mobilização pelas redes sociais das associações e pacientes, até mesmo daqueles que fazem parte da própria associação da qual um dos detidos é diretor.
Diante desse dilema nos perguntamos, qual será o papel de uma associação canábica se não proteger e lutar pelos direitos de seus associados?
Acredito que este era o momento de todas as associações se unirem, para dar um basta nas prisões arbitrárias relacionadas ao cultivo da cannabis.
O fato é que ainda há um longo caminho à ser percorrido e talvez isto esteja ocorrendo por estarmos pulando etapas no processo rumo à descriminalização da maconha no Brasil.
Sementes
Começam a surgir salvos condutos para proteger o direito ao cultivo, mas ainda não temos acesso garantido à genéticas com propriedades específicas. Por aqui, as sementes ainda são fortemente reprimidas, enquanto que em diversos países, inclusive na América do Sul, a circulação de sementes não configura crime. Esta me parece ser a única forma de difundir o cultivo como uma opção segura para obtenção do remédio.
As sementes são o primeiro obstáculo na vida de um cultivador, no geral se o indivíduo não tem recursos financeiros, acaba consumindo flores prensadas de péssima qualidade; consequentemente as chances de encontrar sementes germináveis reduzem drasticamente, além do fato de que há grandes chances de que as sementes provenientes de prensados tenham tempo de floração longo e propensão ao hermafroditismo.
Já os indivíduos com recursos financeiros, no geral tem acesso à flores de melhor qualidade, porém uma das principais características para melhorar a qualidade do produto final, é evitar a polinização das flores, portanto as chances de encontrar sementes são menores.
Diante desta situação, a única opção que resta é contrabandear sementes de outros países, o que impossibilita os menos favorecidos de terem acesso à sementes de qualidade e expõe os demais aos riscos de serem processados por tráfico ou contrabando.
Talvez este seja um dos fatores para que prisões por cultivo e compra de sementes estejam comumente relacionadas a indivíduos de classe média e alta. A consequência traz a falsa ideia de que cultivo é um privilégio para os mais abastados.
Chego a conclusão de que o ponto de partida para nossa jornada, seja a livre circulação de sementes de cannabis em nosso país, somente isso irá democratizar o cultivo e proverá bases sólidas para tornar a descriminalização indissolúvel.
Portanto o ponto de partida do cultivo está na semente!