A comunidade da fumaça está clamando por dizer: “Yes, we cannabis” [uma brincadeira com o slogan “Yes, we can”, ou “Sim, nós podemos”, que foi o mote da campanha de Obama] Acontece que, com o fato de vários veteranos da guerra contra a droga estarem próximos às orelhas de Obama, pessoas do meio pensam que a reforma da legislação anti-drogas poderia vir no segundo mandato de Obama – ou antes.
Por John H. Richardson
De forma famosa, Franklin Delano Roosevelt salvou o sistema bancário dos EUA durante os primeiros sete dias de seu primeiro mandato. E o que ele disse no oitavo dia? “Eu acho que esta seria uma boa hora para uma cerveja, ele disse”.
O Congresso já havia rejeitado a proibição, estando pendente a ratificação pelos estados. Mas as pessoas precisavam de um pulo, e legalizar a cerveja teria criado um milhão de empregos. E siiiim, a cachaça estava de volta! Dois dias após a aprovação da lei, fabricantes de Milwaukee contrataram 600 pessoas e pagaram seus primeiros 10 milhões de dólares em impostos. Logo depois, a indústria dos automóveis estava fabricando seus primeiros 12 milhões de dólares equivalentes a caminhões de entrega de cerveja , e fabricantes de cerveja estavam investindo dezenas de milhões em novas fábricas.
“A ação de Roosevelt para legalizar a cerveja alcançou o efeito esperado”, diz Adam Cohen, autor de “Nada a temer”, uma história eletrizante referente aos primeiros cem dias do governo Roosevelt. “Foi, como um jornalista observou, como enfiar uma dinamite em um galho velho”.
Boa parte do mundo canábico está esperando por algo similar vindo de Barack Obama. Afinal, o presidente eleito disse em 2004 que a guerra contra as drogas foi “um retumbante fracasso” e que os EUA deveriam descriminalizar a erva:
Video» http://www.youtube.com/watch?v=wQr9ezr8UeA
Em julho, Obama disse à revista Rolling Stone que ele acreditava em “mudar o paradigma” para uma abordagem de saúde pública: “eu começaria com usuários não violentos e que estão em início de uso. A noção de que nós os estamos prendendo, onde eles desenvolvem graus avançados de criminalidade, ao invés de pensar em maneiras alternativas, como tribunais especializados em drogas que podem ajudá-los a voltar a viver uma vida normal – é caro, é contra-produtivo, e não faz sentido”.
Enquanto isso, economistas têm apresentado o argumento da cerveja. Em um artigo entitulado “Implicações tarifárias da legalização da maconha”, o Dr. Jeffrey Miron, de Harvard, argumenta que a legalização da maconha teria gerado entre 10 e 14 bilhões de dólares em economias e impostos todos os anos – conclusão apoiada por 300 economistas importantes, incluindo o próprio Milton “Liberdade dos mercados” Friedman.
E há duas semanas, quando a equipe de Obama pediu ao public que votasse nos problemas mais importantes que os EUA enfrentam hoje, esta foi a pergunta mais votada pelo public: “Você irá considerar legalizar a maconha, de forma que o governo possa regulá-la, taxá-la, colocar limites de idade para ela, e criar milhões de novos empregos e uma indústria bilionária aqui nos EUA?”.
Porém, a resposta da equipe de Obama foi – como tem sido por anos – uma desapontadora resposta de uma linha: “O presidente eleito Obama não é a favor da legalização da maconha”. E pelo menos dois dos assistentes mais próximos de Obama são apoiadores da guerra às drogas: Rahm Emanuel tem sido um inimigo de longa data da reforma jurídica, e Joe Biden um conhecido defensor da guerra as drogas que ajudou a criar a posição de “czar das drogas”.
Enquanto isso, em 2007, o ultimo ano em que estatísticas estão disponíveis, 782.000 estadunidenses foram presos por crimes relacionados à maconha (90% deles por posse de maconha), enquanto aproximadamente de 60 a 85 mil deles de fato serviram uma parte da pena na cadeia ou na prisão. É a continuação de uma onda desnecessária de sofrimento que ensinou gerações de americanos o quanto o governo pode ser capcioso. A ironia é que a preferência pela “descriminalização” sobre a “legalização” pode de fato ajudar a existência de máfias criminosas envolvidas com a droga.
Apesar disso, a comunidade cannábica está otimista. “Reformadores irão provavelmente ficar desapontados com o fato de que Obama não irá tão longe quanto eles querem, mas nós provavelmente não iremos continuar neste caminho acéfalo de proibição, afirmou a mim o diretor executivo da NORML, Allen St. Pierre.
Alguns dos maiores doadores de Obama são amigos do movimento da legalização, afirma St. Pierre. “Sinceramente, George Soros, Peter Lewis e John Sperling – este triunvirato de bilionários – se estes três homens, que colocaram entre 50 e 60 milhões para ajudar a eleger os democratas e Obama, se eles não podem pegar o telefone e agendar uma reunião face a face onde esta política para as drogas está sendo decidida, então talvez seja verdade que quando você doa dinheiro, não espere favores”.
Outra representante do grupo endinheirado: Marsha Rosenbaum, a antiga diretora do escritório de São Franciso na Aliança contra as Drogas, que saiu ano passado para se tornar uma financiadora de Obama e doou impressionantes 204 mil dólares para sua campanha. Ela disse que, baseado nas coisas que ela tem ouvido do time de transição, ela espera que Obama opere de maneira bastante segura. “Ele disse em um momento que ele não irá usar seu capital político nisto – isto é uma preocupação”, Rosenbaum me diz. E o Caminho para a Mudança provavelmente terá que passar pelo Vale dos Estudos e Relatórios. “Eu espero que é isto que a Administração faça”, ela diz, “pois é algo que este país não fez desde 1971, que é levar a comissão presidencial para discutir a política anti-drogas, estabelecer uma equipe de especialistas para estudar o fenômeno e fazer recomendações”. Mas, em última instância, Rosenbaum permanece confiante que aquelas recomendações fariam um chamado para o fim da guerra às drogas. “Uma vez que tudo esteja estabelecido em termos confiáveis, então nós teremos uma chance de ver uma verdadeira reforma da política anti-drogas”.
Apesar disso, os maconheiros permanecem noiados. Rumores acerca da escolha de Obama para o czar das drogas têm recaído sobre o congressista republicano Jim Ramstad. “Ele tem sido um guerreiro padrão anti-drogas por todo o tempo que ele esteve no Congresso”, diz St. Pierre. Outra possibilidade é o chefe de polícia de Atlanta, Richard Pennington, que levanta medo na comunidade anti-proibicionista, já que ele representa mais do mesmo modelo de legislação. Outra bomba estourando na cabeça dos maconheiros é o Dr. Don Vereen, o “cabeça” pensante da política para as drogas do time de transição. “Ele realmente acredita na proibição e consegue empolgar a audiência”, diz Rosenbaum, que afirma que um amigo no time de transição se recusou a dar dicas quanto à escolha para o czar das drogas. “Eu digo a ele, brincando: ‘eu vou ter que abrir o jornal The New York Times para descobrir isso, né'”. A resposta dele é: “Nós iremos enviar sinais de fumaça”.
Fonte: Esquire