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ToggleVocê provavelmente já ouviu falar nos cogumelos mágicos, mas sabe o que é a Psilocibina? A Psilocibina é um alcaloide enteógeno que produz efeitos como alucinações e distúrbios sensoriais, podendo ser encontrada em diversas espécies de cogumelos. Esse assunto está cada vez mais relevante porque nas últimas eleições nos Estados Unidos, cogumelos mágicos foram descriminalizados no estado no Oregon e na capital do país, o distrito de Washinton DC.
Mas você sabe como agem os cogumelos? Pois bem: a primeira coisa a aprender é que a grande responsável pela viagem mental causada pela ingestão desses fungos é justamente a Psilocibina.
A estrutura molecular é análoga à da serotonina, especialmente quando nosso organismo a metaboliza, transformando-a em psilocina. A partir daí, a psilocibina age como antagonista dos receptores de serotonina, bloqueando os efeitos da serotonina e causando sensações similares às do LSD – com a grande diferença de ser uma substância totalmente natural.
Efeitos da Psilocibina
Os efeitos psicoativos da psilocibina costumam durar entre 4 a 6 horas, e demoram de 15 a 45 minutos para começar. Por haver uma grande variedade de cogumelos que possuem a substância (cada uma com uma potência diferente), sem contar as variáveis subjetivas de cada usuário, não há como precisar uma dose adequada.
Mas alguns fatores individuais e externos devem ser levados em consideração: o tamanho da pessoa, se ela está psicologicamente confortável para a experiência, se o ambiente é seguro, se ingeriu álcool ou drogas sintéticas no mesmo dia (a combinação pode ser perigosa). Outro aspecto importante é a forma como o cogumelo está sendo ingerido, se secos, frescos ou em em chá. Os cogumelos secos podem bem ser mais potentes que os frescos, enquanto os chás são mais difíceis de dosar e, portanto, o usuário pode se descuidar e perder a medida.
- Alterações visuais, especialmente de cores e formas;
- Sensações de tranquilidade e alegria;
- Empatia e amor ao próximo;
- Espiritualidade;
- Desconexão com a realidade;
- Desprendimento do ego;
- Sinestesia;
- Tontura e sonolência;
- Dilatação das pupilas (midríase);
- Desconfortos gastrointestinais (náuseas e vômitos) quando em dose exagerada;
- Medo e paranoia quando em dose exagerada.
Cogumelos fazem mal?
Assim como a cannabis, não existem registros na literatura médica de mortes por ingestão de cogumelos. O fármaco é considerado de baixa toxicidade (algumas variedades mais, outras menos), e também não há documentações ou relatos sobre pessoas que tenham desenvolvido casos de dependência química de psilocibina ou psilocina.
O que existe, sim, são relatos de experiências negativas, as chamadas bad trips, comuns quando o papo são as substâncias enteógenas. Por isso, é importante atento para evitar cair na armadilha da viagem errada, como já falamos aqui sobre a maconha. No caso dos cogumelos, valem muitas das mesmas regras, mas deve-se redobrar o cuidado, porque as consequências podem ser mais graves.
É que algumas pessoas podem sofrer sequelas duradoras, principalmente visuais, que podem durar de horas a anos após o uso, em alguns casos. Atualmente, tal condição é diagnosticada como transtorno de percepção alucinógena persistente, transtorno perceptivo persistente por alucinógenos ou Transtorno Persistente da Percepção Induzido por Alucinógenos (TPPIA), entre outros nomenclaturas médicas.
Na maior parte dos casos, os efeitos desagradáveis e angustiantes costumam passar entre 6 e 8 horas, à medida que a psilocibina para de agir. Quando há situações de pânico, agitação, delírio, psicose, entre outras síndromes, pode ser necessário tratamento de emergência com medicamentos como benzodiazepínicos. Outro risco são os chamados flashbacks, quando essas experiências traumáticas voltam como uma memória vívida e aterrorizante.
Uso medicinal da Psilocibina
Outro ponto que é fato é o uso da psilocibina para fins medicinais em tratamento de doenças como depressão, ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo (T.O.C), além da enxaqueca crônica e do câncer. Os efeitos médicos da substância são estudados desde 1960, quando os médicos Richard Alpert e Timothy Leary (que mais tarde tornaria-se o “guru do LSD”), começaram a investigar, na universidade de Harvard, os efeitos dos cogumelos mágicos na psicoterapia.
Já nos anos 2000, o interesse pelos cogumelos em tratamentos psicoterápicos voltou com força total e se intensificou ainda mais na década seguinte. No ano passado, a King’s College, uma universidade de Londres, na Inglaterra, conduziu uma pesquisa para observar os efeitos da psilocibina em pessoas com depressão. Os resultados da primeira fase foram divulgados em dezembro e apontaram um desempenho positivo em 89 pacientes, que receberam doses de 10 mg, 25 mg e um placebo.
No início de novembro deste ano, a revista científica norte-americana “JAMA Psychiatry” publicou um estudo que concluiu que a psilocibina é quatro vezes mais eficaz para o tratamento da depressão do que os antidepressivos comuns. De acordo com a publicação, trata-se da primeira pesquisa a comprovar o potencial da terapia com a substância para a doença.
Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, recrutaram 24 voluntários que enfrentavam a depressão há, pelo menos, dois anos. Todos tiveram que abandonar os antidepressivos e passaram a receber duas doses de psilocibina, com um intervalo de duas semanas entre elas. Os resultados mostraram que 67% dos participantes tiveram uma redução de mais de 50% nos sintomas em uma semana de tratamento.
Lei sobre cogumelos no Brasil
Vale ressaltar que a psilocibina e seu metabólito ativo, a Psilocina, atualmente integram a “Lista de Substâncias Psicotrópicas” de uso proscrito no Brasil, de acordo com a portaria 344/98, da Anvisa. Mesmo assim, é possível encontrar coguemelos para comprar ou até cultivar muitas vezes. Isso porque não existe uma listagem explícita de cogumelos proibidos e portanto tudo pode depender da interpretação de uma autoridade.
Breve história da Psilocibina e dos cogumelos mágicos
Talvez você não saiba, mas os cogumelos já são usados para fins ritualísticos há pelo menos 3.000 anos. Acredita-se que os fungos Psilocybe, Panaeolus e Conocybe (que se desdobram em quase 200 espécies) eram usados pelos povos Asteca-Náhuatl, no México, para finalidades xamânicas semelhantes às das populações siberianas, que utilizavam o cogumelo Amanita muscaria.
No Brasil, um dos tipos mais comuns é o Psilocybe cubensis, famoso por surgir em pastos e ser bastante psicoativo. Tem como habitat os pastos abertos e úmidos, o solo argiloso e o esterco bovino. É mais raro que surjam cogumelos Panaeolus no ambiente do pasto, mas pode acontecer. Já o Amanita muscaria é bem difícil de se ver surgindo de forma orgânica no Brasil, sendo encontrando apenas em algumas regiões do Sul do país.