Você pode não conhecer Gregório Fernandez, mais conhecido como Goyo, mas o setor canábico deve muito a este grande homem que foi um dos pioneiros na defesa dos cultivadores de maconha e nos deixou em novembro deste ano.
Nascido na Espanha, Goyo sempre foi um ativista que lutou pela regulamentação dos clubes, pelo auto-cultivo e mais tarde, pelo uso medicinal, quando foi diagnosticado com câncer. Teve grande participação nas questões de acesso ao remédio, defendendo o direito do paciente cultivar seu próprio medicamento.
“Goyo era um crítico do modelo de regulação espanhol, bem como do próprio movimento antiproibicionista local e ele apresentava boas razões. O movimento, dizia ele, estava desarticulado em razão dos avanços conseguidos com o reconhecimento dos clubes, o que teria arrefecido sua potência; já os clubes, que nasceram da organização do movimento, estavam sendo desvirtuados de seu propósito pelo capital, com a criação de verdadeiros coffee shops por toda a Espanha. Isso parecia lhe afetar profundamente os ideais. Goyo era um militante antiproibicionista histórico”, diz o advogado Rodrigo Mesquita, que esteve com Goyo em julho de 2016.
Foi membro fundador da Asociación Ramón Santos de Estudios del Cannabis (ARSEC), primeira associação de cultivadores da Espanha, criada no início dos anos 90. Alguns de seus membros foram processados e o caso chegou ao Tribunal Constitucional e ele se autoincriminou. A plantação foi destruída, mas aquele episódio abriu caminho para o reconhecimento social e institucional dos clubes de cannabis como o conhecemos hoje. Através da ARSEC, Goyo dialogou com as instituições, meios de comunicação e organizou diversas conferências.
Apesar das críticas ao modelo espanhol, reconhecia que embora com problemas, obviamente ainda era preferível um mercado minimamente regulado do que deixar nas mãos de organizações criminosas violentas.
“Ele pôs a própria liberdade em risco para que aquilo acontecesse”, lembra Mesquita.
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Junto com seu amigo Karullo, fundou a primeira growshop da Espanha e foram os primeiros a começar vender sementes no país.
“Graças a ele, o cultivo na Espanha se popularizou”, afirmou Willian Lantelme, fundador do Growroom, que conheceu Goyo em 2003.
Mais tarde, eles criaram a revista Cañamo, a mais popular do país sobre cannabis. Neste quesito, Goyo também foi pioneiro em fotografias de plantas de cannabis.
“Goyo era um dos poucos intelectuais nesse mundo da cannabis. Era muito inteligente e culto, leu milhares de livros que com tanto cuidado os manteve até hoje”, conta Luiz Felipe Mazza, que conheceu Goyo em 2010. “Ele era uma pessoa incrível, tão boa e tão doce que eu fico mal até de lembrar. Vai deixar muita saudades, gente desse tipo já saiu de série.”
O Growroom também deve uma ao Goyo. Em 2006 nós tivemos um problema legal com nosso servidor hospedado na Europa e na ocasião, Goyo se ofereceu para colocar tudo no nome dele.
“Mudamos de servidor, colocamos no nome dele e seguimos até os dias de hoje. No Brasil podem nem saber quem ele foi, mas com certeza todos devem muito ao Goyo por ter tido essa atitude”, recorda William.
No Facebook, William escreveu a seguinte mensagem: “Sua sabedoria e suas experiências sempre nos inspirando e clareando nossas ideias. Visões que só alguém que viu tudo desde o inicio poderia enxergar. Com mucho carinho, respeito e gratidão me despeço de você Goyozito! Acendo esse em sua homenagem e nos vemos em breve!”
Aos familiares e amigos, nossos sinceros sentimentos.
Veja uma entrevista que Goyo deu em 2014 ao canal Blimburn TV:
Em memória de Gregório Fernandez, o eterno Goyo