Ana Daminelli tinha 16 anos quando sentiu seu primeiro espasmo. Nessa época, o distúrbio apareceu de forma leve, e ela não deu muita importância para o problema. Como estudava e trabalhava desde os 15, acreditava que os espasmos eram decorrentes de uma sobre carga em seu cotidiano, e foi deixando pra lá.
Com o passar do tempo a situação foi se agravando, ao ponto dos espasmos acontecerem frequentemente. “Depois de uns meses, eu comecei a ter todos os dias. Eu derrubava café em mim mesma e nos outros, eu quebrava copos, às vezes batia sem querer em uma pessoa ao lado, eu ficava totalmente constrangida com tudo isso”, ela conta.
Aos 9 anos, Ana vivenciou desentendimentos familiares e desenvolveu uma depressão muito forte. O médico receitou remédios tarja preta para o tratamento do transtorno. Ela tomou os remédios durante a noite até os 21 anos, para dormir, aliviar o estresse e a depressão. Ela diz que começou a querer parar de tomar os remédios pois eles a faziam muito mal, “eu só tinha sono e não melhorava em nada meu emocional”.
Os espasmos ficaram cada vez mais constantes, o bem estar ficou completamente abalado, ela chorava escondida de vergonha, a depressão voltou com tudo, atingindo um nível que Ana começou a considerar fortemente a hipótese de um suicídio.
Após muitos exames, os médicos não conseguiram encontrar nada que explicasse a razão dos espasmos e concluíram que tratava-se de estresse (algo que ela sempre refutou) e decidiram receitar mais remédios. Ela recusava-se a utilizar mais química no corpo, em razão dos inúmeros malefícios que estes causavam.
No final de 2014, Ana deparou-se com um vídeo no Facebook, de uma criança que sofria de epilepsia e era medicada com óleo de cannabis. Seu primeiro pensamento foi completamente negativo com relação àquilo.
“Sempre tive uma hipocrisia padrão, de julgar alguma coisa que você não conhece. Eu andava com uma galera que é contra qualquer outro tipo de droga que não é vendida em farmácia. Eles diziam que maconheiro não presta, que era isso e aquilo, e eu acreditava neles, sem saber que um dia eu precisaria de uma dessas ‘drogas'”.
Depois de pesquisar profundamente, ler e se informar sobre o assunto, ela verificou que a erva poderia realmente ajudar no tratamento de diversas doenças, inclusive transtornos que a acometia como a insônia e a falta de apetite. A partir de então, ela resolveu enfrentar seus preconceitos e pediu o conselho da mãe, que por muito tempo foi Testemunha de Jeová. Para sua surpresa, sua mãe agiu naturalmente à decisão de experimentar a maconha como forma de tratamento.
“Eu disse pra minha mãe que a maconha era minha última tentativa, e se isso não funcionasse eu desistiria. Ela falou que tudo bem e perguntou onde comprava. Foi uma reação extremamente surpreendente e positiva. Ela falou que se ela podia tomar um chá de boldo, eu poderia tomar um chá de maconha, que ela não via diferença e que não entendia o porquê da planta ser ilegal.”
O que se viu a partir de então, foi uma melhora significativa em seu quadro de saúde, os espasmos praticamente desapareceram. Se antes ela tinha 10 por dia, depois de começar a fumar maconha ter 1 por mês virou raridade. Além disso, os remédios para depressão viraram coisa do passado, e com eles, os pensamentos negativos também se extinguiram.
“Antigamente eu começava a chorar do nada, e começava a ficar muito mal. Desde que eu comecei a fumar, eu nunca mais tive uma crise depressiva. Meu apetite melhorou muito mais, hoje eu consigo almoçar e comer muito bem. Me sinto mais disposta. Meu sono melhorou em 200% e com isso meu humor também. Graças a erva eu não tenho medo de derrubar café em ninguém.
Pra mim a maconha é a cura. Eu e minha família acreditamos que ela seja a cura pra muitas outras coisas, nós somos prova do poder dessa planta. Minha mãe diz pra mim o quanto ela é grata por essa planta, que prefere mil vezes que eu fume 3 baseados por dia, do que eu tomar remédios de tarja preta, do que eu beber um monte de cerveja e sair vomitando e acordar de ressaca no dia seguinte. Minha mãe que antes era Testemunha de Jeová.
A melhor coisa é você sair do armário e conversar com a sua família. Porque independente da sua família ser contra ou não, se mais tarde ela descobrir por conta própria, vai ser pior. Acho que tá na hora de todo mundo sair do armário. Às vezes uma pessoa está sofrendo tanto com depressão, tomando vários remédios que ela não sabe nem pronunciar o nome, e às vezes por puro preconceito ou por ignorância, ela não experimenta uma erva.
Não precisa nem fumar, ela pode comer, tomar um chá. As pessoas precisam começar a buscar mais informação. A maconha é meu remédio e eu quero poder plantar meu remédio na minha casa.
Vamos abrir mais a nossa mente antes que nossa boca. Um dia pode ser seu filho ou você na minha situação.”
Ana Daminelli tem 22 anos e se vê salva pela maconha. Ela nos escreveu para contar um pouco sobre seu caso e incentivar outras pessoas a deixarem seus preconceitos de lado.
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