29 de março de 2014
hoje finalizaram-se os pouco mais que 10 dias surfando ondas totalmente tubulares, de tudo quanto é tipo e tamanho, aqui no bairro. a sensação é muito parecida com aquele excesso de adrenalina que fica depositado no corpo na semana da "chegada" de uma surf trip extrema, tipo aquelas feitas nas férias..
imagina o "depois" de uma estadia em águas hawaiianas, mexicanas, tahitianas, ou simplesmente, no quintal da própria casa..
se eu fosse detalhar dia após dia o que vivi nesse tempo,
com certeza escreveria livros, mas tentarei trazer um pouco de vida nessas linhas que inicio a escrever..
lembro que o ultimo dia descrito deste diário de bordo estava
na microvalinha da 20, em frente ao Richard, surfando ondinhas de meio metro que percorriam
dezenas de metros e faziam a alegria dos pais e das crianças
que já trazem a hereditariedade do surf mesmo com idade para serem apenas crianças..
QUARTA-FEIRA, 12 ou 19 de março de 2014
hoje o sol anunciou desde a manhã que seria um daqueles dias de tirar o folego, de tanta beleza, igual o dia de ontem! O mar ainda não deu o teor do outono,
mas este verão ainda que extremamente tardio e inexistente no quesito ondas grandes trouxe a alegria dos corações adrenalizados em forma de ondinhas com pouco mais que meio metro, extensas, azuis turquesa, conforme a disposição do sol no dia (a partir do meio dia, o sol ilumina o "interior" de ondas tubulares
e o que se vê são cilindros de água azul turqueza iluminada, que devido ao brilho do sol na água tudo parece ouro líquido, no auge do que alguma vivencia com teores lisérgicos possa oferecer..
..e tudo isso apenas com as ondinhas com meio metrinho de tamanho! vai vendo!
Perto da uma hora da tarde, já encaminhado na areia rumo a 20, caminhando rente ao mar na maré baixa, observei uma coisa simples, mas que me deixou anestesiado, pela beleza do momento..
devido a maré estar baixa, as ondas quebravam muito perto da areia, vagarosamente, mas extremamente tubulares e devido ao sol, num extremamente azul turquesa translucido iluminado, e passava pela gente dando o ar de sua graça. uma destas, passou na minha frente, ao meu lado na areia cintilando o brilho do sol que refletia o minimo terral que texturizava a agua, fazendo com que a onda parecesse impregnada daqueles brilhos das mágica dos desenhos animados.. LINDA! ANIMAL!
Ao chegar na microvalinha lá na 20, o Neto remava sua versão de HANDSURF e despencava em microtubos extremamente iluminados e lisérgicos (num desses, diz que até conseguiu dropar, entubar e sair pela porta da frente nessa sessão de jacaré!) parece que o esporte está de volta na área, legado do Caju e do Alfredo Feierabend, eximios surfistas modalidade JACARÉ GIGANTE. kkk
O Richard passava os ensinamentos do esporte pro filhote, acompanhando toda a movimentação do Rodrigo nas ocasionais ondas de um metro que aconteciam nas cercanias no canto do moreira. numa determinada hora da sessão, uma série aportou no outside, filho remando e escalando a "morranca", observado de dentro d´água pelo pai, que o seguia remando a poucos metros
O acontecimento mais bacana deste dia foi uma fração de tempo que juntou 4 personagens da história underground do surf paulista, de repente o RyL retornava de uma dessas longas esquerdinhas quando passou pelo Richard vindo numa direitinha idem.. e no momento seguinte uma unica onda comportou o Joaquim e o Edilson, que para não se trombarem, seguiram "comprimentados" até o inside.
Quatro personagens, protagonistas de uma ação de resgate diplomático com requintes dramáticos, ocorrida no inicio dos anos 90, entre o Brasil e o Equador, embate que durou 5 anos, tempo que durou a sensação de esperança perdida para resgatar um grande amigo e surfista de alma que por ingênua cobiça quase o levou para a prisão perpétua..
um destes surfistas teve a ideia de estampar uma foto deste amigo numa camiseta
e vender para amigos e juntar dinheiro suficiente para livrar nosso amigo da prisão perpétua
outro destes quatro surfistas fez toda a conexão entre o fotografo, o dono da marca de surfwear (na pessoa do Alfio pela Hang Loose, e de todo o departamento de criação, Roni e Ricardo Lumbra, Luis O´hara e Luiz Sala "Feio", acompanhou a produção e a distribuição das camisetas para arrecadar a verba para "resgatar" nosso amigo.. chegou até, como entrevistador, ir por intermédio da extinta revista de bolso VENICE de propriedade do Edu e do Wanderlei, até a prisão equatoriana onde se encontrava, e entevistá-lo, trazendo mais pessoas para o conhecimento dos fatos e conseguindo mobilizar a sociedade e definitivamente realizar o MILAGRE de trazer de volta um dos maiores surfistas de remada que Maresias criou como mãe..
outro destes quatro surfistas foi o cara que sempre apadrinhou desde o inicio deste surfista, sempre foi tratado como irmão ou parente da familia, e nunca abandonou a ninguém nas horas mais dramáticas..
o ultimo destes quatro surfistas que estiveram presentes nessa ondinha mágica foi o protagonista deste entrave diplomático que durou perto de 5 anos e quase dizimou a esperança de milhares de surfistas que torceram por um final dramático, mas feliz!
..e tudo isso aconteceu numa simples ondinha, numa destas tardes de verão, quase 20 anos depois!!!
era mais provável que estes quatro já estivessem mortos,
mas por obra e graça de Deus estivemos reunidos EM FAMILIA no dia de hoje.. perdoem-me se me estendi demasiadamente
SEXTA-FEIRA 14 de março de 2014
Confiando numa reprise do dia de ontem, com ondas pequenas e boas, sem ter consultado o windguru, cheguei pela entrada 8 e o que vi foi o suficiente pra me deixar triste por ter que voltar ao sertão e trocar o equipamento.. Ao passar pelo Bola, vi que a vala da 8 mais lembrava Fernando de Noronha: uma onda com 8 pés linda, azul turquesa e extremamente tubular se descortinava rumo ao inside bem de frente aos nossos olhos..
O mar estava cheio de surfistas dispostos a encarar o surf na remada e isso me deixou bastante contente, apesar do stress de ter que voltar pro sertão pra trocar equipamento e perder momentos muito raros e preciosos que aconteciam bem diante de meus olhos..
Fui, troquei a 6´5", armei a 7´2" modo quadriquilha e me mandei pro canto do moreira..
chegando lá, muito poucos se encontravam perto do 2.000, o surf estava pesado, mesmo já passados aqueles momentos de extrema perfeição. Fui cuspido uma primeira vez, e consegui varar numa segunda tentativa e aí foi tudo sussa.. O marzão, o silencio e a sensação de paz e plenitude de uma remada constante. Mar mudando rapidamente, ondas beirando mais o inside, vindas com bastante tamanho e volume de um outside cada vez mais duvidoso de se posicionar. Lembro de ter passado bem umas duas horas vigiando o horizonte pra não ser pego de surpresa, pois estava fácil se desconcentrar e botar tudo a perder num caldo mais severo.. maré extremamente rasa, ondas quadradas e tubulares e area de drop indefinida, era o que me oferecia a maré naquele momento.
Por algumas vezes, naquela sintonia fina de observação continua das ondas no horizonte, consegui detectar as finas linhas no horizonte que mais pareciam cabelos esticados a 50 cm dos olhos, e identificar exatamente onde estes "cabelinhos" iriam explodir como trens de carga líquidos em algum ponto do inside..
ocorre que num tempo depois, o que observei não eram linhas comportadas no horizonte, que lembravam cabelinhos esticados, mas "DREADS" extremamente temperamentais..
não sei por que, ou sei exatamente o porque que meu corpo começou a remar de imediato pro fundo do horizonte, mesmo que minha mente, naquele momento, se perguntasse:
"-Caralho.. o que que eu estou fazendo aqui..?!?
está a maior LAGOA este mar e estou remando pro horizonte na frente desta praia lotada..
perdeu a noção do ridículo? olha o mico que você está pagando..!"
..e nada do corpo obedecer e parar a remada.
5 minutos depois (eu disse 5 minutos depois) e a uns 200 metros na minha frente
o que pareciam sem linhas inofensivas começaram a se armar e aumentar de tamanho vertiginosamente!
a remada que seguia compassada e num ritmo firme
agora mais parecia eixo de locomotiva.. 3 ondas, duas delas muito grandes,
passei meio que escalando e remando ainda mais forte pra enfrentar o que sabia o que viria pela frente..
e, de repente, lá estava ela! a ONDA DE MARÉ, mais conhecida como onda aberrante num sistema de ondas aberrantes, cravando o momento de maior amplitude oceanica do dia, se armando gigante, poderosa, a poucos e preciosos metros de mim..
a mente agora reagia com extremo extase e contemplação.. as ultimas vezes que tive a oportunidade de me deparar com uma onda dessas e tentar surfar ela não tive exito. Uma delas foi no dia da ultima versão do Red Nose Tow In Championship, quando por uma distração parei de remar e tive que enfrentar a implosão do impacto de uma onda com quase 6 metros que se dobrava na minha frente, me forçando lidar com uma situação de sobrevivencia debaixo d´´agua negociando com o volume de água e com a presença do meu amigo Nastas a tiracolo, pois o mesmo havia se estilingado pra dentro desta onda via jet ski, pois estava concorrendo no Red Nose no surf a reboque e ao me ver retornou o drop se espetou pra dentro dela e veio junto com o caldo pra cima de mim! foi extremo, acho que tem um post aqui que relata este evento.
Da outra vez, outro momento de distração, este relatado aqui, no dia 29 de dezembro do ano passado, quando o resultado foi uma prancha quebrada em 4 pedaços e um retorno à praia nadando de costas até a praia.
mas desta vez foi diferente! remando num ritmo forte a mais de 5 minutos num mar parecido com uma piscina, consegui escalar a besta até seu pico e atravessá-la, deixando pra trás uma explosão de água cujo rastro atravessava a praia de costeira a costeira, como se a orla toda fosse um imenso ralo submarino e eu o unico a me safar..
desta vez eu consegui "tocar" a onda de maré com minhas próprias mãos, na remada.
é uma coisa parecida como escalar o monte everest.. não é um evento que consagra ou dá dinheiro,
mas é uma sensação gostosa poder lembrar o que eu vivi até o presente momento. venho estudando e
pesquisando estas ondas por toda uma vida, e poder desfrutar da sintonia de poder estar me encaminhando
pro momento certo, na hora certa, de certa forma me deixa muito feliz!
tõ sentindo que corrigindo alguns pequenos "atrasos" ao desenvolver tarefas no dia a dia
está me permitindo estar cada vez mais em sintonia direta com estas manifestações de energia..!
um dia desses eu já poderei taxear a remada e partir pra uma decolagem firme e segura pra dentro de um destes canudos..!
amarradão!
SÁBADO, 15 de março de 2014
nem lembro.. kkk sei que estava bão!
DOMINGO, 16 de março de 2014
Mar storm e cinza, com muita influencia de vento sul
aliado ao baixo periodo de vaga (8-9 segundos) fizeram deste dia um interminavel dia de espera, pois sabia que o mar,
na ultima hora de luz estaria absurdamente perfeito e tubular e com bastante tamanho. Dito e feito, foi chegar no canto e começar a cruzar a
galera que acreditou e veio. O mar estava INACREDITAVELMENTE PERFEITO! O Marcelo, pai do Cauê e do Cauan varou pela correnteza certa e passou por mim a milhão, pegando boas bombas durante a sessão. Destaque pro Mika que dropou várias e botou pra dentro em todas, pois sabia que o que lhe restava depois dessa sessão seria uma SEGUNDA-FEIRA CHEIA DE COMPROMISSOS NA CAPITAL.. O De de Bertioga também apareceu e surfou as ondas com sua habitual calma e estilo, surfou bons tubos e teve as boas ondas as quais costuma atrair para si.
SEGUNDA-FEIRA, 17 de março de 2014
hoje foi o dia dos ditos "locais" de outras praias fazerem a "feirinha" nas ondas do canto direito da praia e colocar a conversar em dia. Da galera local aos idolos das praias vizinhas, todo mundo aproveita pra surfar e treinar nas valas da praia
QUARTA- FEIRA, 26 de março de 2014
Mais um dia extremamente ensolarado com ondas de até 1 metro e meio beem tubulares
QUINTA-FEIRA, 27 de março de 2014
Mais um dia com ondas extremamente ensolaradas e tubulares.
SEXTA-FEIRA, 28 de março de 2014
finaleira de swell.. pois é, galera, estes ultimos 10 ou 15 dias mais pareceram uma surf trip gringa! quem pôde, aproveitou..
parece que quinta-feira tem mais!