03/09/2012 - 19h03 Especial - Atualizado em 03/09/2012 - 19h18
Mobilização nas redes sociais aumenta participação em enquetes
O número de votos na enquete que trata da descriminalização do porte e do plantio de drogas para uso próprio foi potencializado pela mobilização na internet e nas redes sociais de grupos interessados no tema.
Pedro Miranda, 31 anos, integrante do grupo Promotores da Vida, ligado à arquidiocese de Brasília, disse que costuma ficar atento a consultas de veículos de comunicação e que tratam de assuntos relacionados à “defesa da vida”. Se algum integrante do grupo detecta um espaço para manifestação, o “alerta é dado”, explicou.
– Trabalhamos sem uma coordenação, mas tentamos promover a participação transmitindo fotos, mensagens e criando um evento no Facebook para convidar os amigos, chamado ‘Eu já me manifestei’. Distribuímos material sobre a enquete para diversos estados – contou Pedro Miranda, que cuida do Facebook, enquanto outros colegas atuam no Twitter ou mandam convocações via e-mail.
Pedro Miranda disse que o seu grupo costuma começar as enquetes perdendo. Segundo ele, as pessoas que fazem a mobilização “pelo outro lado” realizam um trabalho profissional.
– Mas o nosso intuito não é forçar uma ideia, mas passar uma opinião.
Professor de informática, Diego Alecsandro, 23 anos, mantém o blog LegalizeParaná e é um dos representantes do “outro lado”. Ele descobriu nas redes sociais que havia uma movimentação em relação à enquete e aproveitou para divulgá-la junto a outros grupos em defesa da descriminalização da maconha.
– Fazemos um trabalho de informação sobre os prós e contras do uso da maconha, para quebrar o tabu que ainda existe em relação ao assunto. O resultado foi muito bom. Eu não esperava, pensei que podia haver uma virada no final. Mas mostra que as pessoas começam a perceber que o tratamento dado à maconha só contribui para o aumento da violência – disse Alecsandro, ressaltando que sua posição é somente em relação à maconha, para a qual sugere um tratamento legal semelhante àquele conferido ao álcool.
Consultas que envolvem temas de interesse de grupos organizados costumam ter grande participação de internautas. O maior número de votos em uma enquete do Senado (545 mil) se deu em 2009, na consulta sobre o projeto que regulamenta o chamado Ato Médico, com intensa mobilização de entidades de profissionais de saúde.
No mesmo ano, houve grande repercussão em enquete que tratou do projeto que considera crime a homofobia, quando foram registrados 465 mil votos. Levantamentos sobre o projeto que inclui a corrupção no rol dos crimes hediondos, com 426 mil participações, e sobre as cotas nas universidades públicas, com 359 mil votos, também atraíram muitas pessoas.
Enquetes e pesquisas de opinião
A mobilização dos grupos, nas enquetes, ocorre apesar de não contarem com valor científico, não podendo ser equiparadas às pesquisas de opinião.
As pesquisas são realizadas dentro de metodologias consagradas e, portanto, confiáveis, para que possam receber essa classificação. Um dos cuidados é o da escolha de um universo de entrevistados representativo do total da população. Para isso é necessário que extratos e faixas, como o sexo dos entrevistados, a idade e a renda, sejam contemplados. No caso do gênero, o total de mulheres entrevistadas deve representar 53% do total de pessoas entrevistadas, já que as mulheres equivalem a 53% da população brasileira.
No caso das pesquisas do DataSenado, as entrevistas são feitas por telefone e os números são sorteados numa base de dados nacional. As entrevistas são gravadas, de modo que 20% delas possam ser auditadas. Evitam-se assim equívocos ou fraudes capazes de distorcer os resultados.
Outro cuidado é a utilização de uma mensagem gravada no início do telefonema, sinal ao possível entrevistado de que se trata de um serviço do Senado. Ao entrevistado também é oferecida a chance de contatar a Sepop, por meio do telefone 0800, para conferir se está mesmo participando de uma pesquisa de opinião.
Já a enquete é uma sondagem sem rigor metodológico, já que não há segmentação dos entrevistados, segundo faixas da população, e a média das opiniões reflete o parecer somente daqueles que responderam as questões. Por outro lado, a iniciativa da participação fica mais a cargo do público, especialmente no caso das enquetes disponibilizadas na internet.