Siro Darlan: Por que defendo a legalização das drogas
Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio e membro da Associação Juízes para a Democracia
Rio - Por 14 anos fui juiz da Infância e da Juventude do Rio. Também fui juiz da Vara de Execuções Penais. Filiava-me dentre aqueles que demonizavam drogas e traficantes. Testemunhei que nada se fazia em matéria de saúde pública para ajudar as vítimas das drogas. Ouvi de autoridades a afirmação de que, além de ser muito caro o tratamento, não havia formas de proteger as crianças das influências e consequências. Experimentei atitudes radicais como a de mandar prender médicos dos hospitais públicos que se recusavam a atender crianças vítimas do uso da cola de sapateiro.
Toda essa luta desaguava na falta de interesse em olhar para essa questão como problema de saúde pública. Pior que isso, o ‘combate armado’ aos traficantes interessava sob o ponto de vista econômico, pois alimentava a corrupção policial e, como bem mostrou o cinema, passava pelos interesses políticos. A última incursão no Alemão com os policiais portando mochilas mostrou a cumplicidade com o tráfico. Mochilas com ouro, dinheiro e cocaína, segundo informam alguns policiais e moradores destemidos que testemunharam os fatos.
Vi então que combatia o mau combate e estava iludido como a grande maioria das pessoas que estudam na cartilha dos grandes veículos de comunicação, principais interessados na manutenção do status quo. Dessa forma passei a me filiar dentre aqueles que preferem a verdade dos fatos a viver numa ilusória hipocrisia. E a proibição pura e simples só interessa àqueles que fingem combatê-la. Concluí que o caminho da educação é o melhor e mais responsável. Daí porque me filiei à Leap Brasil para defender a legalização da venda das drogas com alta tributação carimbada para o processo de educação e esclarecimentos aos usuários como uma forma responsável e eficiente de impedir que a corrupção política e policial continue se alimentando dessa guerra suja e hipócrita e que a falta de orientação e apoio continue matando tantos inocentes.
Fonte: O DIA