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  1. O "cannabusiness" ganha impulso em Israel Visitar a plantação de maconha do grupo farmacêutico israelense BOL Pharma é quase como uma gincana. Você marca um encontro em frente a uma casinha de madeira, no centro de um vilarejo do norte do país. Um carro passa para pegar o visitante e o leva até um complexo anônimo, com segurança reforçada e nenhum logo da empresa na parede. Arame farpado, fosso e câmeras de segurança protegem a plantação, onde a cada ano são cultivados cerca de 200 mil pés de maconha para fins terapêuticos. Uma aura de proibição e de segredo continua a cercar essa indústria, em cujo potencial econômico seus atores continuam a acreditar piamente. Em Israel, a maconha continua sendo uma droga ilegal e perigosa. Mas seu uso medicinal, estritamente regulamentado, é autorizado há cerca de uma década. Hoje, 23.500 pessoas que sofrem de câncer, epilepsia, dores crônicas e certas doenças neurológicas são autorizadas a consumir a erva para aliviar seu desconforto. Esse número deverá aumentar ainda mais, agora que um projeto de reforma prevê liberar todo o sistema até o verão. O ministro da Saúde, o ultraortodoxo Yaakov Litzman, quer que a prescrição de maconha seja facilitada, assim como a venda, em uma ampla rede de farmácias credenciadas. "Nosso avanço nos dá uma vantagem considerável: nenhum outro país pode reivindicar uma presença nesse setor há tanto tempo e um conhecimento tão grande dos princípios ativos da cannabis", comemora Tamir Gedo, presidente da BOL Pharma, um dos oito produtores que receberam aprovação do governo. Sua empresa cultiva maconha desde 2008. Na estufa de floração, uma série de plantas prospera com luz natural. O grau de umidade é controlado por computador, assim como os parâmetros bioquímicos de cada flor, única parte da planta própria para comercialização. O resto deve ser destruído. Assim como muitos de seus pares, Gedo pensa grande e longe. Ele explica que Israel, com seus mais de 8 milhões de habitantes, menor que uma região francesa como a Lorena, "não pode ser nossa perspectiva econômica". O empresário quer uma presença internacional, e se lançou na construção de 130 hectares em estufas no mundo inteiro, em países cujos nomes por enquanto ele prefere não revelar. Em Israel, é proibido os produtores exportarem suas flores de cannabis. "Há certos membros do governo que temem que o país seja retratado como um exportador de armas e de drogas", explica Michael Dor, médico-chefe da Agência Oficial da Cannabis Medicinal. Então os membros do "cannabusiness" estabeleceram outra meta: comercializar seu conhecimento médico, agronômico e tecnológico. Funcionário segura pacote de maconha medicional pertencente ao maior fornecedor em Israel, Tikun Olam, em Tel Aviv Este é bem conhecido, pois Israel é mais liberal do que qualquer outro no que diz respeito às pesquisas. Os testes clínicos que exploram as vantagens curativas da ganja são incentivados no país, colocando produtores para trabalhar junto com laboratórios de ponta. A ciência da maconha medicinal é até mesmo tema de um curso na prestigiosa universidade de Technion, em Haifa. Esse know-how tem suas raízes em uma história já antiga. Foi um israelense, o químico Raphael Mechoulam, o primeiro a isolar e a sintetizar o THC (tetraidrocanabinol), a molécula psicotrópica da cannabis, em 1964, uma descoberta que abriu o caminho para seu uso terapêutico. No mundo médico ainda é essencial ter cautela, uma vez que muitos médicos alertam para os riscos de vício e de distúrbios comportamentais, e ressaltam que os estudos conduzidos até hoje se basearam em pouquíssimos pacientes. Já Yoda (que prefere manter o anonimato) só vê os efeitos benéficos. "Se ela não vai me curar, pelo menos a erva me permite viver minha vida", conta esse homem de 50 e poucos anos que há 17 sofre com um tumor no cérebro. Durante anos as biópsias provocaram nele violentas crises de epilepsia, até quinze por dia. "Faz dois anos que consumo maconha, e elas sumiram", ele conta com um sorrisinho nos lábios. Todo mês Yoda consome 150 g de maconha, de duas variedades: a Erez, com alto teor de THC, e a Avidekel, altamente concentrada em canabidiol e sem efeito de torpor. É em Tel Aviv, em uma farmácia com porta de ferro abaixada e vigiada por um segurança, que ele vai buscar seu tratamento. Ali, em meio a um forte cheiro da erva, os pacientes passam para retirar suas doses em sachês, baseados, óleo e cápsulas, a um preço fixo de 370 shekels (R$ 350) por mês. A autoria dessas variedades é do grupo Tikun Olam, que também administra essa "farmácia", hoje tão única em seu gênero em Israel. A empresa, cujo nome em hebreu significa "consertar o mundo", é a principal produtora de maconha terapêutica do país, fornecendo para mais de um quarto dos pacientes. A Tikun Olam está de olho nos mercados internacionais, e em 2015 firmou um acordo com a produtora canadense MedReleaf. Ela autorizou esta última a cultivar certas variedades desenvolvidas pela israelense. A Tikun Olam também acaba de fechar com um grupo de investimentos americano. "Como uma marca, nós lhe vendemos nossos direitos para que ele faça negócios em nosso nome", explica Ma'ayan Weisberg, porta-voz da empresa. "Construir uma indústria próspera" O mercado americano, em plena ascensão, está repleto de promessas para os empresários israelenses da cannabis. Ainda que a maconha seja ilegal em nível federal no país, 24 Estados já legalizaram seu uso medicinal. Segundo a empresa de análises especializada New Frontier, o faturamento da maconha terapêutica nos Estados Unidos atingiu US$4,2 bilhões (quase R$ 15 bilhões) em 2014 e deverá subir pra US$10,7 bilhões (R$ 38 bilhões) até 2020, o suficiente para atiçar a cobiça de Israel, onde o mercado local, segundo estimativas diversas, mal ultrapassa US$ 20 a US$ 25 milhões. Além disso, o know-how de Israel começa a atrair os Estados Unidos, onde a pesquisa científica sobre a erva é limitada, ou até impossível. "Israel é o destino de fato para os investidores internacionais nesse setor", explica Jeffrey Friedland, CEO da empresa americana Friedland Global Capital, que já investiu em duas empresas de agrotecnologia e em uma empresa farmacêutica em Israel. "Nesses países, você tem ao mesmo tempo a ciência da planta, a agrotecnologia, a pesquisa médica e a inovação para os sistemas de administração da cannabis", ele enumera, explicando que está em conversas para investir em quatro outras empresas israelenses. Seja em compra de patentes, seja em financiamento de start-ups, os investimentos americanos nesse mercado de Israel chegam a US$ 50 milhões desde 2014, segundo cálculos de Saul Kaye, organizador da CannaTech, uma conferência sobre a maconha que reuniu cientistas, investidores e empresários de cerca de trinta países em meados de março, em Tel Aviv. "Esse montante deverá ultrapassar 100 milhões em 2017", ele afirma. "Vamos construir uma indústria tão próspera e renomada quanto a que fizemos com a alta tecnologia". Esse farmacêutico de formação acaba de se aliar à BOL Pharma para lançar a primeira incubadora israelense de empresas especializadas em cannabis medicinal. Várias empresas jovens já estão dando o que falar. Entre elas, a Syqe Medical desenvolveu um inalador de maconha, um aparelho que permite que o paciente consuma uma dose controlada de cannabis. No final de janeiro, a fabricante americana de cigarros Philip Morris investiu cerca de US$ 20 milhões na empresa. A outra sensação do momento se chama Eybna. A start-up se especializou em terpenos, compostos orgânicos que dão à maconha seu aroma e que possuem inúmeras propriedades curativas. "Antes só conhecíamos de 100 a 150 deles. Agora isolamos mais de 300", diz com orgulho Aviv Junno, porta-voz da empresa, associada por suas pesquisas aos melhores laboratórios de Israel. O objetivo é produzir um medicamento purificado, de certa forma "padronizado", que para tratar patologias específicas e que não teria efeitos secundários nocivos. A Eybna já conseguiu desenvolver essências de cannabis totalmente desprovidas de ingredientes psicoativos. A empresa, que acaba de fechar uma rodada de investimentos de milhões de dólares junto a fundos americanos e israelenses, vende esse produto legal para clientes de todo o mundo: fabricantes de cigarros eletrônicos, balas, velas e até mesmo sapatos, que querem dar a seus artigos a fragrância inebriante da maconha. Não importa que esse mercado não tenha muito mais a ver com a busca do medicamento ideal. A ideia é crescer, cada vez mais. Aviv Junno afirma, sem pudor: "O que estamos fazendo aqui é construir a Apple da indústria da maconha." noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/le-monde/2016/05/09/o-cannabusiness-ganha-impulso-em-israel.htm
  2. Dossiê "Cannabusiness": Hempcon Califórnia faz "show da maconha" Marion Strecker Em San Francisco O HempCon se apresenta como o “show da maconha medicinal” e acontece em várias cidades da Califórnia (EUA). O último ocorreu em San Jose, a segunda maior cidade do Estado (menor apenas que Los Angeles). San Jose está a menos de uma hora de carro de San Francisco, ao sul da Bay Area, região também conhecida como Vale do Silício, berço da nova economia mundial. Fui até lá com uma amiga, a também jornalista Christianne González, que está morando naquela cidade e me ajudou na produção desta reportagem. O centro de convenções onde acontecia o Hempcon ficava ao lado de um grande hotel. Tudo normal. Mas a entrada do público não me permitia entrar com câmera, como se cada telefone celular não contivesse uma câmera. Procuramos então uma entrada lateral e nos apresentamos profissionalmente. Deixamos a câmera maior ali e voltamos à bilheteria mostrar os ingressos devidamente pagos, que era o que mais importava para eles. Quando fomos recuperar a câmera maior, encontramos o mestre de cerimônia Crayz Alexander, 52, que cumpre essa função desde que o HempCon começou, dois anos atrás. Ele também é dono de um estúdio de tatuagem chamado Old School Tatto Parlor. Crayz conta que é filho de motociclista e usa maconha há 40 anos, desde que foi diagnosticado com DDA (Disordem de Déficit de Atenção). O ingressou do HempCon custou US$ 20 (por dia) e o evento durou três dias, de 11 a 13 de novembro. Antes que me perguntem se o ingresso dava direito a experimentar a droga a resposta é não. Mas na verdade é sim, porque é possível achar estande oferecendo amostra grátis ou oferecendo teste de equipamento que transforma maconha em vapor. Esses testes são feitos do lado de fora do salão de convenções, num estacionamento aberto, já que dentro é proibido. O evento está organizado em três partes: um congresso repleto de palestras; uma feira de produtos relacionados ou não ao cânhamo e à maconha; e uma feira de maconha apresentada nas mais diversas formas, desde mudas da planta até carne seca contendo os princípios ativos da erva. No congresso, por três dias profissionais e especialistas mostraram ao público as novidades sobre como plantar, tratar, usar e clonar maconha. Entre os temas estavam a maconha hidropônica, como iniciar uma plantação ao ar livre, as diferenças entre plantações orgânicas e químicas, a clonagem, como preparar e tratar o solo, os insetos que podem atacar a plantação, a plantação sustentável e debates entre expoentes da “indústria” da maconha para discutir a situação dessa erva na Califórnia hoje. Não notei no público grande interesse pelas palestras, já que as cadeiras estavam em grande maioria vazias, ao menos no primeiro dia. O público estava mesmo interessado nos produtos. Não, a maconha não é liberada nos Estados Unidos. Mas a Califórnia, assim como diversos outros Estados do país, tem uma legislação que permite seu uso medicinal. E é assim que esse tipo de evento pode acontecer. Há especifidades nos limites legais definidas por cada município. A Justiça federal não aprova nada disso e está em ofensiva contra a maconha. A primeira parte da feira, aberta também a não pacientes, tinha estandes com inúmeras variedades de cachimbos, piteiras e narguilés, de todos os materiais imagináveis, além de mil modelos de moedores para a erva. Tinha também luzes especiais para criar a planta em ambientes internos; estande de rede social especializada em farmácias, serviços de entrega em casa, médicos e lugares para fumar maconha (www.SensiHunt.com); bancas de camisetas, bonés, cartazes; e banca de velas e cosméticos feitos com semente de cânhamo (a planta da maconha). Tinha ainda objetos de decoração, peças de campanha pró-liberação da maconha e outros estandes sem nenhuma relação direta com a droga. Por exemplo: estandes políticos. Num deles, o professor aposentado Paul Gilbert, às vésperas de completar seus 80 anos, colhia muito seriamente assinaturas para uma campanha pelo fim da pena de morte nos EUA. Noutro estande se arrecadava dinheiro para uma organização especializada em tirar legalmente os “bad boys” da cadeia. Maconha vaporizada Mas a última moda, para evitar os males do fumo, parece ser consumir a maconha vaporizada. Funciona assim: o sujeito põe a erva num equipamento que aquece o produto a uma temperatura controlada, sem queimá-lo. Então basta inalar. Quem explica é a executiva de negócios Amber Hobbs, 23, que trabalha para a rede Got Vape (www.gotvape.com), responsável pela distribuição de uma vasta gama de equipamentos do gênero. Há desde vaporizadores portáteis, desses que cabem no bolso, até equipamentos maiores, alguns poucos que lembram hospital. Não vi nenhum no HempCon que custasse menos que US$ 90. O mais caro que encontrei custava pouco menos de US$ 800, um modelo digital da linha Volcano, em promoção. Outro efeito benéfico dos vaporizadores, explica a vendedora, é que os usuários podem evitar que o ambiente em que usam a droga fique todo empesteado com a fumaça e o cheiro da maconha. Mudas de maconha Mas a parte mais excitante para o público da feira era a parte dos pacientes, ou seja, a parte em que só se pode entrar apresentando o documento legal que algum médico emitiu informando que a pessoa recebeu prescrição para usar maconha para fins medicinais. Entre os males para os quais a maconha é prescrita estão câncer, Aids, glaucoma, falta de apetite, dor nas costas, espasmos musculares, insônia e estresse. E quem não tinha o documento mas queria entrar na parte dos pacientes? Bom, aí era só entrar numa fila pequena, ali mesmo dentro do centro de convenções. Alguns minutos de paciência, algum documento de identidade e mais US$ 80 bastavam para emitirem o documento na hora. Eu já tinha tirado o documento médico para entrar nas farmácias e fazer esta série de reportagens (diagnóstico: insônia e estresse!), então entrei na parte fechada da feira. Minha amiga ficou fora. Lá dentro encontrei mudas de maconha por US$ 5. Achei a planta tão bonitinha vendida em torrão que quase comprei. Mas como não tenho documento de identidade emitido na Califórnia, não poderia. Havia também à venda plantas um pouco mais crescidas, de várias espécies, entre elas Cat Piss e Jelly Bean. Nunca havia ouvido falar de nada disso no Brasil. Tudo bem, alguns leitores vão me chamar de “careta”, não me importo! Segundo o vendedor, em dois meses aquelas mudas estariam produzindo maconha da melhor qualidade. Dou a volta no estande e encontro um rapaz, Zack Nugent, 28 anos, vendendo pirulitos e doces da empresa Green House Candy, da qual é sócio. O slogan da empresa é: “A maneira mais doce de se medicar”. Ele não se importou nem um pouco em ser fotografado e contou que esse trabalho não só paga as contas como provê uma excelente maneira de se medicar. No fundo da feira encontrei ainda uma barraca de “jerk”, um tipo de carne seca muito popular nos EUA. A empresa Chronic Jerky (www.ChronicJerky.com) produz e industrializa essa carne seca com maconha, de modo a que as pessoas possam consumi-la em qualquer ocasião, inclusive na firma, sem chamar a atenção de ninguém. Minha conclusão é que o jovem de Oakland, Jesus Hernandez, tem toda razão em ver a maconha como um grande negócio. O HempCon não se parece em nada com um congresso acadêmico. É uma feira como outra qualquer, destinada ao público em geral. Ainda que não tenha números para provar, aposto que a maioria das pessoas ali faz apenas uso recreativo da droga, como em qualquer lugar, como no Brasil, como em tantos outros países do mundo. A única diferença é que em muitas cidades da Califórnia é atualmente possível ser maconheiro (ou maconhista, como diz um colega do UOL) sem ficar na mão de traficante. Basta plantar no quintal ou comprar na lojinha. Fonte: http://noticias.uol....da-maconha.jhtm
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