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Maconha resolve problemas sociais de PE!


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  • Usuário Growroom

Vou postar aqui o texto pra nao precisar sair do GR pra ler:

A capital da maconha

ISTOÉ mostra por que a região que abastece o mercado brasileiro não quer a legalização da droga

MÁRIO SIMAS FILHO E MAX PINTO (FOTOS), DE CABROBÓ (PE)

No coração do chamado Polígono das Secas - a mais árida e pobre região do Brasil - floresce atualmente uma ilha de prosperidade. Ela é formada por 30 municípios, que englobam 256 ilhotas do rio São Francisco. Trabalhadores que antes recebiam meio salário mínimo mensal nas frentes de combate à seca agora embolsam o mesmo valor em apenas dois dias de serviço. Pelas estatísticas dos sindicatos locais, o índice de desemprego ainda gira em torno de 50% da população economicamente ativa. A realidade de municípios como Cabrobó, Orocó ou Ibó, no alto sertão de Pernambuco, contudo, revela cidades sem mendigos. As ruas quase sempre esburacadas e sem asfalto são evidências dos poucos recursos das prefeituras. Mas o número de carros importados na região é um sinal de que alguma coisa mudou no padrão de vida dos sertanejos destes lugares. No coração do Polígono das Secas está rolando dinheiro grosso - e ilegal.

A maconha é o barato do pedaço, a erva que faz fervilhar este território de 25 mil quilômetros quadrados, duas vezes maior que a Holanda, habitado por 600 mil pessoas. As plantações clandestinas da região abastecem o mercado nacional e, nos últimos dois anos, também parte do internacional. A capital brasileira da maconha, no entanto, não quer a legalização proposta pelo deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que defende o plantio de uma variedade sem efeito alucinógeno para fins industriais. A intenção é explorar comercialmente o cânhamo, fibra produzida a partir do caule do pé de maconha.

Para as pessoas envolvidas com a droga, a maior parte do lucro está justamente na sua ilegalidade. Trata-se de um exército de cerca de 25 mil trabalhadores clandestinos, espécies de "guerrilheiros da maconha". Raramente mostram o rosto a forasteiros, omitem o sobrenome e só andam armados. Um dia de trabalho num roçado de maconha rende R$ 30, quase 15 vezes mais do que se pode ganhar numa lavoura de cebola, por exemplo. Para o produtor, os números também são amplamente favoráveis à maconha. O dono da terra no sertão pernambucano recebe R$ 30 por um saco de 60 quilos de feijão, exatamente o mesmo valor de um único quilo de maconha.

"O governo não financia a produção de alimentos nem garante preço mínimo para a colheita", diz João Freire, prefeito de Cabrobó, a 568 km do Recife. "Os proprietários rurais não têm como fugir da maconha." O prefeito da cidade que já foi considerada a capital pernambucana da cebola e hoje é tratada como a capital brasileira da maconha é um exemplo do que está acontecendo no sertão. Ele possui três hectares de terra e até 1994 plantava feijão, milho e arroz. "Depois do real, parei tudo. Não vale a pena produzir, pois o rendimento mal paga os R$ 1 mil mensais de energia elétrica para manter três bombas de irrigação em funcionamento", explica Freire.

"Somos contra a maconha, mas não podemos negar que ela tem ajudado a resolver problemas sociais na região", afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cabrobó, João Nenem. De acordo com ele, a falta de financiamento para a compra de sementes e de insumos agrícolas para as culturas tradicionais levou ao desemprego cerca de oito mil agricultores. Número equivalente à metade dos trabalhadores rurais da cidade. "Esse pessoal acaba indo trabalhar nos maconhais, senão terá que roubar para cuidar da família", justifica Nenem.

Aos 41 anos e pai de dez filhos, o roceiro Francisco Fideli passou março e abril sem conseguir trabalhar nos roçados de arroz. Sobrevivia com a ajuda de vizinhos da Vila Beira Rio, mas não conseguiu dinheiro para comprar remédios para uma filha de 11 anos. "Toda a vida ela precisou do comprimido. Se ficasse sem ele, a menina tinha dor de cabeça e não parava de vomitar", conta. O camponês acabou aceitando, em 2 de maio, um convite para irrigar um hectare de maconha. Com os R$ 450 recebidos depois de 15 dias de trabalho, Fideli internou a filha em um hospital de Petrolina (PE). No dia 23 de maio a menina morreu. Atualmente, Fideli e o filho Zenildo, 15 anos, colhem arroz em uma pequena roça de Cabrobó, onde recebem R$ 2,50 cada um por dia de trabalho. "Mais nenhum filho meu vai morrer por falta de remédio. Se precisar, vou voltar a plantar maconha", conclui.

"Sabemos que aqui existe muita maconha, mas é difícil encontrar as roças", afirma o delegado de Cabrobó, Aécio Francisco Coelho. De fato, para descobrir os maconhais espalhados pelas ilhas é preciso helicóptero, barco ou informante. Tanto a Polícia Civil quanto a Militar não dispõem de helicópteros. A PM de Cabrobó tem um barco. Ele está com o motor quebrado. Se for consertado, de pouco adiantará. Não tem altura suficiente para navegar as traiçoeiras correntezas do São Francisco. Além disso, a maioria dos 26 soldados que formam a tropa da cidade não sabe nadar. "O pessoal tem medo que o barco vire e todos morram", confirma o tenente Fiquene, subcomandante do batalhão. "Eu mesmo só sei nadar porque aprendi na academia."

Repressão para valer só acontece uma vez por ano, quando a Polícia Federal desembarca no sertão levando helicópteros e barcos. "Essas operações são tão anunciadas que não dá para prender ninguém", justifica o tenente Fiquene. De acordo com o delegado Coelho, como o produtor nunca é preso em flagrante, as terras onde se cultiva a maconha não podem ser arrestadas para a reforma agrária. Não é difícil, porém, descobrir quais são os produtores. Todas as ilhas estão cadastradas na prefeitura e recebem o carnê de impostos regularmente. "O problema é provar que o proprietário sabia o que estavam plantando em suas terras", explica Coelho.

ISTOÉ localizou um trabalhador rural em atividade nos maconhais de Orocó, cidade vizinha a Cabrobó. Há mais de 12 anos trabalhando com a erva proibida, ele se dispôs a levar a reportagem e a polícia até uma plantação de maconha na ilha do Rato, de onde se desligou no início de maio por ter se desentendido com outros agricultores. "Só volto disfarçado e com a polícia", disse Paulo. Chegar a um maconhal não é tarefa das mais fáceis. Para sair de Cabrobó foram gastos cerca de 20 minutos de carro até se encontrar um pequeno atracadouro escondido na mata das margens da ilha de Assunção - a maior da cidade. Nesse atracadouro clandestino, um barqueiro conhecido de Paulo aguardava, mascarado, para levar a polícia até o maconhal. Em um pequeno barco com motor a diesel, leva-se cerca de meia hora para chegar à ilha do Rato, enfrentando as pedras e as correntezas do São Francisco. Ali, há um outro atracadouro clandestino. Depois, é preciso caminhar cerca de 45 minutos até descobrir o roçado de maconha. No caminho, encontram-se plantações de cebola, cruzam-se braços de rio e atravessa-se mata fechada. "O pessoal faz tudo para dificultar o acesso", conta Paulo. "Ninguém entra na roça da maconha sem ser notado." É verdade. Não havia um único agricultor trabalhando nos cerca de mil metros quadrados do maconhal quando a polícia chegou, embora a terra ainda estivesse úmida. "Eles fugiram quando ouviram o motor do barco", disse o delegado Coelho.

Segundo Paulo, cada roçado de maconha emprega de cinco a 15 agricultores. No meio do mato, os produtores mantêm pequenas vilas onde os "guerrilheiros da maconha" podem se esconder. Os camponeses são levados de barco para as roças antes de o dia clarear. Só quando anoitece é que o barqueiro volta para apanhá-los. Na ilha do Rato, Paulo ajudou os policiais a cortar cerca de dois mil pés da cannabis sativa, mais tarde incinerados, e explicou como a erva é cultivada. "Próxima do rio, a maconha pode dar até quatro safras por ano, o que nenhuma outra plantação rende", disse. A erva é plantada em covas, com aproximadamente um metro de diâmetro. Em cada cova são cultivados até quatro pés. Para a semente se desenvolver, precisa ser irrigada duas vezes por dia, o que é feito manualmente, com baldes.

"Quando se pretende obter uma erva de qualidade superior, usa-se algum fertilizante. Isso só é feito quando existe encomenda", diz Paulo. A informação confirma o conteúdo de um relatório reservado da Polícia Federal, que aponta a presença do tráfico organizado do Rio de Janeiro nos cultivos clandestinos do Nordeste. "É lógico que alguém financia essas plantações", diz o prefeito de Cabrobó.

A cultura ilegal da maconha é considerada pela polícia como a maior responsável pelo aumento da violência na região. "Essa cidade era tranquila, agora quase todo mês aparece alguém morto no meio do mato", diz o sindicalista Nenem, de Cabrobó. De acordo com o delegado Coelho, os assassinatos ocorrem normalmente depois que a polícia faz alguma operação que destrua milhares de pés da erva em ponto de colheita. A roça destruída pelos policiais na ilha do Rato é uma das menores da região. Para que se tenha uma idéia do tamanho do cultivo de maconha no sertão pernambucano, no ano passado, em apenas oito operações, a polícia queimou 1,3 milhão de pés.

Normalmente embalada em pacotes de dois a cinco quilos, a erva é prensada e acondicionada no meio das cargas de caminhões que se destinam aos centros consumidores. O intermediário paga R$ 30 por quilo. Em Recife, a droga chega a custar R$ 250 por quilo, mesmo preço de São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo a PM, um hectare de maconha rende R$ 100 mil. Para obter esse mesmo lucro, um agricultor terá que plantar 257 hectares de feijão, ou 171 de algodão, ou 146 de tomate, ou 64 de banana. "É preciso tratar essa questão sem preconceito", diz o deputado Fernando Gabeira. "Sei que a maconha não vai resolver todos os problemas do Nordeste, mas pode ser uma boa alternativa econômica." O prefeito de Cabrobó pensa diferente. Segundo ele, a melhor alternativa para a sua região é o governo ter definida uma política de incentivos agrícolas para o sertão. "Se o governo abrir uma linha de crédito especial para o plantio de cebola, ninguém vai querer plantar maconha", diz.

http://www.terra.com.br/istoe/capa/139516.htm

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