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Now we know what happens to teens when you make pot legal
Por Pedro Abramovay
Ja participei de inúmeros debates sobre regulação da cannabis. Em todos, quem se opõe à medida tinha um argumento principal: "não se pode legalizar a maconha porque o consumo entre adolescentes vai disparar".
Esse argumento acaba de ser destruído.
É um argumento intuitivo, claro. Se você acaba com a proibição, mais pessoas vão consumir. Mas a intuição não pode se sobrepor aos fatos. E os fatos são claros: o mercado legal de cannabis não provoca aumento de consumo entre adolescentes.
Pesquisa bastante abrangente feita no Colorado analisando dois anos de padrão de consumo entre adolescentes após a legalização não deixou dúvidas: o consumo entre adolescentes diminuiu. O número de jovens que consumiram maconha nos últimos 30 dias caiu de 25% para 21%. E continua bem abaixo da média de estados onde a proibição ainda existe.
Esse padrão, na verdade, se repete em todos os Estados Unidos, em um momento em que as regras da proibição se tornam mais flexíveis, o consumo de maconha entre adolescentes têm diminuído em todo o país.
E esse padrão tem sido observado - como indicam várias pesquisas- em todos os lugares que flexibilizaram sua legislação sobre drogas.
Eu não quero aqui tentar oferecer explicações sobre as razões disso acontecer. Não vou cometer o erro de fazer análises intuitivas.
Agora, aqueles que defendem a manutenção da proibição da maconha vão ter que buscar argumentos melhores (ou mudar de posição, que tal?). O argumento da proteção dos adolescentes passou, de forma definitiva, para o nosso lado.- Mostrar comentários anteriores %s mais
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E existe uma certa incoerência no ar. hein!
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como incoerência? Vou listar os fatos e você tira suas conclusões:
1 - Os EUA nunca foram referência em nada que toca a maconha, só foram referência em repressão e guerra às drogas. Agora eles são referência mundial em legalização? Me poupe, claro que tem algo podre aí.2 - Negros e latinos não têm condição de pagar um plano de saúde, quanto mais pra ta pagando 30 dólares pela grama? Qual a solução pra eles? Plantar em casa? Vai preso. Comprar de um amigo? vai preso. Só não vai preso se comprar no lugar onde o estado possa embolsar uma grana.
3 - Os EUA acabaram com a antiga cultura canábica, eles agora ostentam maconha, existe uma marketing tosco nos states, semelhante a industria do alcool e do tabaco (que de certeza tem grande participação nessa "legalização"). Tudo vem numa embalagem, fica em prateleiras e custa os olhos da cara...
É isso que vc quer? No uruguai qualquer pessoa planta qualquer quantidade e vende pra quem quiser por qualquer preço, isso é liberdade. A legalização no Estados Unidos é uma falsa liberdade que serve pra encher o bolso dos mais ricos e mandar os mais pobres para a cadeia.
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Ah bom pelo menos agora eu entendi. Concordo com vc. Já achei que era um troll contra a legalização. Se o modelo do Uruguai serve para vc para mim tbém. Apesar que a notícia não é sobre modelo de legalização.
A notícia que eu postei, é uma narrativa do Pedro Abramovay, refutando o argumento que " não se pode legalizar a maconha porque o consumo entre adolescentes vai disparar". Esse é o teor da notícia.
O resto é discussão inútil, quer dizer, fora de contexto.
Se vc não concorda com esse refutamento, é direito seu.
Eu concordo e e direito meu. Então vamos aproveitar e acender um beck.
Abs
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‘ A maconha foi condenada por preconceito ’, diz especialista Elisaldo Carlini
Médico de 84 anos estuda efeitos das drogas há 62. Ele provou derivados da cannabis para experimento científicoSÃO PAULO - Carlini tornou-se um dos maiores especialistas no tema, e conta um pouco de suas experiências com drogas. Em nome da ciência, submeteu-se a provar, em laboratório e monitorado por psiquiatras, uma gama de drogas: maconha e derivados, mescalina, alucinógenos, anfetaminas, sibutramina. “Seguia a regra de não tomar nada que pudesse me fazer mal. Por isso não provei crack, sou cardíaco. Tive viagens muito boas, belas visões. E viagens horrorosas, péssimas”. Ele argumenta que a maconha tornou-se uma droga não por razões científicas, mas por motivos culturais e econômicos, e que isso agora começa a mudar dada a falência da guerra às drogas. O médico e professor da Unifesp advoga em favor da maconha e dos opiáceos, e contra o uso de remédios para emagrecer, as anfetaminas.
Por que o senhor resolveu estudar as drogas?
Na década de 1950, havia muitos trabalhos descrevendo os sintomas que a maconha provocaria no corpo baseados numa ideologia internacional de que a maconha era uma droga do diabo, tão perigosa quanto a heroína, o que não corresponde à verdade. Mas como havia o governo americano por trás disso, eles fizeram uma propaganda e convenceram o mundo dessa ideologia. Curiosamente, até o século XIX, início do século XX, a maconha era considerada um medicamento muito importante contra dor, comercializada como medicamento, cultivada para fins industriais porque a fibra da maconha é de excelente qualidade para a fabricação de cordas, roupas e sandálias. A maconha era muito importante economicamente, a tal ponto que no século XVIII o vice-rei de Portugal mandou ao governante da província de São Paulo 16 sacas de sementes de maconha de alta qualidade para serem plantadas na região de São Paulo. Até as velas das naus portuguesas eram feitas de fibras de maconha. Então, contra a maconha houve muito preconceito. Por ser uma droga comum na África, era tida como uma coisa de feitiçaria de negros. Em parte, a maconha foi condenada por preconceito racial, mas também por motivos comerciais. Quando a fibra sintética é desenvolvida, no começo do século XX, ela disputa mercado com a fibra da maconha. Nessa concorrência inventaram-se coisas sobre a maconha.
Mas a maconha não tem efeitos colaterais?
Admitir que a maconha não tem reações secundárias é dizer que ela não é remédio. Não existe remédio que não tenha efeito colateral. A aspirina, por exemplo, ainda é uma das causas mais frequentes de envenenamento de crianças. A maconha tem uma toxicidade que é perfeitamente controlável e não expõe ninguém a perigo exagerado. Os trabalhos que falam sobre efeitos colaterais da maconha têm pouco suporte científico. Trabalhos mais profundos, que seguem milhares de pessoas por vários anos, mostram que a maconha usada continuamente não provocou qualquer prejuízo para a inteligência e a memória dos indivíduos.
Washington DC legalizou o uso da maconha. É um sinal de que os Estados Unidos desistiram da guerra contra o tráfico?
Está provado que a guerra às drogas é uma falência total. E é muito importante que os Estados Unidos, que patrocinaram essa guerra, admitam essa falência. O governo não consegue mais neutralizar a vontade popular. É como a Lei Seca lá. Nunca se bebeu tanto nos Estados Unidos como no período da Lei Seca. Aquilo estimulou o crime. Nos Estados Unidos há quem defenda que o problema do tráfico só existe porque existe a proibição. Os jovens gostam de experiências novas. Querem e têm o direito de experimentar coisas novas. O grande erro é proibir e pronto. Não dá para usar a pedagogia do terror, um método que falhou no mundo inteiro, que é moldar os desejos das pessoas a partir do medo. Isso não funciona mais.
O que acontece em lugares que legalizaram a maconha?
Há um fenômeno interessante acontecendo no estado de Washington, um dos lugares onde a maconha é legal: os pacientes que já usam maconha de forma medicinal há mais de 20 anos estão achando ruim porque associam o remédio à juventude, à “farra”. Aumentou a resistência dos idosos, e os jovens não estão mais querendo usar porque perdeu o glamour, virou careta, algo associado a tratamento do câncer.
Quanto tempo o Brasil deve levar para seguir o caminho dos Estados Unidos?
Aqui no Brasil ainda é proibido prescrever maconha para seus pacientes, mas o Conselho Federal de Medicina já recomenda o uso para uma série de tratamentos, especialmente de convulsões. As autoridades médicas brasileiras dizem que isso tudo pode demorar, mas como agir quando a mãe de uma paciente lhe diz: “O tempo que o senhor tem é o tempo de uma convulsão da minha filha.”? Nos Estados Unidos, mais de 20 estados já têm legislação permitindo o uso da maconha, seja medicinal, seja recreativa.
E quanto às outras drogas?
Estudei muitas outras. Algumas que nada tem a ver com a maconha são as drogas para emagrecimento, as anfetaminas. É um mercado extremamente lucrativo e eu sou totalmente contrário ao uso delas. Frequentemente elas acabam em intoxicação, alucinação. E a sibutramina não é muito melhor do que isso, porque aumenta em 15% problemas cardíacos em pacientes obesos e com diabetes. Não se encontra na sibutramina uma perda de peso que justifique o seu risco. Não há razão para essa droga ter licença.
Mas essas drogas são comercializadas muito mais facilmente do que a maconha.
Sim, dependem de receituário controlado, mas facilmente se obtém. Enquanto a maconha é proibida. E o acesso a opiáceos é super-restrito, e o paciente acaba tendo que ficar com dor. Todo homem tem o direito de não sentir dor. No Brasil é dificílimo ministrar a morfina. Luto há 30 anos para aumentar o acesso à maconha, há 15 para facilitar a receita dos opiáceos e há 20 para restringir o uso de anfetaminas.
E quanto ao crack e à cocaína?
Não acho que elas deveriam ser legalizadas. É difícil liberar sem um sistema eficiente de prevenção ao uso, por meio da educação. Em termos de políticas públicas, cada droga tem que ser tratada de uma maneira. Eu não tenho esperança de a cracolândia acabar, mas é possível fazer com que ela não continue aumentando e se torne uma epidemia. A segunda perspectiva fundamental é tratar o ser humano com dignidade. É possível recuperar a pessoa dando a ela a possibilidade de varrer o chão, como faz o De Braços Abertos (programa da prefeitura de São Paulo). A internação compulsória remonta à Roma Antiga e sua ideia de que o romano deveria ser um exemplo para a humanidade. Aquele que não fosse um exemplo em Roma poderia ser condenado à morte, ser lançado de cima da Rocha Tarpeia. A internação compulsória é a Rocha Tarpeia moderna, a sociedade escolhendo quem ela não quer mais, independentemente da vontade dos indivíduos.
O senhor usa drogas recreativamente?
A minha resposta só pode ser uma: eu não sei. Eu não sei porque se eu digo que sim, como médico acabo tendo um argumento de autoridade, você pode se sentir estimulado a usar e eu não quero que alguém se sinta estimulado só porque me ouviu falar. Se eu digo que não, você pode achar que então é melhor proibir só porque eu disse, o que também não é minha intenção. Portanto, eu digo eu não sei. Não posso ignorar que eu seja formador de opinião, mesmo que eu não queira.
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Seleção de Consultor Técnico PNUD - Prevenção ao Uso de Drogas
A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça e Cidadania (Senad/MJ) lança EDITAL Nº 001/2016 que seleciona 1 consultor técnico para levantamento e reconhecimento de estratégias de prevenção ao uso problemático de drogas baseadas em evidências científicas, pautadas pela ética e pelo respeito aos direitos humanos, no âmbito da cooperação técnica do projeto BRA/15/009.
Qualificações obrigatórias: Ensino superior completo na área de Humanas ou Saúde em instituição reconhecida pelo Ministério da Educação – MEC; Experiência profissional de, no mínimo, 05 anos no campo de políticas públicas sobre drogas.
Local de trabalho e período do contrato: Brasília-DF; junho de 2016 a maio de 2017.
Para participar, o interessado deve enviar currículo para prodoc.senad@mj.gov.br entre os dias 16 de junho de 2016 até o dia 24 de junho de 2016, conforme edital e formulário de inscrição disponíveis nos portais:www.pnud.org.br/oportunidades e www.justica.gov.br/Acesso/selecao-e-concursos.
Acesse o edital completo AQUI.
* De acordo com o Decreto n. 5.151/2004, no âmbito dos acordos de cooperação técnica internacional, é vedada a contratação de servidores ativos da Administração Pública Federal, Estadual, do Distrito Federal ou Municipal, direta ou indireta, bem como empregados de suas subsidiárias e controladas
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Chocolate com maconha era vendido em faculdades e escolas de BH
A Polícia Civil prendeu um jovem com 50 cones com a mistura, chamada de "chocolate jamaicano". Ele era investigado havia mais de um mês
Uma forma inédita de vender droga em Minas Gerais foi descoberta pela Polícia Civil. Lucas Gonçalves da Silva, de 21 anos, misturava chocolate com maconha e depois colocava o produto em casquinhas de sorvete. O “chocolate jamaicano”, como é chamado, era vendido em portas de escolas, universidades, festas e eventos com grande concentração de jovens e adolescentes. As investigações vão continuar para tentar encontrar outros envolvidos no crime. Os detalhes do caso foram repassados em entrevista coletiva na tarde desta terça-feira. Lucas deve ser indiciado por tráfico de drogas e responde à acusação em liberdade.
Equipes do Departamento Estadual de Combate ao Narcotráfico já monitoravam Lucas havia mais de um mês. Os agentes conseguiram comprar um dos produtos vendidos por ele e o encaminharam para que o Instituto de Criminalística da Polícia Civil fizesse uma análise. “Foi identificado um alto teor de THC, o princípio ativo da maconha no produto. Isso é uma forma inédita de vender maconha em Minas Gerais. O pessoal do Instituto de Criminalística nunca recebeu material parecido para análise”, afirma o delegado Kleyverson Resende.
Diante das evidências do crime de tráfico de drogas, os policiais conseguiram prender Lucas, em 4 de junho, no Centro de Belo Horizonte. Quando foi encontrado pelos agentes, o jovem estava com uma mochila com 50 cones já prontos com a mistura de maconha e chocolate. Segundo as investigações da Polícia Civil, os produtos eram vendidos em portas de escolas, faculdades, teatros, festas e em vários outros lugares com aglomeração de pessoas. Cada cone custava R$ 10. O delegado Kleyverson Resende informou que os compradores sabiam que o chocolate tinha a mistura de maconha.Lucas já tem passagem pela polícia por tráfico de drogas. Mesmo assim, conseguiu na Justiça o direito de responder pelo crime da venda do “chocolate jamaicano” em liberdade. A polícia segue as investigações para tentar identificar outras pessoas que possam estar envolvidas com a fabricação e venda da droga. (RB)
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Maconha não faz tão mal para saúde física, segundo pesquisa
Pesquisa realizada na Nova Zelândia com 947 pessoas concluiu que a maconha não faz tão mal para a saúde física do ser humano.
O estudo foi liderado por Madeline Meier, da Universidade do Estado do Arizona, e não invalida a ligação da droga com prejuízos causados ao desenvolvimento do cérebro, principalmente em jovens. O foco foi estritamente a problemas de saúde física, como medidas de circunferência abdominal, do IMC (Índice de Massa Corporal) e dos níveis de colesterol "bom", que não são atingidos pelo uso da erva.
Problemas respiratórios também não foram associados diretamente a maconha, pois os voluntários também fumavam cigarro. Já a higiene bucal, em 55,6% dos usuários, por mais de 15 anos, foi encontrado problemas nas gengivas, entre os que nunca usaram a droga a porcentagem é de apena 13,5%. Mas, também questiona-se que isso pode ser dado pela má higiene bucal.
No geral, a pesquisa avaliou boca/gengiva, capacidade respiratória, circunferência abdominal, colesterol bom, hemoglobina glicada, inflamação sistêmica, pressão arterial, síndrome metabólica e triglicérides. Todos esses resultados você pode ver detalhadamente na Folha de S.Paulo
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A falácia das drogas como o bode expiatório das mazelas do mundo
GERIVALDO ALVES NEIVA·MONDAY, 13 JUNE 2016
A leitura do livro de Carl Hart – Um preço muito alto, a jornada de um neurocientista que desafia nossa visão sobre as drogas –[1] é de fundamental importância para compreensão do problema das drogas tornadas ilícitas e da violência causada pela política de guerra às drogas.
... um “mundo sem drogas” é apenas um mote inatingível para manter a atual política.
Um pequeno exemplo sobre a importância da educação parental nos incomoda e convida à reflexão:
“Vários outros estudos confirmam essas constatações no que diz respeito ao impacto da educação parental, ao estilo de comunicação com os filhos e ao vocabulário no aprendizado precoce da linguagem e na preparação para a escola. Fatores menos óbvios, como a exposição das crianças a um vocabulário amplo ou restrito e a diferentes intensidades de estímulo ou desestímulo linguístico podem influenciar muito mais seu futuro que velhos e conhecidos bodes expiatórios, como as drogas” (Pg. 41).
Além desse aspecto “menos óbvio” relacionado à educação, escola e vocabulário, tantos outros fatores, partindo de nossa experiência com adolescentes dependentes ou usuários de drogas consideradas ilícitas, passamos a perceber como determinantes na vida desses usuários, mas o “bode expiatório” das drogas continuando povoando o imaginário das pessoas como a causa de todos os males sociais. Pais e mães se esquecem, comumente, da relação com os filhos, de beijos e abraços, da conversa franca, do domingo de futebol no estádio, do passeio de bicicleta, de montar quebra-cabeça e de tantas coisas simples, mas com forte simbolismo para a formação de um adolescente. Daí, inicialmente, entregam os filhos à televisão e outras tecnologias; depois, entregam à escola e, por fim, à rua e à polícia. Como resultado, tempos depois, já na adolescência, lamenta-se e culpa-se o destino pelo fato do filho ter se tornado um usuário problemático.
Além disso, a ignorância causada pelo tabu e preconceito em relação ao problema das drogas apenas agrava a situação. De início, o esforço hipócrita de esconder de si mesmo o fato do filho ser usuário; em seguida, a repressão pura e simples, o castigo como forma de remendar erros do passado e, por fim, como nada disso resolve o problema, o desespero e o maior de todos os erros de buscar soluções estapafúrdias como a internação compulsória ou o chamamento da polícia.
Certa vez, ao ser procurado por um pai em desespero ao saber que o filho estaria usando maconha, depois de muita conversa sobre a importância de encarar o problema e conversar francamente com o filho, cheguei ao “absurdo” de lhe propor a permissão para que o filho pudesse usar em casa para evitar o contato com as “bocas de fumo” e a probabilidade de ser preso ou se envolver em problemas de maior gravidade. Depois de me olhar incrédulo, meu interlocutor refletiu por alguns instantes e, meio a contragosto, terminou concordando que usar em casa seria menos perigoso do que na rua. Esse rapaz, pelo que sei, continua usando e agora está trabalhando e vai ser pai em breve.
Outra informação no livro do Carl Hart que nos desconcerta e comprova a ineficácia das medidas privativas de liberdade para adolescentes infratores, nos moldes que conhecemos no Brasil, e sua a relação com a reincidência:
“Os pesquisadores constataram que, independentemente da gravidade do delito inicial, os adolescentes encarcerados tinham três vezes mais probabilidade de voltar a ser encarcerados quando adultos, em comparação com os que não haviam sido encarcerados por delitos semelhantes. O fato de terem sido trancafiados não os deteve, pelo contrário, forçou-os a conviver com criminosos e possivelmente ensinou-lhes mais sobre outras maneiras de cometer diferentes tipos de crime, preparando-os para voltar à carceragem” (Pgs. 134 e 135).
Agora, além de todos os problemas de antes e que lhe levaram à punição, é um ex-interno, ou seja, sua vida será sempre um inferno.
Este dado nos revela, assustadoramente, que a punição de adolescentes através da privação da liberdade, ao contrário do que possa parecer, não serve como lição para um futuro sem prática de crimes, mas aprendizado para outros crimes. Assim, ao contrário do velho senso comum de que a punição evita crimes futuros e que a impunidade evitaria a reincidência, é preciso compreender que o modelo punitivo/prisional termina causando mais problemas do que soluções. Na verdade, nenhum jovem adulto deixa de praticar algum delito por ter se recordado da experiência da privação da liberdade. Não existe uma lógica do tipo: “Não vou abordar essa pessoa e lhe tomar o celular, pois posso ser preso por isso e já sei como é terrível permanecer em privação da liberdade”. As causas da criminalidade, portanto, passam longe disso e estão muito mais relacionadas às condições sociais de cada adolescente. Neste sentido, o que esperar de um jovem que cumpre uma medida de internação e, agora livre, retorna sem lenço e sem documento para a mesma vida que levava antes? Agora, além de todos os problemas de antes e que lhe levaram à punição, é um ex-interno, ou seja, sua vida será sempre um inferno.
O pavor do crack e a ideia de que seria uma forte epidemia e levaria à formação de uma legião de “nóias” e zumbis pelas ruas, uma verdadeira horda de delinquentes e malfeitores, parece não se concretizar com tanta força prevista. Evidente que o crack, assim como qualquer droga, seja lícita ou ilícita, pode causar problemas à saúde do usuário, mas a epidemia sem controle e a violência apocalíptica não aconteceu por causa do crack. Não se tem pesquisas atualizadas sobre o uso de crack no Brasil, mas a última pesquisa da Fiocruz (2013) apontou que menos de 1% da população faz uso do crack. Muito abaixo do imaginado e muito inferior aos usuários de cocaína em pó e maconha.[2] O que se quer dizer com isso é que o problema não se resume ao surgimento de novas drogas no mercado, pois ainda vão surgir várias, mas às condições de vida de uma população vulnerável às essas novas drogas.
Nesse sentido, conclui Carl Hart:
“Não foi ele (o crack) que criou o mundo de traficantes, prostitutas e viciados celebrado por rappers, nem a economia subterrânea que eu sempre conhecera. Tratava-se a penas de uma inovação de marketing que vinha adicionar um novo produto ao mundo das drogas. A farmacologia da droga não gerava excesso de violência. Entretanto, sempre que uma nova fonte de lucro ilícito é introduzida, a violência aumenta, até se definirem e preservarem os territórios de venda, e em seguida decai, uma vez demarcado o território e estabilizado o mercado” (Pgs. 184 e 185).
Na verdade, não se compreenderá jamais o problema do crack e outras drogas sem compreender a alma humana e o modelo de sociedade em que se vive.
Exatamente isso percebemos quando conversamos com jovens usuários de crack que cometem atos infracionais: não é a composição do crack (que é a cocaína em outro formato) que causa rápida dependência ou a violência, mas a presença do crack apenas potencializou uma realidade pré-existente, ou seja, o crack encontrou vastíssimo campo em um modelo desumano e segregador das cidades dos suntuosos shoppings centers e periferias abandonadas, bem como de um modelo de sociedade terrivelmente desigual em que pouquíssimos detém quase toda a riqueza nacional em detrimento da miséria e abandono de milhões. Na verdade, não se compreenderá jamais o problema do crack e outras drogas sem compreender a alma humana e o modelo de sociedade em que se vive.
Por falta dessa compreensão, continuamos aplicando um modelo de política de “guerra às
São esses os traficantes?
drogas” que prende, marginaliza e mata a juventude pobre e negra desse país, na ilusão de que assim estaremos livrando nossos filhos do terrível demônio que é o uso de drogas. Na verdade, estamos apenas sendo cúmplices da violência, criminalidade, encarceramento e mortes de milhares de jovens desse país, que são muito mais vítimas de um sistema injusto do que causadores dessa violência. São, portanto, muito mais clientes do sistema de assistência social do que clientes do sistema de justiça criminal.
Desnudos da hipocrisia, do medo e do preconceito, sem dúvidas, teremos muito mais condições de compreender o problema das drogas e de propor mudanças. Sem qualquer sobra de dúvidas, o primeiro passo é compreender que a atual política de “guerra às drogas” é um verdadeiro fracasso e a humanidade se envergonhará dela e terá remorsos da
cumplicidade com uma política que só encarcera e mata pobres, jovens e negros. Em segundo, é preciso entender, sem traumas, que drogas sempre fizeram parte da vida da humanidade e um “mundo sem drogas” é apenas um mote inatingível para manter a atual política.
Por fim, precisamos visitar e dialogar com as experiências de descriminalização e de legalização que vivenciam outros países e, sem hipocrisia e preconceitos, construirmos juntos uma nova política de drogas para este país, que passa, necessariamente, pela legalização da produção, distribuição e consumo de drogas. Por fim, drogas são substâncias encontradas em plantas ou fabricadas em laboratórios e elas existem porque os homens existem e, enquanto seres vivos pensantes e condenados à liberdade, sempre irão fazer uso de alguma substância para enfrentar os dissabores da vida, fugir de uma realidade cruel ou, simplesmente, sentir prazer. Nada disso, em conclusão, combina com proibição, repressão, prisão ou morte.
* Juiz de Direito (Ba), membro da Associação Juízes para a Democracia (AJD) e Porta-Voz no Brasil da Leap – Law Enforcement Against Prohibition (Agentes da Lei contra a Proibição).
[1] A quem se interessar:http://www.livrariacultura.com.br/p/um-preco-muito-alto-42266711