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William Bonner

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Tudo que William Bonner postou

  1. O governo francês decidiu impor sanções pedagógicas contra os usuários de maconha. A partir do próximo ano, as pessoas que forem presas consumindo a droga terão de realizar cursos obrigatórios sobre os riscos para a saúde causados pelo entorpecente. As aulas, realizadas durante dois dias, serão pagas pelo próprio usuário, como uma multa, e devem custar 450 euros (cerca de R$ 1,1 mil). O curso será ministrado por médicos, psicólogos e policiais, que falarão sobre os perigos do uso da maconha e do haxixe, inclusive como causa de acidentes nas estradas. "Temos agora a possibilidade de utilizar procedimentos rápidos e sanções mais pedagógicas contra os usuários para evitar o acúmulo de processos nos tribunais", afirmou o presidente da missão interministerial de luta contra as drogas, Etienne Apaire, em entrevista ao jornal Le Parisien desta quinta-feira. Essa missão interministerial foi criada pelo presidente Nicolas Sarkozy. As autoridades francesas consideram "preocupante" o aumento do consumo de drogas na França. O decreto que prevê a realização dos cursos obrigatórios foi publicado recentemente, e o governo pretende que a medida seja aplicada de forma geral no próximo ano. O consumo de maconha na França é um dos maiores da Europa: há 4 milhões de usuários no país, segundo o Observatório Francês das Drogas. O número de pessoas que utilizam maconha regularmente vem aumentando nos últimos anos no país, passando de 3,8% a 5,9% entre 2000 e 2005, de acordo com dados divulgados em julho passado. Além disso, ainda segundo números do Observatório Francês das Drogas, 200 mil pessoas na França cultivam maconha para consumo próprio, o que vem causando queda nos preços e permite, por conseqüência, o acesso mais fácil dos jovens à droga. O governo francês afirma que não tem a intenção de descriminalizar o consumo de entorpecentes. As penas atualmente podem chegar a um ano de prisão e 3,7 mil euros (cerca de R$ 9,6 mil) de multa. Os cursos sobre os riscos causados pelo uso de drogas é uma iniciativa semelhante àquela já realizada pelo governo com motoristas que causam acidentes nas estradas. "Conseguimos reduzir consideravelmente o número de mortos e feridos nas estradas com aulas desse tipo. Na luta contra as drogas, a situação é a mesma. Apostamos na pedagogia e na severidade", afirmou o presidente da missão interministerial contra as drogas. http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2007/10/11/298102135.asp
  2. Tipo, a insonia que a cannabis me causa, eu vejo assim. Chego do trampo cansado, tomo banho, janto, fumo um beck e deito na cama. Ai eu fico fritando uma cara no colchão. Tem a insônia da sindrome de abstinência, que dura dois dias mais ou menos e a insônia natural. Eu, se acordo depois das 7 horas, ou se durmo de tarde, menos de 1 da madruga eu não apago. Com ou sem maconha. Insônia é uma merda.
  3. Sofremos do mesmo mal. Pelo menos até o forte da onda passar. Eu também.
  4. Um guerrilheiro está tendo um péssimo domingo. Foda, dar carinho e atenção para as meninas e vem uns carinhas e estragam tudo. E o suspeito que é bom deve tá em casa preparando a próxima.
  5. Policiais do 7º Distrito, do Jardim Imá, encontraram esta tarde um plantação com oito pés no Parque dos Laranjais, bairro na região da saída para Rochedo. Os policiais faziam investigações de um suspeito e ao entrar em um terreno baldio perto da casa do investigado se depararam com as plantas. Eles acionaram equipe da Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico), que recolheram as plantas. Consta que algumas já tinham até um metro de altura. Não se sabe quem seria o dono da plantação de maconha. http://www.campogrande.com/view.htm?id=389338
  6. Desde o ano passado uma prisão em Hokkaido tenta erradicar as plantas que nascem na área de exercícios Hokkaido, Abashiri - ipcdigital.com No ano passado foram erradicadas 300 pés de maconha de prisão em Hokkaido, mas as plantas cresceram novamente O presídio de Abashiri (Hokkaido) busca erradicar pés de maconha que crescem em seu campo de exercícios, informou ontem (31) o Ministério da Justiça. As plantas começaram a brotar no presídio há cerca de um ano, segundo explicou o oficial da prisão, Takeshi Okamura, citado pelo jornal Mainichi. Os funcionários do Ministério arrancaram cerca de 300 mudas e reviraram o solo para erradicar as plantações no ano passado. Mas várias outras brotaram outra vez este ano. Acredita-se que as plantas sejam silvestres. Os guardas foram informados pelos próprios detentos. Especialistas em botânica concluíram que as sementes de maconha foram trazidas casualmente na terra que foi utilizada para o campo de exercícios. O Presídio de Abashiri comporta atualmente cerca de 1.080 presos que cumprem penas superiores a oito anos. http://www.ipcdigital.com/ver_noticiaA.asp...mp;codSecao=302
  7. O consumo de cannabis (mesmo ocasional) aumenta em mais de 40% o risco de desenvolvimento de uma Doença Mental, segundo um estudo publicado na revista médica britânica “The Lancet”. Os investigadores analisaram 35 estudos feitos recentemente (até 2006) no sentido de encontrar uma ligação entre o consumo de cannabis e problemas psiquiátricos crónicos. "Encontrámos um aumento importante de casos de Psicose em pessoas que consumiram esta substância", afirmaram os autores do estudo, Theresa Moore, da University of Bristol, e Stanley Zammit, da Cardiff University (Reino Unido). Os investigadores concluíram que, por outro lado, a relação entre o consumo de cannabis e problemas depressivos e de ansiedade é menos acentuada. Segundo o estudo, o risco de sofrer de Psicose é 41% maior no caso de pessoas que consumiram cannabis do que naquelas que nunca usaram a substância. No caso de consumidores frequentes, o risco duplica. Moore e Zammit relativizam, no entanto, os números, sublinhando que o risco de uma pessoa desenvolver problemas psicóticos crónicos, como Esquizofrenia, por exemplo, é muito baixo, mesmo no caso dos consumidores regulares de cannabis. ALERT Life Sciences Computing, S.A. 31 de Agosto de 2007 http://www.mni.pt/destaques/?cod=9760&...da53da246334abe
  8. Paciente recebe do departamento de entorpecentes permissão legal para fazer uso de maconha como analgésico e relaxante. É a primeira vez que o uso da erva é permitido para fins terapêuticos. Depois de sofrer por 14 anos consecutivos sob os efeitos da esclerose múltipla, a alemã Claudia H., programadora de software de 51 anos, recebeu uma permissão oficial para comprar maconha “em gotas” na farmácia. A partir do fim deste mês de agosto, ela deverá poder comprar seu medicamento à base da cannabis sativa durante um ano, a fim de minimizar as dores acarretadas pela doença. A notícia, veiculada inicialmente pelo diário Süddeutsche Zeitung, foi confirmada à emissora de televisão SWR por Johannes Lutz, do Departamento Nacional de Entorpecentes. Lutz acentua que a permissão vai depender de cada caso e que o acompanhamento médico do uso da substância é imprescindível. Cada pedido deverá ser analisado “com cuidado, mas também com benevolência”, observa o especialista. Até maio de 2005, todos os pedidos oficiais entregues ao departamento haviam sido rejeitados, com exceção do uso destinado a pesquisas científicas e de “interesse público”. O argumento usado pela paciente do sul da Alemanha para convencer as autoridades foi exatamente este: o de que a saúde de cada paciente seria também "de interesse público". “Haxixe no cofre” Segundo o Süddeutsche Zeitung, em artigo intitulado “haxixe no cofre”, há cada vez mais estudos apontando os efeitos analgésicos e tranquilizantes da cannabis, principalmente nos pacientes que sofrem de esclerose múltipla, além do fato de a substância ser útil na prevenção da perda de peso em pacientes que sofrem de Aids ou câncer, por estimular o apetite. Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Pesquisas apontam efeitos medicianais da canabisComo a maconha continua sendo ilegal na Alemanha, os médicos só estão aptos a prescrever o medicamento Dronabinol, agente sinteticamente fabricado. Os custos, porém, não são cobertos pelas seguradoras, como é de praxe na Alemanha no caso de medicamentos prescritos, sob o argumento de que a substância não foi oficialmente liberada para o consumo no país. Uma embalagem com 60 cápsulas do Dronabinol pode custar até 1700 euros. Ilegalidade Especialistas em defesa do uso legal da substância apontam para o fato de que muitos pacientes acabam optando pela compra ilegal da cannabis no mercado negro. Mesmo que o porte de pequenas quantidades de maconha ou haxixe – até 30 gramas, dependendo do estado da federação – seja tolerado, muitos desses pacientes prefeririam comprar a substância na farmácia. A própria Claudia H., do estado de Baden-Württenberg, que acaba de receber a permissão para adquirir oficialmente o Dronabinol nas farmácias, afirma ter “arranjado maconha” para fins terapêuticos anteriormente. “Fiz isso com total apoio da minha médica. Duas a três vezes por semana, faço um chá das flores secas da maconha à noite para amenizar as dores fortes que sinto”, conta a paciente ao jornal alemão. (sv) http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,2746817,00.html
  9. Lençóis Paulista - No quintal de uma residência no Centro de Lençóis Paulista (43 quilômetros de Bauru) foram identificados, ontem, sete pés de maconha. Três plantas estavam disfarçadas em uma horta e o restante espalhadas por outros pontos do terreno. Ao todo, a droga pesou 660 gramas. O dono da horta disse à Polícia Civil que não sabia que os pés eram de maconha. O homem alegou aos policiais que achava que a planta era arnica e tinha a intenção de colher e misturar as folhas ao álcool para obter remédio. Os pés de maconha estavam sendo cultivados em um quintal da rua 13 de Maio, região central de Lençóis. De acordo com os policiais, o quintal da casa é de fácil acesso, tanto pelas residências próximas quanto por um terreno baldio ao fundo. O dono da horta reside em imóvel alugado. A polícia investiga para identificar de quem seria a droga. http://www.jcnet.com.br/editorias/detalhe_...p?codigo=110900
  10. Um professor de Educação Física, que mora na região de Maruípe, em Vitória, recebeu uma estranha encomenda pelos Correios, nesta segunda-feira (23). Com remetente da Holanda, o pacote continha um frasco de desodorante spray. Ao abrir o tubo, uma surpresa: havia 10 sementes divididas em quatro compartimentos com o desenho de folha de maconha. Nesta terça-feira (24), o homem levou o frasco, feito de latão nas cores dourado, verde e roxo, para a Delegacia de Crimes Contra Vida de Vitória. Investigações preliminares apontam que as sementes são de diferentes espécies de maconha. De acordo com o delegado Orly Fraga Filho, o frasco será encaminhado à Policia Federal para serem realizadas as investigações necessárias. Em seguida, o caso será enviado para a Interpol, pois se trata de uma encomenda originária de um outro País. Em depoimento, o professor informou que a encomenda foi enviada de maneira errada para a casa dele, já que não possui nenhuma relação com a Holanda. Orly Fraga disse ainda que qualquer pessoa que receber qualquer objeto suspeito através dos Correios, deve procurar a Polícia Civil. http://gazetaonline.globo.com/noticias/min...amp;cd_site=843
  11. Eu me identifiquei com o estudante de antropologia ai em cima, o único problema dele é ir de 2 em 2 meses pegar maconha. Esse podia conhecer o GR, o cara tem o perfil.
  12. Estatísticas apontam aumento da entrada da droga no DF, onde foram apreendidos 1.348 kg este ano Bruna Serra Considerada por especialistas como a droga ilícita mais consumida no mundo, a maconha, muitas vezes é por meio dela que crianças e adolescentes avançam no obscuro universo das drogas. Fácil acesso e preços mais baixos, se comparados aos de drogas sintéticas, são os principais atrativos. Estatísticas da Polícia Federal apontam que já este ano foram apreendidos 1.348 quilos da droga e 36 pessoas envolvidas no tráfico foram detidas no Distro Federal. Os números desse ano são altos quando comparados com os de 2006, ano em que foram apreendidos 1.954 quilos. Já em 2005, a PF recolheu 498 quilos de maconha, o que mostra o aumento significativo da entrada da droga no DF. Segundo pesquisa realizada pela Secretaria Nacional Anti-Drogas (Senad), em 2005, dos 633 entrevistados, entre jovens e adultos, somente na região Centro-Oeste, incluindo o DF, 7,8% consomem maconha e 0,6% são dependentes da droga. Em primeiro lugar no ranking está o álcool e o cigarro, com 10,6% do total. A Secretaria de Saúde do DF aponta que, em 2006, dos alunos da rede pública que usam drogas (exceto álcool e tabaco) com freqüência, 2,1% são dependentes de solventes, 0,6% de ansiolíticos, 0,6% de anfetaminas, 0,5% de maconha e 0,3% de cocaína. A maioria dos jovens que decide experimentar a maconha, é convencida pelo argumento de que trata-se de um produto natural e por isso não tem o mesmo efeito destrutivo das drogas sintéticas ou da cocaína. O princípio ativo da maconha é composto por mais de 60 substâncias, conhecidas pelo nome genérico de canabióides. O tetrahidrocanabiol é a substância preponderante e o principal elemento da droga. Outro componenete é o delta 9 tetrahidrocanabiol. Sua concentração pode ser de 1% a 5%. Derivação A maconha é usada como fumo, feito de folhas e, algumas vezes, de flores da planta. O haxixe é um narcótico derivado da maconha. A diferença é que utiliza-se a resina que cobre as flores e as folhas da parte superior da planta. É um extrato, e por isso é muitas vezes mais potente que a maconha comum. Há algum tempo surgiu uma nova variedade de maconha, o "skunk" ou "supermaconha". O skunk é produzido em laboratório com variedades de cânhamo, um dos tipos da planta da maconha, cultivados no Egito, Afeganistão e Marrocos. Ele tem alto teor de tetrahidrocanabiol, composto químico responsável pelo princípio tóxico ativo da maconha, de até 33%. Seus efeitos são dez vezes mais potentes que os da maconha comum. No Brasil, segundo a pesquisa, o consumo do skunk cresce. Para a psicóloga Maria Fátima Olivier Sudbrack, do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), a estrutura familiar é determinante para deixar crianças e adolescentes longe das drogas. "O papel da família é fundamental, mas não como culpada. Ela é a grande aliada no trabalho com os adolescentes. É, em geral, quem mais sofre e quem procura a ajuda de um psicólogo", afirma ela. Apoio da família Maria de Fátima alerta que os pais não devem abandonar os filhos, já que a reaproximação da família é a melhor forma de ajudá-los a largar o vício. "Não estou falando que um pai desista, conscientemente, do filho. Mas as pessoas se afastam. Se sentem tão incompetentes que acabam por deixar os filhos só, aos cuidados do especialista, quando, na verdade, os jovens precisam se reaproximar dos pais", esclarece. Para o psiquiatra Leonardo Moreira, existem dois critérios para classificar um jovem como dependente. O primeiro deles é a tolerância, ou seja, a intensificação do consumo na tentativa de conseguir o mesmo efeito provocado pelo primeiro trago. O segundo é a abstinência, quando a falta da droga começa a deixar o dependente nervoso. "Na maconha a abstinência é mais rara e provoca apenas alterações de humor e ansiedade, enquanto na cocaína, por exemplo, o dependente fica violento". Moreira adianta que o uso da maconha não favorece a entrada em outras drogas. "O problema não é o consumo da maconha. É o ambiente que se anda para consegui-la. Onde tem maconha tem drogas de todos os tipos e isso é o que induz o usuário a consumir outras coisas", avalia. Moreira orienta os pais a observarem seus filhos. Qualquer alteração de humor, aumento do apetite ou sonolências, devem procurar ajuda médica. "Um psiquiatra ajudará a família a lidar com o dependente. E o jovem precisa ser convencido da necessidade de se tratar, o que deve ser feito com calma e diálogo", ensina. Fumantes sem culpa ou temor Fumante desde os 18 anos, o estudante de antropologia, João* afirma que optou pela maconha devido a sensação de relaxamento que ela lhe trás. Segundo ele, dependendo da necessidade que sente, pode fumar diariamente ou semanalmente. "A maconha me passa uma sensação boa, relaxante. Me estimula intelectualmente. Costumo fumar antes de ver filmes ou ir a uma exposição", conta. João diz ainda que a droga potencializa seus sentidos. "Assim como a comida tem efeito sobre nossos sentidos, a maconha também. Você fica com o olhar mais apurado e se livra de moralismos que sem o efeito de psicotrópicos você não se livraria", garante. Para ele, é um risco comprar de traficantes, mas é a única alternativa. "Enquanto não for legalizada, estamos correndo muito risco comprando de traficantes e estimulando o mercado obscuro. Por isso, acredito na legalização como a melhor forma de reduzir os riscos", afirma ele, que compra a erva a cada dois meses. O jovem afirma que não é consumidor de outros tipos de droga, e nega que a maconha seja a porta de entrada para a ingestão de ecstasy ou cocaína. "Experimenta quem quer. Nem sempre o traficante que vende maconha tem cocaína, mas se você pedir, eles arrumam, claro", explica. O estudante garante que seus pais sabem que ele é consumidor de maconha e que embora tenham uma percepção negativa do produto não podem interferir na sua opção. "Eu mesmo contei. Mas eles não tem argumento. Porque o consumo não altera minha vida. Trabalho, ganho meu dinheiro e estudo em uma universidade pública, ou seja, derrubo todos os clichês da sociedade", desafia. Lorena*, 20 anos, também fuma maconha. Ela começou aos 16 anos, quando conheceu o namorado e o grupo de amigos dele. "Nunca tinha tocado num cigarro, nem desses comuns. Mas depois que experimentei a maconha tive uma sensação prazerosa e por isso não larguei. Fumo diariamente e me sinto leve", afirma a jovem. http://www.clicabrasilia.com.br/impresso/n...dNoticia=299911
  13. O uso da ´cannabis´ para fins médicos não está previsto em Portugal mas Maria José Campos, médica e fumadora esporádica desta planta, acredita nas suas potencialidades e lamenta que o problema seja "sistematicamente colocado e adiado". "A questão da ´cannabis´ não é pacífica, razão pela qual alguns relatórios que lhe são favoráveis saem de circulação", apontou Maria José Campos, recordando um documento emitido pela Organização Mundial de Saúde nos anos 1990, "que desmistificava a perigosidade da ´cannabis´ e mostrava que o tabaco e o álcool são bem mais perigosos". "Ainda há dois ou três meses, houve uma nova reunião entre os peritos da ONU para a área das drogas e algumas organizações não governamentais mas, mais uma vez, não se chegou a nenhuma conclusão, porque os EUA querem controlar a situação com a sua política proibicionista", acusa. Com 52 anos, vinte dos quais como "fumadora esporádica" de ´cannabis´, Maria José Campos considera que o problema em torno das suas aplicações terapêuticas é "sistematicamente colocado e adiado, colocado e adiado, colocado e adiado". No entanto, "na Região da Catalunha (Espanha), na Califórnia (Estados Unidos) e no Canadá existem programas de administração terapêutica apoiados por médicos e farmacêuticos", assinalou a médica. Afirmou à Lusa que não prescreve ´cannabis´ aos seus pacientes "porque, em Portugal, isso seria ir contra a lei" mas está sempre atenta às informações sobre o assunto. "Nos doentes com SIDA - que são o grupo com que trabalho e que conheço melhor - sei que a ´cannabis´ estimula o apetite e reduz as náuseas, que constituem um efeito secundário de alguns antiretrovirais", medicamentos usados no tratamento da SIDA, revelou Maria José Campos à agência Lusa. A médica acrescentou que "também são referidos bons resultados em doentes oncológicos ou com glaucoma, havendo outras doenças onde as aplicações ainda estão a ser estudadas, como a esclerose múltipla". Para Maria José Campos, o uso terapêutico da ´cannabis´ em Portugal esbarra "na falta de vontade política para legislar nesta matéria, em que cada estado é soberano" e "nas pressões da indústria farmacêutica, que não tem interesse na investigação sobre a planta porque esta é muito barata e isso não lhe convém". Ainda segundo a médica, recorrer à planta propriamente dita é "de longe preferível" a criar um fármaco a partir dela, pois "um medicamento será sempre um derivado sintético ou semi-sintético". Então, como se poderia tomar a ´cannabis´? "Se o doente já for um fumador [de tabaco], pode fumar a planta. Se não for, não faz sentido iniciá-lo num vício e, nesse caso, é preferível que ingira a ´cannabis´ através de bolos, manteiga ou bebidas, pois a planta dá para tudo isso". Em relação ao Marinol - medicamento com Dronabinol (a versão sintética do tetrahidrocanabinol, que é uma substância activa existente na ´cannabis´) que teve autorização de introdução no mercado em 1999 e foi revogado em 2005 sem nunca ter sido comercializado - a opinião de Maria José Campos não é a melhor. "Os doentes norte-americanos que experimentaram não gostaram, porque ficavam com a sensação de ´pedrados´, além de ser um medicamento muito caro e de os médicos serem contra o seu uso", justificou, alertando que a plantação de ´cannabis´ exige certas cautelas. "Concordo com a plantação mas cumprindo determinadas condições, pois a planta deve ser testada para se aferir o teor de tetrahidrocanabinol, que não pode ser demasiado elevado", esclareceu, adiantando que, para se conseguirem plantas em condições, estas devem ser criadas "em ambientes naturais e não fechadas dentro de casa". A necessidade de plantar às escondidas é algo que não faz sentido para Maria José Campos, segundo quem a ilicitude das drogas surgiu em meados do século XX, "pois até então o ópio e a cocaína vendiam-se nas farmácias". "Aliás, a heroína, que hoje é ilegal, não o era até meados dos anos 1950", contou a clínica de medicina interna à Lusa, assinalando que esta droga deve o seu nome ao facto de ter sido considerada "heróica" para tratar os dependentes de morfina, "o que mostra como as mentalidades vão mudando", concluiu. http://da.online.pt/news.php?id=117146
  14. O presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência, João Goulão, afirmou à agência Lusa não ter «qualquer objecção de princípio» à legalização da marijuana para fins medicinais, «desde que devidamente comprovados». O responsável acrescentou que desconhece a existência de «investigações médicas em curso» para validar as potencialidades terapêuticas da 'cannabis' ou marijuana, que em Portugal não está legalizada para nenhum fim. João Goulão assinalou, no entanto, os efeitos nocivos associados ao consumo não controlado: «O sintoma mais comum é a desmotivação mas também há registo das chamadas psicoses canábicas, doenças mentais que, embora tendo uma associação estatística com o consumo, não possuem uma relação de causa-efeito confirmada». Por seu lado, o Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed) destacou que «o desenvolvimento de um novo medicamento contendo como substância activa uma substância considerada estupefaciente não depende da legalização do seu uso para aplicações não clínicas». «A substância tem apenas que provar que é eficaz e com uma relação benefício/risco adequada à indicação terapêutica a que se destina», sublinhou fonte do Infarmed, indicando que há, em Portugal, «medicamentos contendo derivados do ópio, embora a sua utilização para outras finalidades não seja legal». O Infarmed, que regula a comercialização dos fármacos de acordo com a lei, aprovando os medicamentos após os testes laboratoriais e fazendo a sua vigilância e acompanhamento, revelou à Lusa que «os estudos sobre o uso, quer da planta quer do tetrahidrocanabinol [substância psico-activa da "cannabis"], para fins terapêuticos tem acontecido ao longo dos últimos anos, em diversos laboratórios de investigação». Questionado pela Lusa sobre se tinha recebido um pedido de regulação de um medicamento com base na «cannabis», o Infarmed assegurou não lhe ter chegado nenhum. Em relação ao Marinol, fármaco com Dronabinol (a versão sintética do tetrahidrocanabinol) destinado ao tratamento dos vómitos, o Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento indica na sua página de Internet que teve autorização de introdução no mercado a 23 de Dezembro de 1999 e foi revogado a 28 de Abril de 2005. «O Marinol obteve efectivamente a autorização de introdução no mercado mas, como sucede com outros medicamentos, nunca chegou a ser comercializado em Portugal», garantiu o Infarmed. De acordo com o livro «Marijuana - A medicina proibida», da autoria dos professores Lester Grinspoon e James B. Bakalar, da Harvard Medical School, nos Estados Unidos, a 'cannabis' tem um uso médico corrente no alívio dos sintomas do tratamento por quimioterapia, glaucoma, epilepsia, paraplegia e quadriplegia, SIDA, dor crónica, enxaqueca, doenças reumáticas, sintomas pré-menstruais e dores de parto, depressões e outras doenças mentais. Menos vulgar mas também referido pelos dois docentes é a utilização em casos de asma, insónia, esquizofrenia, doença de Cronh (uma doença do intestino), esclerose sistémica e síndrome do stress pós-traumático, entre outras doenças. Publicada recentemente pela editora Esfera dos Livros, a obra - que está recheada de testemunhos de doentes que recorreram à droga com êxito - faz uma história da 'cannabis', pesa os riscos da sua aplicação, mesmo que com intuitos terapêuticos, e declara-a um medicamento «com passado e futuro». Diário Digital / Lusa 17-07-2007 10:31:00 http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?sect...;id_news=286455
  15. Redação central, 26 jun (EFE).- Existem indícios de que o problema do uso de drogas ilícitas está sendo controlado no mundo, aponta o Relatório Mundial de Drogas 2007, divulgado hoje em Viena e em diversos países pela agência da ONU especializada no assunto. "Os dados mais recentes que colhemos mundialmente mostram que a dependência de drogas tem diminuído", disse o diretor executivo do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC), Antonio Maria Costa. O Brasil é citado no relatório como um importante ponto do tráfico de cocaína para a África, rumo à Europa. No país, o relatório foi lançado em Brasília pelo representante regional do UNODC para o Brasil e Cone Sul, Giovanni Quaglia. De acordo com o relatório, há indícios de estabilização no cultivo, na produção e no consumo de todas as substâncias ilegais, especialmente a cannabis, a mais utilizada e cujo avanço dá sinais de estar se detendo pela primeira vez em décadas. "O problema mundial das drogas está sendo contido. No período 2005-2006, os mercados mundiais das principais drogas ilícitas - opiáceos, cocaína, cannabis e estimultantes do tipo anfetamínico - permaneceram em grande medida estáveis", diz o documento. Segundo o UNODC, "em linha com uma tendência de longo prazo, a porcentagem da produção total de drogas apreendida graças à ação das autoridades também aumentou: cerca de 42% da produção mundial de cocaína e de 26% da produção de heroína não chegaram aos consumidores", acrescenta. O problema, porém, está longe de ser solucionado, pois 4,8% da população mundial entre 15 e 64 anos (200 milhões de pessoas) consome drogas ilegais a cada ano. Mais da metade consome pelo menos uma vez por mês. Aproximadamente 25 milhões de pessoas são dependentes químicos. As drogas consideradas mais problemáticas no mundo são os opiáceos, especialmente a heroína, consumidos sobretudo na Ásia e na Europa. A segunda é a cocaína. Também é a que mais leva à procura de tratamentos por dependência na América do Sul. A tendência é de aumento do uso de cocaína, maconha e anfetaminas na América do Sul e na Europa. Na queda na América do Norte, observa-se uma queda. Na América do Sul e no Sudeste Asiático, a tendência é de aumento do uso de anfetaminas. Na América do Norte, de diminuição. No caso dos opiáceos, há uma queda na América do Norte e um aumento na Ásia. Na América do Sul, ocorre alta na Argentina, na Colômbia e na Venezuela. Em 2006, a produção total de opiáceos aumentou 43% em relação ao ano anterior, em total de 6.610 toneladas métricas. O uso de opiáceos tem se mantido estável em 15,6 milhões de pessoas. O Afeganistão concentra a produção global, com 92%, e há muitos indícios de que o processamento do ópio para a heroína e morfina tem ocorrido cada vez mais dentro do país centro-asiático. A cannabis - erva e resina (maconha e haxixe) - é a droga mais traficada e consumida no mundo todo. O mercado consumidor é avaliado em cerca de 160 milhões de pessoas. A produção ocorre em pelo menos 82 países, e existem registros de tráfico de cannabis em pelo menos 146 países. A produção global de cannabis é estimada em aproximadamente 6.600 toneladas métricas, com um total de apreensões de 4.600 toneladas métricas de maconha e de 1.300 toneladas métricas de haxixe em 2005. Houve diminuição no volume de apreensão mundial de maconha e haxixe, o que é atribuído, em parte, a políticas de erradicação, principalmente no Marrocos. O mercado de cocaína manteve-se estável, como mostram os indicadores tanto da oferta como da demanda. A área total de produção diminuiu 29% entre 2000 e 2006, e chegou a 157.000 hectares. A diminuição na área de plantio deveu-se principalmente a erradicações de plantações na Colômbia. No Peru e na Bolívia, houve aumento na área de plantação, mas os níveis continuam mais baixos que há uma década. O declínio na área de plantação entre 2000 e 2005, contudo, não significou redução na produção. O uso de fertilizantes e pesticidas, bem como a melhoria das tecnologias de plantio, elevaram a produtividade. Quaglia, representante regional do UNODC para o Brasil e o Cone Sul, afirmou que as drogas têm que ser tratadas como questão de saúde pública. "É preciso trabalhar mais na prevenção e oferecer serviços a quem busca tratamento contra a dependência. E funciona. A Suécia, por exemplo, gasta 30% a mais em prevenção e tem 30% menos usuários de drogas que a média européia", disse. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu um "esforço coletivo" contra as drogas. "É necessária liderança política e mais meios, particularmente para mais e melhores condições de tratamento para dependentes químicos". De acordo com Ban, "os pais precisam se engajar, bem como professores e profissionais da área social e de saúde. É necessário que operadores do direito, oficiais de justiça e a mídia exerçam seus papéis". Costa, chefe do UNODC, disse que os passos positivos na luta contra as drogas não devem servir para esquecer o problema. "As drogas continuam sendo um vício letal, que coloca em risco a segurança e a saúde, além de arruinar a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo", disse. http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2007/...onu_841167.html
  16. LONDRES - Cinco membros do alto escalão do gabinete de ministros britânico, incluindo o ministro das Finanças e a secretária de Interior, admitiram nesta quinta-feira, 19, terem fumado maconha durante a juventude. O mais alto ministro a confessar o uso da droga foi novo ministro das Finanças, Alistair Darling, que disse ter fumado a erva "ocasionalmente durante minha juventude". A revelação foi feita depois que a secretária de Interior, Jacqui Smith, admitiu ter feito uso do entorpecente na juventude, depois que o governo anunciou que iria rever a classificação da maconha como droga de categoria B. Durante o governo de Tony Blair, a canabbis havia sido rebaixada para a classe C, sendo considerada de menor periculosidade. Após as confissões de Darling e Smith, dois outros ministros britânico também admitiram ter consumido maconha quando eram estudantes. As confissões ocorrem um dia depois de o primeiro-ministro, Gordon Brown, ter anunciado que a punição por uso de maconha poderá ficar mais rígida. "De vez em quando, em minha juventude", disse Darling à Reuters quando questionado sobre se havia fumado maconha. Smith afirmou à Sky News que "fumei maconha poucas vezes (na universidade), acho que foi errado". Ela acrescentou que não usou outras drogas. O premiê afirmou em diversas ocasiões que nunca consumiu drogas ilegais. Quanto à declaração dos ministros, o porta-voz de Brown disse que se trata de um assunto pessoal e que o premiê não tem queixas sobre a forma como eles responderam à pergunta. Na quarta-feira, Brown declarou que Smith supervisionaria uma revisão sobre se fumo e posse de maconha deveriam se tornar uma ofensa mais grave. http://www.estadao.com.br/internacional/not_int21557,0.htm http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2007/07/19/296861864.asp http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2007/...nha_929884.html http://www.ansa.it/ansalatinabr/notizie/ru...1634376656.html http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL72953-5602,00.html http://www.clicabrasilia.com.br/portal/not...IdNoticia=32684
  17. Londres - O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, confirmou hoje que seu governo pretende reclassificar a maconha como droga classe B, aumentando assim seu grau de periculosidade. Brown declarou em seu discurso semanal de quarta-feira na Câmara dos Comuns que a ministra do Interior britânica, Jacqui Smith, publicará um documento de consulta para elevar a periculosidade da maconha de classe C para B. "Ela consultará a população para saber quais os aspectos da educação sobre as drogas que podem melhorar no país e quais os tratamentos contra o vicio são recomendados", disse Brown. Segundo ele, as comunidades que querem retirar os vendedores de drogas das ruas também receberão apoio. http://www.jornaldamidia.com.br/noticias/2...a_grau_de.shtml
  18. A marijuana revela capacidades terapêuticas que a ilegalidade e o preconceito face ao seu consumo não permitem explorar do ponto de vista médico e farmacológico. A conclusão é extraída do livro «Marijuana, a medicina proibida», de Lester Grinspoon e James B. Bakalar. Paula Alexandra Almeida A Esfera dos Livros acaba de lançar uma segunda edição, revista e aumentada, da obra «Marijuana, a medicina proibida», da autoria de Lester Grinspoon e James B. Bakalar. O livro defende o uso da cannabis com fins terapêuticos e apresenta casos de sucesso. Segundo Lester Grinspoon, nos últimos anos “tornou-se claro que a cannabis é um medicamento seguro e notavelmente versátil”. Daí que esta edição da obra desenvolva mais a fundo “a análise científica e sociopolítica das perspectivas de aceitação da marijuana pela Medicina”. O livro inclui várias histórias de pessoas que utilizaram a marijuana com objectivos terapêuticos, obtendo resultados positivos: uma mulher com esclerose múltipla, por exemplo, afirma que a marijuana não lhe aliviava apenas os espasmos musculares, mas que também lhe conferia um grau de controlo da bexiga que lhe garantiu uma renovada liberdade social. Apesar da ilegalidade e do preconceito associados ao consumo daquela substância, Lester Grinspoon reconhece que um grande número de norte-americanos usa cannabis com alguma regularidade, a maior parte deles acreditando que ela melhora as suas vidas: “um tema raramente discutido na imprensa”. O autor assegura que, em mais de duas décadas de pesquisa, leu “muito sobre a potencial nocividade da cannabis, sobretudo disparates, e muito pouco sobre o seu valor. Embora ele tenha vários aspectos, o uso clínico é um dos mais importantes e dos mais negligenciados. Cheguei à conclusão de que, se qualquer substância tivesse revelado potencialidades terapêuticas semelhantes, de par com um registo de segurança similar, os profissionais e o público teriam mostrado muito mais interesse nela”, disse. Lester Grinspoon é médico e professor na Harvard Medical School, e James B. Bakalar é sub-editor da Harvard Mental Health Letter e lecciona matérias jurídicas no departamento de Psiquiatria da escola. Ambos editaram uma primeira versão desta obra, intitulada «Marijuana reconsidered», em 1971. http://www.oprimeirodejaneiro.pt/?op=artig...6bb88073d01b8ad
  19. Bombeiros da cidade de Edinburg, no Texas, Estados Unidos, passaram cerca de meia hora combatendo o fogo que tomou conta de um armazém com 907 kg de maconha. Durante o procedimento, os oficiais inalaram tanta fumaça produzida pela planta que não teriam passado no teste de drogas. Segundo o chefe do Corpo de Bombeiros, Shawn Snider, a equipe usou máscaras para evitar que inalassem qualquer gás tóxico ou venenoso. Mesmo assim, a quantidade de fumaça produzida pela maconha foi tanta que eles acabaram entorpecidos. Para a operação, foram empregados mais de 35 bombeiros, 3.785 l de água e 19 l de substância química para extinguir o fogo que tomava conta do armazém na última quarta-feira. Agentes da Imigração e Fronteira investigavam a origem da droga, enquanto autoridades locais averiguavam as possíveis causas do incêndio, que poderia ter sido criminoso. http://www.jornaldeitupeva.com.br/noticia....id=070625071105
  20. Agentes da Guarda Municipal de Umuarama (GMU) apreenderam ontem uma planta de aproximadamente 70 centímetros de altura. O vegetal tinha todas as características de um pé de maconha e, por isso, foi levado pela GMU para a 7ª Subdivisão Policial (SDP). O responsável pela planta não foi identificado. Augusto, inspetor da GMU, contou que uma denúncia anônima os levaram até a rua Mimosa, no Jardim Panorama. "No local constatamos que no fundo de uma casa abandonada havia um planta muito parecida com maconha. Os demais arbustos, no mesmo terreno estavam secos, mas a suposta maconha estava muito bem cuidada. A arrancamos e trouxemos para a delegacia", explicou. http://www.ilustrado.com.br/noticias.php?e...amp;id=00000008
  21. O sistema endocanabinóide: novo paradigma no tratamento da síndrome metabólica The endocannabinoid system: a new paradigm in the metabolic syndrome treatment Amélio F. de Godoy-Matos; Erika Paniago Guedes; Luciana Lopes de Souza; Cynthia Melissa Valério Serviço de Metabologia e Nutrologia do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia (IEDE/RJ), Rio de Janeiro, RJ Endereço para correspondência -------------------------------------------------------------------------------- RESUMO O balanço energético é um dos mais importantes mecanismos de homeostase e de sobrevivência das espécies. O sistema endocanabinóide é um novo e importante componente entre estes mecanismos. Os seus receptores e agonistas endógenos se expressam no sistema nervoso central (SNC) e perifericamente, em vários sítios, estabelecendo uma rede de comunicação periferia­SNC. Um aspecto marcante é a sua expressão no tecido adiposo, onde regula a lipogênese e aumenta a expressão de genes influentes no metabolismo dos lipídeos e dos carboidratos. Estes aspectos são importantes para o controle do peso corporal e da Síndrome Metabólica (SM). O sistema é ativado sob demanda e desativado rapidamente, atuando autócrina e paracrinamente, e as evidências sugerem que mantém-se hiperativado em estados de obesidade. Um antagonista específico do seu principal receptor (CB1), o Rimonabant, tem se mostrado importante ferramenta no controle do peso em modelos animais de obesidade e de SM. Da mesma forma, grandes estudos em humanos confirmam sua eficácia no controle do peso e das variáveis metabólicas, sugerindo um papel importante deste medicamento para o controle do risco cardiovascular associado à SM. Descritores: Endocanabinóide; Síndrome metabólica; Obesidade; Rimonabant -------------------------------------------------------------------------------- ABSTRACT Energetic balance is a fundamental homeostasis mechanism, which contributes to the species' survival. The endocannabinoid system is a new and important component among such mechanisms. Its receptors and endogenous agonists are expressed in central nervous system (CNS) and at various peripheral organs, establishing a CNS­periphery net communication. A relevant aspect is its expression in the adipose tissue, where it regulates lipogenesis and increases the expression of influent genes on lipids and carbohydrate metabolism. Interestingly, it seems to be upregulated in human and animal obesity, although it is activated on demand and rapidly deactivated. Its activation increases food intake and promotes weight gain, contributing to Metabolic Syndrome (MS). Rimonabant is a specific antagonist to the main endocannabinoid receptor (CB1). In animal models of obesity and MS, as well as in humans, Rimonabant has demonstrated to be a useful tool in controlling weight and metabolic aspects. Indeed, some new human trials suggest a possible role for this substance in controlling cardiovascular risk factors related to MS. Keywords: Endocannabinoid; Metabolic syndrome; Obesity; Rimonabant -------------------------------------------------------------------------------- É FATO QUE, NO CONTEXTO do desenvolvimento econômico mundial, o balanço de energia vem claramente pendendo para o excesso de ingestão calórica e para a diminuição do gasto de energia (1). Este balanço energético positivo tem resultado numa explosão epidêmica da obesidade e suas patologias associadas, como a Síndrome Metabólica (SM) (2,3). É compreensível, portanto, que um grande interesse científico tenha se desenvolvido visando à compreensão dos vários mecanismos endócrinos e neuroendócrinos de regulação do balanço energético. A Cannabis sativa tem sido cultivada pelo homem há mais de 5.000 anos, seja para a obtenção de fibras para manufatura têxtil, seja para fins medicinais ou recreacionais (4). A maconha e outros derivados psicotrópicos da Cannabis sativa representam a droga ilegal mais consumida no mundo ocidental. Os relatos sobre o efeito estimulador do apetite da Cannabis sativa, sobretudo para alimentos doces e palatáveis, datam de 300 d.C. Nos anos 80, a capacidade do composto ativo da Cannabis e de seus análogos sintéticos de estimular o apetite e reduzir náuseas e vômitos estimulou o seu uso em pacientes com câncer (5,6). Apenas recentemente, porém, foram clonados os alvos celulares das substâncias canabinóides, que foram denominados receptores CB (5). Concomitantemente, devido ao seu papel no controle da ingestão alimentar e balanço energético, vem crescendo a atenção no potencial terapêutico das substâncias que interferem com o sistema endocanabinóide endógeno. A longa história da Cannabis teve sua evolução estimulada e conduzida para a medicina após a descoberta e caracterização química do seu principal princípio ativo, o D9-Tetrahidrocanabinol (THC) (7). Seus principais derivados, utilizados na prática médica, são o Drabinol e a Nabilona. Em seqüência, em 1988, um sítio de ligação para o THC foi identificado no cérebro de ratos e, em 1990, foi clonado o primeiro receptor canabinóide (8). Após a identificação de um segundo receptor, ficou definida a nomenclatura de CB1 para o primeiro receptor e CB2 para o segundo. O CB1 é o mais abundante receptor GPCR (receptores de membrana-ligados-a-proteína G) no cérebro, enquanto o CB2 está presente nas células do sistema imunológico (5,6). No início da década de 90, foram descobertos dois agonistas endógenos dos receptores canabinóides: a N-aracdonoil etanolamina (Anandamida) e a 2-aracdonoil glicerol (2-AG), sendo atualmente designadas como endocanabinóides (ECB) (5). As enzimas fosfolipase N-acilfosfatidiletalonamina-seletiva e lipase sn-1-diacilglicerol-seletiva são as enzimas que rapidamente hidrolisam a Anandamida e a 2-AG, respectivamente (6). Os receptores canabinóides, os endocanabinóides e as enzimas que catalisam sua síntese e degradação constituem o Sistema Endocanabinóide (SECB) (9). O primeiro antagonista específico do receptor CB1 endocanabinóide foi descoberto em 1994, sendo denominado SR141716 ou Rimonabant (10). Esta substância vem sendo estudada como modulador do apetite e como agente para o controle do tabagismo e, principalmente, para o controle dos fatores de risco ligados à obesidade visceral (discussão adiante) (11). O antagonista específico do receptor CB2, SR144528, futuramente poderá ser usado em pesquisas com a finalidade de modular a resposta imune (10,12). O Sistema Endocanabinóide Os receptores canabinóides pertencem à superfamília dos receptores de membrana-ligados-a-proteína G (GPCR; G-Protein-Coupled-Receptor) (5,13). A ativação desses receptores, tipicamente, inibe a adenilato-ciclase com conseqüente fechamento dos canais de cálcio, abertura dos canais de potássio e estimulação de proteínas quinases. O CB1 é o mais abundante receptor GPCR no cérebro, expresso predominantemente nos neurônios pré-sinápticos, mas também se encontra presente no sistema nervoso periférico (6). De fundamental importância para o conhecimento médico é entender que os agonistas endógenos e os receptores CB1 se expressam em vários outros órgãos da periferia (tabela 1). Atenção especial deve ser dada à sua presença no tecido adiposo. Já os receptores CB2 estão presentes nas células do sistema imunológico (5,6). Há evidências farmacológicas e fisiológicas sugerindo a existência de outros subtipos de receptores, ainda não clonados (5). Os principais agonistas endógenos dos receptores canabinóides, a anandamida e a 2-AG, são derivados de ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa, principalmente do ácido aracdônico (6). Essas substâncias não estão confinadas no SNC, mas também agem como mediadores locais em muitos tecidos, sendo produzidos por demanda após alterações agudas ou crônicas da homeostase celular (6). Os endocanabinóides agem como mensageiros cerebrais retrógrados (14,15). Diferentemente da seqüência usual, o estímulo começa no neurônio pós-sináptico e a excitação neuronal leva à despolarização e ao influxo de íons cálcio que estimulam várias fosfolipases, iniciando assim a síntese dos endocanabinóides (figura 1). Esses são liberados na fenda sináptica e se difundem livremente para estimular os receptores CB1 nos terminais pré-sinápticos neuronais (6). Os endocanabinóides agem como mediadores locais de forma parácrina e autócrina, sendo captados por células neuronais através de transportadores e metabolizados rapidamente. Assim, são rapidamente hidrolizados pelas enzimas fosfolipase N-acilfosfatidiletalonamina-seletiva (FAAH) e lipase sn-1-diacilglecerol seletiva (6). É importante ressaltar que os ECB não ficam armazenados nas vesículas lisossômicas, mas são prontamente sintetizados e liberados para as células, onde e quando forem necessários. Portanto, a disponibilidade dos ECB é regulada por captação-degradação (15). É interessante perceber, portanto, que a enzima de degradação da anandamida (FAAH) pode determinar maior atividade do sistema quando inativada. Com efeito, estudos muito recentes demonstraram uma associação entre um polimorfismo no gene da FAAH e obesidade em humanos (16). Ainda nesta linha de raciocínio, Engeli e cols. mostraram que os endocanabinóides anandamida e 2-AG estão aumentados no plasma de humanos obesos, e seus níveis estão inversamente relacionados com a atividade da FAAH (17). Isto corrobora dados em animais que apontam para uma hiperatividade do SECB em estados de obesidade. Jack e cols. demonstraram que a mesma mutação no gene da FAAH pode estar relacionada a um maior risco de uso de drogas ilícitas e alcoolismo, sugerindo também uma relação entre SECB e abuso e dependência de drogas (18). Além de seus efeitos no balanço energético, o SECB tem um importante papel na regulação da secreção hormonal, através da sua ação primária no hipotálamo e direta na hipófise (5). A expressão dos receptores CB1 e a síntese de ECB nas células hipofisárias, além da habilidade dos ECB em inibir a secreção de prolactina e de GH e em aumentar a de ACTH, foram recentemente descritos (19). A habilidade em modular o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e o envolvimento da resposta ao estresse são avaliados por estudos que demonstram que os ECB parecem produzir efeitos ansiolíticos dose-dependente (9). Além disso, são capazes de modular a resposta imune e inflamatória e várias funções fisiológicas, como a cardiovascular (alteração da freqüência cardíaca e vasodilatação), a respiratória (hiper ou hipoventilação e broncodilatação), a reprodutiva (inibição da secreção de testosterona e relaxamento uterino) e a ocular (diminui a pressão intra-ocular) (9). O Sistema Endocanabinóide (SECB) e o Comportamento Alimentar No homem, é reconhecido o efeito do uso recreacional da Cannabis, induzindo a procura por alimentos, notadamente alimentos palatáveis (este efeito é popularmente denominado de "larica") (19). Este fato e a experiência médica anterior, com o uso de canabinóides para alívio de anorexia e náuseas em pacientes com doenças consumptivas, sugeriam um papel deste sistema na modulação do apetite (19). Anatomicamente, esta relação parece se confirmar, ao se demonstrar que os endocanabinóides e o receptor CB1 estão presentes em altas concentrações em áreas hipotalâmicas que estão envolvidas no controle alimentar como a ventromedial, a dorsomedial, a lateral, os núcleos arqueados e os paraventriculares (10,20). Uma interessante característica do sistema endocanabinóide é o fato de agir "sob demanda". Isto significa que é acionado apenas quando necessário e funciona para reparar ou modular a função de outros mediadores. Obviamente, pela abundância no SNC, os neurotransmissores são os principais candidatos à sua interação (5,6). Diversos sítios de produção de neurotransmissores relacionados ao comportamento alimentar, como CRH (Corticotropin Releasing Hormone), MCH (Melanin Concentrating Hormone), CART (Cocaine-Amphetamine Related Transcript) e a pré-pró-orexina estão localizados próximos aos receptores CB1 (20). Existem, ainda, evidências para uma relação funcional entre o SECB e o neuropeptídeo Y, a melanocortina, o GLP-1 e a grelina (20,21). As experiências com animais de laboratório atestam a intrínseca relação entre o SECB e o controle alimentar (18-25). Por exemplo, a restrição alimentar aumenta os níveis hipotalâmicos dos ECB, que diminuem quando os animais são alimentados (22). De outra forma, a administração central e periférica de anandamida (AEA) aumenta a ingesta alimentar em roedores (20). Jamshidi e cols. injetaram anandamida no hipotálamo de ratos pré-saciados e observaram um grande e significativo aumento da ingesta alimentar após três horas do procedimento (23). Curiosamente, os níveis de anandamida estão aumentados em modelos clássicos de obesidade animal, como nos camundongos db/db, apesar de esses animais serem hiperfágicos. Já a leptina, que é secretada pelo adipócito e apresenta efeito na redução da ingestão alimentar, promoveu redução dos níveis hipotalâmicos de AEA E 2-AG, quando administrada agudamente a ratos normais ou ob/ob (24). Sugere-se, deste modo, que uma deficiência da sinalização da leptina proporcionaria o aumento dos níveis de EC e que, na obesidade, este sistema estaria hiperativo. Di Marzo e cols. demonstraram, assim, que o SECB e a leptina fazem parte do sistema homeostático que regula a ingestão alimentar e o peso corporal (24). Isto parece se confirmar em humanos. Monteleone e cols. demonstraram uma relação inversa entre a anandamida e a leptina em mulheres com peso normal. O mesmo aconteceu nas mulheres anoréticas, que exibiram baixos níveis de leptina e, provavelmente como conseqüência desta deficiência, níveis elevados de AEA (mas não de 2-AG) (25). Este fato poderia ser interpretado como uma tentativa de adaptação à restrição da ingesta causada pela drástica redução de leptina na anorexia nervosa, apesar de que fatores psicológicos parecem se sobressair aos biológicos, frustrando este mecanismo adaptativo (25). Os receptores CB1 estão presentes no trato gastrointestinal, nas mesmas regiões onde se expressam peptídeos envolvidos no controle alimentar, sugerindo um possível papel do SECB na modulação da alimentação através de uma sinalização intestino-cérebro (21). Já foi demonstrado que o jejum aumenta os níveis de anandamida no intestino delgado, o que se relacionaria ao estímulo da ingesta alimentar (26). A grelina é um peptídeo sintetizado pela mucosa do fundo gástrico, que age como um potente orexígeno, sinalizando o início da alimentação (27). Cani e cols. demonstraram que a administração do antagonista do receptor CB1, o Rimonabant, inibiu a ingesta alimentar nos ratos em jejum, o que se associou a redução significativa dos níveis de ghrelina (18). Estes resultados sugerem um papel do SECB na regulação da secreção de peptídeos gastrointestinais orexígenos. Uma forma de demonstrar o papel do SECB no controle do balanço energético é, naturalmente, a sua inativação (28). Isto pode ser feito inativando geneticamente o seu principal receptor (CB1) ou utilizando um antagonista CB1 específico (6). Assim, foi demonstrado que camundongos nocauteados para o gene do receptor CB1 consomem significativamente menos comida (6). Cota e cols. demonstraram também que os animais nocauteados (KO) para o gene do receptor CB1 ganhavam menos peso do que os animais primitivos (20). Interessantemente, ajustando a ingestão alimentar dos dois grupos, estes autores demonstraram que, ainda assim, os animais KO pesavam menos que os controles. Mais curioso, submetidos a estudo de composição corporal com Ressonância Nuclear Magnética, os animais KO apresentavam menor percentual de gordura corporal. Estes dados sugerem que a inativação do sistema diminui o peso corporal não só pelo controle da ingestão alimentar, mas, também perifericamente, diminuindo a lipogênese (20). Um antagonista seletivo do receptor CB1, denominado Rimonabant, foi desenvolvido após um melhor entendimento do SECB (9). Estudos com o Rimonabant demonstram uma potente diminuição na procura por alimentos palatáveis (doces, por exemplo) em animais alimentados ad libitum ou uma diminuição da ingesta, de curta duração, em animais sob restrição alimentar (5,6). Num modelo de obesidade animal mais semelhante à obesidade humana, animais submetidos a uma dieta rica em gordura quando tratados cronicamente com Rimonabant, diminuíram transitoriamente a ingestão alimentar e perderam peso significativamente (29). Quando administrado para animais nocauteados para o receptor CB1, o medicamento não exerceu qualquer efeito, atestando que sua ação na regulação do apetite é, realmente, via o sistema endocanabinóide (29). Num estudo subseqüente, o mesmo grupo de autores demonstrou que animais KO para o receptor CB1 se mostraram resistentes em ganhar peso sob uma dieta hiperlipídica (30). Em confirmação aos experimentos de Cota e cols., discutido anteriormente, os animais nocauteados para o gene do receptor CB1 mostravam uma composição corporal de menor percentual de gordura (20,30). Os mais importantes estudos para elucidar os mecanismos de controle do peso pelo SECB talvez venham de uma recente série de experimentos produzidos por Jbilo e cols. (31). Estes autores demonstraram, no mesmo modelo de obesidade induzida por dieta e tratados com Rimonabant ou placebo, que: 1) o tecido adiposo branco (WAT) e o tecido adiposo marrom (BAT) lombar eram 64% e 46% menor (p< 0,001) nos animais tratados com Rimonabant em comparação ao placebo, 2) a diferença na média do diâmetro do adipócito era 57% menor e a capacidade de estocagem de gordura estimada era 90% menor no grupo tratado com Rimonabant (estas diferenças não eram explicadas pela ingestão alimentar, já que apenas no início da experiência houve redução da ingesta), 3) através da análise de uma série de genes pela técnica do chip de DNA, ficou claro que o Rimonabant induziu genes em exata oposição aos efeitos da dieta hiperlipídica e em semelhança ao modelo do nocaute do receptor CB1 (31). A cascata de modulação destes genes favorecia a indução de genes que aumentam a lipólise (através da b-oxidação de ácidos graxos e do ciclo dos ácidos tricarboxílicos/TCA), aumentam o gasto energético (através dos ciclos fúteis ou dos substratos) e regulam a homeostase da glicose. Estas alterações contribuíram para uma redução do estado inflamatório induzido pela obesidade. Assim, os efeitos do SECB se dão através de mecanismos fenotípicos e genotípicos (31). Estes e outros dados sugerem que o sistema ECB atua na ingestão alimentar de duas maneiras no SNC: 1) via sistema mesolímbico, reforçando e incentivando a procura por alimentos com capacidade de proporcionar mais prazer, e 2) via hipotálamo, agindo "sob demanda" para induzir o apetite, modulando ou regulando substâncias orexígenas ou anorexígenas quando de uma restrição alimentar (20). Além disso, as suas ações se estendem à periferia, através do eixo enteral­SNC (21). Talvez mais importante, sua atividade no tecido adiposo, controlando a lipogênese, aparenta ser fundamental para o controle do peso e das alterações metabólicas conseqüentes, como será discutido adiante (31). O fato de os receptores ECB não estarem confinados apenas ao SNC, mas disseminados em vários outros tecidos, torna mais consistente o conceito de estresse e de mecanismos para restabelecimento da homeostase (5,6,20). É interessante notar que, além do sedentarismo e do aumento da oferta de alimentos, o estresse crônico ajuda a explicar o papel do ambiente na gênese da obesidade. Neste caso, condições de estresse crônico levariam a uma hiperestimulação da síntese de ECB. Os estudos com a atividade da FAAH em humanos, discutidos anteriormente, sugerem também que a hiperatividade do SECB depende de uma menor degradação, resultando em hiperativação permanente dos receptores CB1 (16). Isto contribui para a manutenção da obesidade e conseqüente instalação da SM. Evidências do papel do sistema ECB na SM em modelos animais O tecido adiposo é fundamental para a fisiopatologia da SM devido à função armazenadora de energia, à função endócrina do adipócito, ao conceito da deposição ectópica de gordura e ao papel do sistema PPAR, entre outros (32-34). Só recentemente, porém, conhecimentos da relação do sistema ECB com o tecido adiposo surgiram e, naturalmente, as inferências sobre o seu papel na SM são uma questão lógica. O primeiro achado, na verdade, vem de longa data, quando ficou demonstrado que o canabinóide D9-Tetrahidrocanabinol (THC) era lipossolúvel (5,6,14). Mais importante, porém, foram os estudos de Cota e cols. (20) e de Bensaid e cols. (35), que demonstraram em camundongos e ratos, respectivamente, a presença de receptores CB1 no tecido adiposo. Ainda mais, foi demonstrado que o uso de um agonista do receptor CB1 (WIN-55,212) estimulava de maneira dose-dependente a lipase lipoprotéica e a lipogênese em cultura de células adiposas (20). Um outro achado que liga o sistema ECB com o tecido adiposo e a SM foi publicado por Bensaid e col. (35). Estes investigadores demonstraram que o Rimonabant induzia um aumento da expressão da proteína exclusiva do adipócito, a Acrp30 (adiponectina), no tecido adiposo de ratos Zucker obesos. O mesmo se observou em cultura de adipócitos, realçando um efeito direto no adipócito (35). O fígado é um importante sítio de metabolismo da glicose e de lipídeos. Seu envolvimento na SM está bem estabelecido (19,36). De fato, a esteato-hepatite não alcoólica é um constituinte dos estados de obesidade e resistência à insulina (37,38). Como sobejamente conhecido, a resistência periférica à ação da insulina está relacionada de forma independente com a obesidade visceral (39,40). Da mesma forma, a resistência hepática à ação da insulina relaciona-se com o teor de gordura hepática, que por sua vez está relacionado com o depósito de gordura visceral (40,41). Ainda mais, a oferta de ácidos graxos para o fígado, avaliada pela sua concentração no território venoso esplâncnico, está diretamente relacionada com o teor de gordura visceral (42). Mediadores moleculares como o SREBP-1 (Steroid Regulator Element Binding Protein 1) estão envolvidos na fisiopatologia da esteatose e da injúria hepática nos estados de obesidade e resistência à insulina (43). Este é um fator de transcrição que atua na cascata da lipogênese hepática, via transcrição dos genes de enzimas-chave como a acetil-CoA-carboxilase-1 (ACC1) e a sintetase de ácidos graxos (FAS). Recentemente, foi demonstrado que o fígado também expressa receptores CB1, através dos quais há a indução do SREBP-1 e, conseqüentemente, indução da lipogênese hepática (44). Em animais com obesidade induzida por dieta, estes autores demonstraram um aumento do endocanabinóide anandamida, da expressão do receptor CB1 e de esteatose hepática (44). Mais ainda, mostraram que o tratamento destes animais com Rimonabant diminuiu a síntese hepática de ácidos graxos. Interessantemente, os animais KO para o receptor CB1 não só se mostraram resistentes ao ganho de peso, como também à esteatose (44). Papel do antagonista do receptor CB1 na SM em humanos Alguns estudos de fase III com o antagonista do receptor CB1, Rimonabant, já estão em andamento, e seus dados já estão sendo apresentados em congressos e simpósios mais recentes (tabela 2). O programa RIO (Rimonabant In Obesity) tem selecionado mais de 6.600 pacientes com sobrepeso/obesidade em todo o mundo para 4 estudos fase III: 1 estudo de 2 anos de duração (RIO­North America) e 3 estudos de 1 ano (RIO­Europe, RIO­Lipids e RIO­Diabetes) (45-48). Dois destes estudos já foram publicados e serão discutidos adiante. O objetivo destes estudos foi a avaliação do papel de Rimonabant no manejo da obesidade, manutenção da perda de peso, prevenção da recuperação do peso após perda de peso inicial e melhora dos fatores de risco relacionados à obesidade, como diabetes e dislipidemia (47,48). Em geral, os resultados preliminares destes estudos apontam para um efeito significativo do Rimonabant em todos os parâmetros da SM (47,48). No RIO­Europe (Rimonabant in Obesity­ Europe), 1.507 pacientes com obesidade ou com excesso de peso associado a dislipidemia ou hipertensão foram randomizados, de forma duplo-cega, para receber placebo ou Rimonabant nas doses de 5 mg ou 20 mg ao dia (47). Em 1 ano, a perda de peso foi significativamente maior nos grupos Rimonabant quando comparados com o placebo (-3,4 ± 5,7 Kg para a dose de 5 mg e -6,6 ± 7,2 para a dose de 20 mg versus -1,8 ± 6,4 Kg para o grupo placebo). Na população que completou o tratamento, mais de 67% atingiu uma perda de 5% ou mais do peso inicial e 39% perdeu 10% ou mais, comparados com 30,5% e 12,4%, respectivamente, no grupo placebo. Ainda mais importante, a redução na circunferência abdominal foi -1,5 ± 7,3 cm para o placebo contra -8,5 ± 7,4 cm para o grupo 20 mg de Rimonabant (p< 0,001). Os grupos em uso de Rimonabant também obtiveram significativas melhoras nos níveis de triglicérides, HDL-colesterol e resistência à insulina (medida pelo HOMA), de forma que ao final do tratamento houve uma redução de 64,8% no número de pacientes que preenchiam o diagnóstico para SM no grupo de 20 mg do Rimonabant, contra 33,9% de redução no grupo placebo (p< 0,001). A glicemia de jejum diminuiu significativamente apenas no grupo de 20 mg, quando comparado ao placebo (34). Os dados do estudo RIO­North America, com dois anos de duração, mas ainda não publicados, são semelhantes ao relatados para o RIO­Europe, sugerindo benefícios por um período mais prolongado. À primeira vista, parece que os efeitos do Rimonabant nos parâmetros metabólicos estariam relacionados à perda de peso. Entretanto, nos estudos apresentados, modelos de regressão logística e/ou ANCOVA, usando a perda de peso como co-variável, mostraram que a melhora nos níveis de triglicérides e HDL-C eram parcialmente independentes da perda de peso (cerca de 40% para o HDL e 55% para os triglicérides) (47,48). O estudo RIO­Lipids, recentemente publicado, envolveu 1.036 pacientes com excesso de peso (IMC entre 27 e 40 Kg/m2), hipertrigliceridemia e relação colesterol total/HDL-colesterol maior que 4,5 ou 5,0 para mulheres ou homens, respectivamente (48). Os pacientes não estavam previamente sob tratamento para a dislipidemia. Após randomização, os pacientes receberam orientação para uma dieta com 600 Kcal de déficit calórico mais placebo ou Rimonabant, 5 ou 20 mg/dia, por um período de 12 meses. Comparados com o placebo, os pacientes que receberam Rimonabant 20 mg perderam mais peso (média de 6,7 ± 0,5 kg; p< 0,001) e diminuíram mais a circunferência abdominal (média de 5,8 ± 0,5 cm; p< 0,001). Consistentes foram também os resultados no perfil lipídico: o HDL-C aumentou 10,0 ± 3,5% enquanto os triglicerídeos diminuíram em média 13,0 ± 3,5%. Interessante, os aumentos do HDL-C e da relação colesterol total/HDL-C demonstraram ser dose-dependente e houve uma redistribuição do perfil das partículas do LDL-C em favor de partículas maiores e menos densa ("flutuante" e menos aterogênica) no grupo Rimonabant 20 mg. Além disso, Rimonabant na dose de 20 mg conduziu a um aumento nos níveis de adiponectina de 57,7%. Foi estimado que cerca de 57% deste aumento foi independente da perda de peso. Isto parece confirmar, em humanos, os estudos que demonstram uma ação direta indutora da adiponectina no tecido adiposo. O perfil de segurança do medicamento parece ser adequado (47,48). Até agora, cerca de 5.580 pacientes fizeram parte dos estudos RIO. Os dados acumulados mostram uma incidência de apenas 3,6% de efeitos colaterais acima do placebo. Os efeitos adversos mais comuns foram: náuseas (1,3%), diarréia (1,3%), tonturas (0,6%), depressão (1,4%) e ansiedade (0,7%) (47,48). No estudo RIO­Lipids, os efeitos adversos mais freqüentes, em ordem decrescente, foram: náuseas, tonteiras, gripe, ansiedade, diarréia e insônia (48), não diferindo muito em relação ao placebo. As taxas de depressão e ansiedade medidas pela "Escala Hospitalar de Depressão e Ansiedade" não foram diferentes entre os grupos e mantiveram-se em níveis baixos (em torno de 3,0 para depressão e 5,0 para ansiedade numa escala que vai de 0 a 21 pontos). Contudo, a taxa de descontinuação no estudo por eventos adversos foi maior no grupo Rimonabant 20 mg. Se exploradas mais detalhadamente, a depressão contribuiu com 2,9% e ansiedade 1,7% no grupo Rimonabant 20 mg, contra 0,6% no placebo (48). Papel do antagonismo do receptor CB1 na dependência de nicotina De acordo com a OMS, atualmente cerca de 47% dos homens e 12% das mulheres são tabagistas em todo o mundo (49). A relação entre tabagismo e mortalidade cardiovascular é bem definida, e o tabagismo permanece como a mais prevenível causa de morte cardiovascular (50,51). A nicotina, presente no cigarro, é a substância responsável pelo desenvolvimento da dependência (52). O consumo de nicotina é motivado pela liberação de dopamina no nucleus accumbens. O uso crônico de nicotina resulta em hiperestimulação persistente do SECB no nucleus accumbens, com reforço da liberação de dopamina e abuso da nicotina (53). O bloqueio seletivo do receptor CB1 tem demonstrado ser eficaz no tratamento da dependência à nicotina (45,49,50). O estudo STRATUS (STudies with Rimonabant And Tobacco USe), envolvendo 6.500 pacientes em todo o mundo, foi desenvolvido para avaliar o papel do antagonista seletivo de CB1 (Rimonabant) na interrupção do tabagismo, abstinência a longo prazo e prevenção de ganho de peso (após o paciente parar de fumar) (41). O projeto engloba 2 estudos fase III de 10 semanas de duração seguidas de 10 semanas de follow-up (STRATUS­US nos Estados Unidos e STRATUS­EU na Europa) e um estudo de 1 ano de tratamento seguido por 1 ano de seguimento (STRATUS­WW ­ estudo mundial) (45,54,55). Resultados preliminares do STRATUS­US demonstraram que a taxa de abandono do tabagismo foi significativamente maior com Rimonabant 20 mg ao dia quando comparado ao placebo, com também significativa redução do ganho de peso após a interrupção do tabagismo (45,54,55). O perfil de segurança do Rimonabant foi favorável neste estudo (45,54,55). Considerando o papel do tabagismo como expressivo fator de risco cardiovascular, aliado ao ganho de peso associado à interrupção do tabagismo e ao possível desenvolvimento da SM, estes estudos orientam para o potencial terapêutico do bloqueio do SECB nesta situação. CONCLUSÕES Em resumo, o sistema ECB está relacionado com o controle energético e funciona induzindo a ingestão alimentar. Notadamente, é estimulado transitoriamente em situações de restrição alimentar e na presença de alimentos de alto valor de recompensa (palatável). Além disso, atua perifericamente, contribuindo para um "diálogo" entre a periferia e o SNC, e aumentando a lipogênese. O bloqueio deste sistema através de um antagonista seletivo do receptor CB1 (Rimonabant) diminui a ingestão alimentar, auxilia no controle do peso em animais e em humanos e contribui para uma melhora nos parâmetros metabólicos que compõem a SM (figura 2). Alguns desses efeitos parecem ser parcialmente independentes do controle do peso. REFERÊNCIAS 1. Webber J. Energy balance in obesity. Proc Nutr Soc 2003;62:539-43. 2. Flegal KM. Epidemiologic aspects of overweight and obesity in the United States. Physiol Behav 2005;86:599-602. 3. Berenson GS. Obesity — a critical issue in preventive cardiology: the Bogalusa Heart Study. Prev Cardiol 2005;8:234-41. 4. Smith R, Fathi Z. Recent advances in the development and research of CB1 antagonists. Drugs 2005;8:55-63. 5. Di Marzo V, Bifulco M, Petrocellis L. The endocannabinoid system and its therapeutic exploitation. Nat Rev Drug Disc 2004;3:771-84. 6. Di Marzo V, Matias I. Endocannabinoid control of food intake and energy balance. Nat Neurosci 2005;8:585-9. 7. Gaoni Y, Mechoulan R. Isolation, structure, and partial synthesis of an active constituent of hashish. J Am Chem Soc 1964;86:1646-7. 8. Matsuda LA, Lolait SJ, Brownstein MJ, Young AC, Bonner TI. 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  22. O sistema endocanabinóide: nova perspectiva no controle de fatores de risco cardiometabólico Emilio Antonio Francischetti; Virginia Genelhu de Abreu Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ - Rio de Janeiro, RJ Os últimos quarenta anos registraram um importante declínio na prevalência de muitos fatores de risco cardiovascular1. Os avanços terapêuticos conquistados graças aos agentes hipolipemiantes, anti-hipertensivos e antidiabéticos orais representaram valiosos instrumentos para reduzir o pesado gravame, em termos de saúde pública, imposto pelos fatores de risco cardiovascular e metabólico. A doença cardiovascular ainda permanece como principal causa de morte em vários países do mundo ocidental, seja pelo inadequado controle de doenças como o diabetes mellitus, hipertensão arterial e o hábito de fumar1 e/ou pela emergência de novos fatores de risco tais como, aumento da circunferência abdominal2, níveis reduzidos de HDL-C, hipertrigliceridemia e maior proporção de partículas de LDL pequenas e densas3, que reconhecidamente contribuem para o risco cardiovascular global. Ensaios clínicos mostraram que, embora se tenha alcançado redução significativa no número de eventos pela utilização de esquemas terapêuticos considerados altamente efetivos, um importante risco residual ainda permanece, deixando uma proporção não desprezível de pacientes tratados vulneráveis à morbidade cardiovascular e metabólica4-6. Este aspecto é particularmente alarmante em indivíduos que agregam múltiplos fatores de risco. A obesidade, principalmente a adiposidade visceral, é uma pandemia que acomete tanto populações de países hegemônicos como daqueles em desenvolvimento, inclusive o Brasil7,8. Atualmente, o tecido adiposo visceral é considerado um órgão endócrino e potencialmente diabetogênico e pro-inflamatório9. Alterações na expressão e secreção de adipocitocinas e mediadores inflamatórios explicam por que a obesidade abdominal se associa à resistência à insulina, dislipidemia aterogênica e hipertensão10. As múltiplas definições de Síndrome Metabólica – [da] ATP III11, World Health Organization12 e International Diabetes Federation (IDF)13 – incluem esses fatores como componentes da síndrome. Estudos recentes identificaram as bases moleculares, os circuitos neuronais e as vias metabólicas envolvidas na regulação do consumo de alimentos. Numerosos neuropeptídeos já foram caracterizados em distintos núcleos hipotalâmicos, interagindo com sinais originados de órgãos periféricos, o que sugere existir uma complexa rede que participa não só no controle do apetite e saciedade, como na modulação do balanço energético e composição corporal14. O sistema endocanabinóide é um sistema de sinalização endógena que atua fisiologicamente na regulação da homeostase energética e no metabolismo de lípides e hidratos de carbono15. A hiper-ativação do sistema endocanabinóide não só causa aumento de peso15 como pode induzir fenótipos dislipidêmicos e disglicêmicos16. Numerosos estudos clínicos e experimentais demonstraram que a intervenção farmacológica no sistema representa promissora perspectiva terapêutica no controle da obesidade, dislipidemia, resistência à insulina e aterosclerose17,18. O sistema endocanabinóide Aspectos históricos A Cannabis sativa (maconha ou marijuana) é a droga ilícita mais consumida no mundo a partir de 196019. Cultivada há mais de cinco mil anos para a obtenção de fibras utilizadas na manufatura de tecidos, a Cannabis era prescrita pelos chineses, desde 2600 A.C., para tratar câimbras, dores reumáticas e menstruais20. Porém, só em 1964 o seu princípio ativo D9-tetra-hidrocanabinol (THC) foi isolado e sua estrutura química caracterizada21. Atualmente, inúmeros análogos sintéticos da Cannabis sativa vêm sendo prescritos como antieméticos e estimulantes do apetite aos pacientes com doenças oncológicas, em uso de quimioterápicos. O dronabinol, um composto sintético derivado do THC foi aprovado pelo FDA, há mais de 15 anos, como tratamento auxiliar de fases avançadas de portadores de SIDA e câncer que cursam com anorexia e caquexia22-24. Em 1988, o primeiro receptor canabinóide foi identificado25. Em 1993, esse receptor foi cognominado CB1 pois, nesse mesmo ano, um segundo receptor foi caracterizado e designado CB226. Ambos os receptores estão acoplados às proteínas Gi/o e pertencem a uma grande e diversificada família de proteínas acopladas à membrana celular. A distribuição tecidual dessas estruturas explica a maior parte dos efeitos psicotrópicos do THC e atribuídos aos receptores CB127. Os efeitos dos receptores periféricos CB2 estão mais associados à resposta imune28. Os primeiros ligantes endógenos dos receptores canabinóides – os endocanabinóides – foram isolados em 199229. Nos dias atuais, a anandamida (N-araquidonoil etanolamina) e o 2-araquidonoil glicerol (2-AG) são, entre os canabinóides endógenos, os mais exaustivamente estudados. O termo "ananda" oriundo do Sânscrito significa felicidade serena ou bem-aventurança20. Ambos os endocanabinóides são agonistas dos receptores CB1 e CB2. Os níveis celulares e teciduais do 2-AG são mais elevados que os da anandamida por conta de seu maior envolvimento em várias vias metabólicas. Os receptores canabinóides, os endocanabinóides e as enzimas que catalisam sua biossíntese e degradação constituem o sistema endocanabinóide. Receptores CB1 e CB2 Os receptores canabinóides caracterizados até o momento regulam a atividade das adenilato-ciclases (as quais inibem) e das MAPK (do inglês - mitogen-activated protein kinases) as quais estimulam. No caso específico dos receptores CB1, a modulação se faz sobre canais de Ca2+ ativados por voltagem (os quais inibem) e canais de K+ (os quais estimulam)30. A função primária desses receptores é a transdução de estímulos extra-celulares em sinais intracelulares. Os receptores CB1 são entre os GPCRs (do inglês – G protein-coupled membrane receptor), os mais abundantes até agora identificados no sistema nervoso central, embora estejam também presentes no sistema nervoso periférico31. Os canabinóides endógenos exercem, através de seus receptores, importantes ações sobre o sistema nervoso central, que incluem a regulação da função cognitiva e das emoções em circuitos neuronais do córtex, hipocampo e amídala e no reforço dos efeitos de substâncias que levam à dependência química no sistema mesolímbico incluindo a cocaína32, a heroína33, a anfetamina34 e o álcool35. Alguns estudos têm mostrado um importante papel do sistema endocanabinóide na modulação da dependência de nicotina. Em animais CB1-/- os efeitos de recompensa da nicotina estão abolidos36 e a administração de um antagonista seletivo CB1, o rimonabanto, diminui o comportamento de procura pelo alcalóide37. Os receptores CB2 localizam-se em estruturas associadas à modulação do sistema imune e da hematopoiese. O estímulo dessas estruturas pelo D9-tetra-hidrocanabinol resulta em um fenótipo imunossupressor38. Formação e inativação dos endocanabinóides. O processo de neurotransmissão retrógrada A maior parte dos endocanabinóides identificados até o momento é derivada de ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa (PUFAs), especificamente o ácido araquidônico (fig. 1). Assim, a anandamida e o 2-AG são formados por vias dependentes de fosfolipídios e cujas enzimas de síntese são a N-acilfosfatidiletanolamida-fosfolipase D seletiva (NAPE-PLD) e a sn-1-diacilglicerol lípase seletiva (DAG Lipase), respectivamente39,40. Ainda que a maior parte dos endocanabinóides atue sob "demanda ou necessidade", em resposta tanto aos estímulos fisiológicos (despolarização neuronal) quanto patológicos15, existem evidências de que estariam primariamente ativados em algumas áreas do cérebro que controlam o balanço energético, sugerindo um tônus contínuo que favorece a ingestão de energia e seu armazenamento41. Tanto a anandamida quanto o 2-AG têm sua ação interrompida por processo de recaptação pelos neurônios, seguida de seu metabolismo. Essa etapa parece ocorrer por simples difusão e/ou através de processo facilitado por uma proteína transportadora. Ambos os endocanabinóides são rapidamente metabolizados e hidrolizados pela FAAH (do inglês - fatty acid amide hydrolase) e pela MAG lipase (do inglês - monoacyl glicerol), respectivamente, em compostos inativos16,42. As múltiplas funções do sistema endocanabinóide Estudos clínicos e experimentais têm demonstrado que os canabinóides endógenos e a ativação concomitante de seus receptores CB1 causam uma pletora de efeitos, entre os quais: 1) envolvimento na antinociceptividade (diminuição da sensibilidade aos estímulos dolorosos), controle do movimento e inibição da memória de curto prazo43; 2) inibição da secreção de prolactina e do hormônio do crescimento e aumento na secreção do ACTH44; 3) efeitos ansiolíticos, através de ações sobre o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal45 ; 4) modulação da resposta imune e inflamatória46; 5) aumento da freqüência cardíaca, vasodilatação e broncodilatação47,48; 6) inibição da secreção de testosterona, anovulação e relaxamento uterino49; 7) atividade antitumoral50; 8) neuroproteção diante de situações de trauma e hipóxia51; 9) modulação da ingestão de alimentos graças aos seus efeitos sobre a liberação de peptídeos e hormônios hipotalâmicos e à regulação dos mesmos pelos esteróides31. Todos esses efeitos pleiotrópicos foram concisamente resumidos por Di Marzo e colaboradores52 em uma única frase: "O sistema endocanabinóide reduz a sensação de dor, controla o movimento, a memória, o sono, o apetite e protege". A ativação tônica dos receptores CB1 cardíacos e vasculares parece limitar a elevação da pressão arterial. Recentemente, Kunos e cols.53 observaram que ratos espontaneamente hipertensos (SHR), quando tratados com um inibidor da degradação da anandamida, tiveram sua hipertensão controlada, efeito esse revertido pela administração de antagonistas CB1. O bloqueio da inativação dos endocanabinóides além de reduzir a pressão dos SHR diminuiu simultaneamente a performance contrátil do ventrículo esquerdo, embora não afetasse esses mesmos parâmetros em animais normais53. Outra observação extremamente intrigante, agora em relação à função dos receptores CB2, é a de que as propriedades imunossupressoras dos mesmos teriam um efeito benéfico e protetor no milieu inflamatório de lesões ateroscleróticas. Stefens e cols.54, trabalhando com camundongos nocauteados para receptores da apolipoproteína E e alimentados com dieta rica em colesterol observaram regressão significativa das extensas placas aterogênicas peculiares a esse modelo, quando esses animais foram tratados com pequenas doses de THC administradas por via oral. Uma explicação plausível para isso seria a de que receptores CB2 expressos em lesões ateroscleróticas, mas ausentes nas artérias normais, seriam ativados pela THC. Regulação da ingesta de alimentos pelos endocanabinóides Os efeitos centrais da ativação dos receptores CB1 se refletem fundamentalmente na modulação do balanço energético e controle do apetite. Numerosas evidências, obtidas de estudos experimentais em murídeos obesos (camundongos ob/ob e db/db e ratos obesos Zuker) e normais mostraram que: 1) a ativação de receptores CB1 por canabinóides endógenos ou THC e a injeção de endocanabinóide diretamente no hipotálamo ou região mesolímbica estimulam o consumo de alimentos55,56; 2) contrariamente, animais cujos genes dos receptores CB1 haviam sido suprimidos (CB1-/-) consomem menos comida e mostram fenótipo magro, resistente ao aumento de peso induzido por dieta57; 3) em condições normais, a ingestão de nutrientes reduz os níveis de endocanabinóides no hipotálamo e no pró-encéfalo límbico, enquanto o jejum tem efeito oposto, elevando-os de forma expressiva55. A figura 2 mostra que ratos privados de alimentos têm níveis teciduais de 2-AG consistentemente elevados, tanto no pró-encéfalo límbico quanto no hipotálamo, áreas do encéfalo fortemente associadas à motivação e prazer de comer55. Já, no momento em que esses animais estão se alimentando, os níveis de 2-AG, diminuem. Em outro experimento em que se administrou anandamida a camundongos, a ingestão de alimentos aumentou em 44% e se associou, significativamente, com a elevação das concentrações hipotalâmicas de norepinefrina, dopamina e serotonina58. Em 2003, Cota e cols.38 demonstraram que esses animais CB1-/-, em que pese serem mais magros, não apresentavam nenhuma mudança na sua atividade locomotora, temperatura corporal ou dispêndio de energia, quando comparados aos congêneres selvagens. Isso indica que a diminuição do estímulo orexígeno ao nível central decorrente da ausência do receptor CB1 teria contribuído para explicar as diferenças entres esses animais, muito mais que as alterações de sua atividade locomotora ou dispêndio de energia. A administração de rimonabanto – o primeiro antagonista seletivo CB1, descrito em 1994 por Rinaldi-Carmona e cols.59 – a camundongos que se tornaram obesos pelo consumo de dieta rica em gordura, embora reduzisse significativa e transitoriamente a ingestão de alimentos, levou a sustentada redução ponderal, quando se comparou aos animais de controle. Os efeitos persistentes sobre a redução de peso pelo bloqueador CB1, contrastando com a diminuição transitória do consumo de alimentos, sugerem que outros mecanismos além da ingestão calórica, contribuiriam para os efeitos duradouros do rimonabanto60 (fig. 3). Esses dados, quando avaliados em conjunto, sugerem que o sistema endocanabinóide encefálico controla a ingestão de energia em dois níveis. Primeiramente, reforça tonicamente e incentiva a motivação de busca e consumo de comida, possivelmente por interagir com vias mesolímbicas (núcleo acúmbens) envolvidas em mecanismos de recompensa. Segundo, o sistema é ativado "sob demanda", no hipotálamo, após um curto período de privação de comida para então, transitoriamente, modular os níveis e ou a ação de outros mediadores obesígenos e anorexígenos, com vistas a indução do apetite. A hipótese de uma ação dual das regiões mesolímbicas e hipotalâmicas foi comprovada pela demonstração de que a injeção de endocanabinóides nessas áreas encefálicas estimula o consumo de alimentos em roedores42. No hipotálamo, as mudanças nos níveis de endocanabinóides correlacionam-se inversamente com as concentrações plasmáticas de leptina, hormônio secretado pelo adipócito e que exerce um papel central na regulação do consumo de nutrientes e dispêndio de energia. A leptina diminui os níveis de endocanabinóides no hipotálamo, à semelhança do que faz com outros mediadores obesígenos. Ademais, camundongos obesos, geneticamente deficientes nas vias de sinalização da leptina, exibem elevadas concentrações de endocanabinóides no hipotálamo57. Co-expressão de receptores CB1 com mediadores anorexígenos e obesígenos O sistema endocanabinóide é um importante modulador da ingestão de energia graças à regulação que exerce sobre a expressão ou ação de vários mediadores anorexígenos ou obesígenos em várias áreas do hipotálamo. Inúmeros trabalhos experimentais têm apontado que os receptores CB1 são co-expressos: 1) no núcleo paraventricular com o mediador anorexígeno CRH (do inglês - corticotropin release hormone)61, aqui, os endocanabinóides atuam retrogradamente na redução da transmissão glutamatérgica de neurônios pré-sinápticos, atenuando a liberação de CRH pela corticosterona, em condições de jejum62; 2) no núcleo lateral do hipotálamo com o mediador orexígeno MCH (do inglês - melanin-concentrating hormone)61; 3) no núcleo arqueado com as células que expressam os CART (do inglês - cocaine amphetamine regulated transcript)61 e 4) no hipotálamo ventromedial com a pré-pró-orexina61. A deleção genética dos receptores CB1 aumenta a expressão de CRH refletindo a inibição tônica deste mediador pelos endocanabinóides63. Observa-se correlação positiva e direta entre o tônus do sistema endocanabinóide e os níveis circulantes de grelina, após privação de alimentos. Esse peptídeo secretado pelo trato digestivo atua localmente e em terminações vagais aferentes, interage com os endocanabinóides, aumentando o consumo de comida. Esses efeitos são bloqueados pelo rimonabanto64. Quanto ao sistema mesolímbico, existem evidências de que os endocanabinóides aumentariam o desejo de comer por induzir maior liberação de dopamina no núcleo acúmbens ou por atuar de modo sinérgico com opióides através de mecanismos ainda desconhecidos65. Um outro ponto igualmente importante no controle da saciedade emerge quando se analisa a relação entre o sistema endocanabinóide e as terminações vagais que conectam o trato gastrointestinal com a medula e núcleos do tronco cerebral. Os endocanabinóides diminuem a saciedade através de suas ações sobre o vago. Tais efeitos podem ser revertidos pela destruição das terminações vagais capsaicíno-sensíveis, que modulam os efeitos da colecistocinina sobre a saciedade66. Por outro lado, a colecistocinina inibe a expressão de receptores CB1 pelos neurônios vagais aferentes67. Em conjunto, esses dados sugerem que a diminuição da atividade dos endocanabinóides induz sensação de saciedade modulada pela colecistocinina. Em contrapartida, o jejum supera essa sensação por estimular a secreção de endocanabinóides do intestino delgado, liberando os receptores CB1 do vago da inibição pela colecistocinina. Efeitos periféricos da ativação de receptores CB1 O sistema endocanabinóide tem participação efetiva na modulação da lipogênese. Isso se substancia pelo achado de receptores CB1 no tecido adiposo branco que, quando estimulados, aumentam a expressão da lipase lipoprotéica e diminuem a da adiponectina44. Em contrapartida, o bloqueio do receptor CB1 causou aumento na expressão tanto in vitro quanto in vivo da adiponectina, sabidamente um hormônio crucial na redução da expressão de enzimas envolvidas na lipogênese69,70, e que potencialmente exibe importantes propriedades no controle da dislipidemia aterogênica e da disglicemia. Ademais, a ativação dos receptores CB1 de hepatócitos traduziu-se em aumento da síntese de novo de ácidos graxos pelos hepatócitos, graças à maior expressão gênica do fator de transcrição lipogênico SREBP-1c (do inglês - sterol regulatory element-bynding/binding protein 1c) e das enzimas a ele associadas: a F-AS (do inglês - fatty-acid synthase) e a Acyl-CoA C1 (do inglês - acetyl-CoA Carboxilase-1). Contrariamente, camundongos CB1-/- são resistentes a essas alterações e ao desenvolvimento de esteatose hepática71. Quanto a homeostase glicêmica, camundongos CB1-/- ingerindo dieta rica em gordura mostraram menores níveis de glicemia após administração intraperitoneal de insulina, quando comparados aos animais selvagens72. Esses animais exibiram, também, redução das concentrações plasmáticas de insulina e leptina, apontando para uma melhor sensibilidade aos dois hormônios. Recentemente, demonstrou-se que o rimonabanto aumenta o consumo de oxigênio e captação de glicose pelo músculo solear de camundongos ob/ob73, evidenciando os efeitos favoráveis do fármaco sobre a termogênese e sensibilidade à insulina. A hiperatividade do sistema endocanabinóide e suas conseqüências fisiopatológicas Estudos realizados em animais sugerem que o sistema endocanabinóide estaria transitoriamente ativado após jejum de curto prazo e/ou exposição a alimentos palatáveis, o que estimularia o apetite e atenuaria a saciedade, além de aumentar a lipogênese e reduzir o dispêndio de energia42. Isso é consistente com o conceito de que níveis elevados de endocanabinóides, inevitáveis na vigência de estímulos associados a situações de estresse, atuariam como estratégia de auxílio aos organismos superiores, com vistas ao restabelecimento de sua homeostase. Em contrapartida, resultados de ensaios pré-clínicos e clínicos claramente indicam que o sistema também contribui para a modulação de situações que cursam com hiperfagia e acúmulo de massa adiposa e que seu bloqueio farmacológico reverteria a situação. A hiperatividade sustentada do sistema em tecidos que controlam o balanço energético teria, então, um papel central não só no desenvolvimento da obesidade como na emergência de fatores de risco cardiometabólico que a ela se agregam sob o rótulo de síndrome metabólica15 (fig. 4). A pergunta que se impõe é: que fatores causais estariam envolvidos em eventuais mudanças de um sistema que atua "sob demanda" para um outro de hiperatividade sustentada? Ao que tudo indica, essa hiperatividade estaria associada a dietas de alto conteúdo de gordura que disponibilizariam ácidos graxos poliinsaturados para a biossíntese dos endocanabinóides42. Ademais, o adipócito de ratos obesos expressa mais receptor CB1 que o adipócito de ratos magros ou adipócitos imaturos70. Uma dieta rica em gordura resulta, também, em maior síntese de anandamida pelos hepatócitos que se acompanha de maior expressão de receptores CB171. Nesse panorama, francamente pró-obesígeno, estaria presente uma importante resistência às ações anoréxicas da leptina57. Recentemente, identificou-se em indivíduos com sobrepeso e obesos um polimorfismo missense no genótipo homozigoto FAAH 385 A/A, revelando funcionamento potencialmente inadequado de umas das enzimas-chave das vias de degradação dos endocanabinóides74, o que seria uma justificativa adicional para explicar a hiperatividade do sistema. Em verdade, a hipótese de hiperatividade sustentada do sistema endocanabinóide foi o leitmotiv que propiciou a indicação de antagonistas seletivos CB1 no tratamento da obesidade e suas conseqüências. Os efeitos do bloqueio seletivo de receptores CB1 sobre os fatores de risco cardiovascular. Alguns resultados de ensaios clínicos do Programa RIO (Rimonabant In Obesity) O bloqueio de receptores CB1 com antagonistas seletivos como o rimonabanto parece ser perspectiva promissora na redução do risco de doença cardiovascular que persiste mesmo após a instituição de esquemas terapêuticos considerados altamente efetivos. Os estudos de farmacocinética do rimonabanto revelaram que a droga é rapidamente absorvida por via oral, tem uma meia-vida terminal de nove dias em indivíduos eutróficos e de dezesseis dias em obesos, é metabolisada pelo CYP3A e amidohidrolase, sendo eliminada pelas vias biliares, e tendo desprezível excreção renal. Ajustes nas doses do rimonabanto em pacientes com insuficiência renal e hepática leve a moderada e em idosos não são necessários. A co-administração de rimonabanto com alimentos ou orlistat teve impacto mínimo sobre a farmacocinética da droga75. Os dados da fase pré-clínica foram confirmados por ensaios clínicos fase III – RIO-Europe76, RIO-Lipids17, RIO-North America18, RIO-Diabetes77 – conduzidos em pacientes com sobrepeso ou obesos, portadores ou não de comorbidades associadas. Os ensaios foram multicêntricos, randomizados duplo-cegos e controlados com placebo e incluíram 6.627 pacientes de ambos os sexos, com as seguintes características: idade média 45-56 anos, média de índice de massa corporal entre 33-38 kg/m2, e cintura abdominal > 88 cm para as mulheres e > 102 cm para os homens. Dentre os pacientes randomizados nesses ensaios clínicos, 53% a 66% completaram 12 meses de estudo, o que representa uma limitação para a análise de dados e sua interpretação. Contudo, há que ressaltar que o abandono do tratamento teve percentuais semelhantes naqueles que receberam placebo (49,1%) e rimonabanto 5 mg (49%) e 20 mg (44,9%)18. Além disso, a baixa retenção de pacientes em estudos de intervenção farmacológica com vistas ao controle do sobrepeso e da obesidade, tem sido registrada em outros ensaios clínicos randomizados78. O percentual de dislipidemia variou de 55,7% no RIO-Diabetes para 100% no RIO-Lipids; o de síndrome metabólica de 34,7% no RIO-North America para 79,3% no RIO-Diabetes. O percentual de hipertensão arterial variou de 61,2% no RIO-Diabetes para 27,2% no RIO-Lipids. Esses ensaios foram realizados nos Estados Unidos, Canadá e Europa. A casuística do RIO-Lipids foi de 1.033 pacientes com sobrepeso ou obesidade e dislipidemia não tratada, tendo sido excluídos os diabéticos; o estudo durou um ano17. O RIO-Europe teve 1.507 indivíduos com sobrepeso ou obesidade, com ou sem comorbidades, excluindo diabetes e durou dois anos76. O RIO-North America mostrou casuística de 3.040 pacientes com obesidade ou sobrepeso, com ou sem comorbidades associadas, também excluindo diabetes e teve duas fases: a primeira, de 12 meses e uma segunda, correspondendo aos pacientes que já vinham tomando rimonabanto e foram re-randomizados para um braço que usou placebo e um outro que continuou com a mesma dose de rimonabanto18. O RIO-Diabetes randomizou 1.047 pacientes, todos com sobrepeso, obesidade e diabetes tipo 2. Teve duração de um ano e seus resultados foram apresentados em anais de congresso77. Após um ano de estudo houve redução significativa na circunferência da cintura (-8,5 cm) e do peso (-8,6 kg) nos três estudos publicados, com o uso de 20 mg/dia do fármaco (fig.5). Houve prevenção do reganho de peso e da circunferência abdominal naqueles pacientes do RIO-North America que foram re-randomizados para o braço rimonabanto 20 mg/20 mg. Quanto aos efeitos do rimonabanto sobre os fatores de risco cardiometabólico, os seguintes resultados foram observados: 1) Níveis de HDL-C, triglicerídeos, LDL pequenas e densas e LDL-C: O Rio-Europe mostrou, após um ano de tratamento, mudanças significativas (vs placebo) nas concentrações de triglicerídeos (-6,8%) e do HDL-C (22,3%) no grupo que tomou 20 mg de rimonabanto. As mudanças desses dois parâmetros foram muito semelhantes no RIO-Lipids e persistiram após dois anos de uso do fármaco no RIO-North America. Em nenhum dos três estudos o rimonabanto teve um efeito apreciável sobre os níveis de colesterol e LDL-C. No RIO-Lipids a distribuição de partículas de LDL se fez no sentido daquelas de tamanho maior no grupo que recebeu 20 mg de rimonabanto; ao mesmo tempo observou-se diminuição significativa na proporção [partículas de] de LDL pequenas e densas da ordem de 4,6% (fig. 6), quando comparado ao placebo. Modelos de regressão logística e/ou ANCOVA usando a perda de peso como co-variável mostraram que após 20 mg de rimonabanto, tanto o HDL-C como os triglicerídeos sofreram mudanças, parcialmente independentes da perda de peso (fig. 7). 2) Mudanças nos parâmetros glicêmicos: A análise conjunta dos três ensaios publicados caracterizou um subgrupo de pacientes pré-diabéticos (n = 1.290) cujos níveis de glicose em jejum variaram entre iguais ou superiores a 100 mg/dl e inferiores a 126 mg/dl. Os resultados mostraram que em 46,5% dos pacientes pré-diabéticos que receberam 20 mg/dia de rimonabanto durante um ano, os valores da glicemia em jejum retornaram ao normal (abaixo de 100 mg/dl). Quanto aos efeitos da medicação sobre os valores da hemoglobina glicosilada, o estudo RIO-Diabetes mostrou que 43% dos pacientes em uso de 20 mg de rimonabanto, tiveram seus níveis de hemoglobina glicosilada revertidos a valores normais (menos de 6,5%, após um ano de tratamento, quando se comparou com o grupo placebo, onde esta mudança aconteceu em 21% dos pacientes). Registrou-se, também, uma melhora significativa nas concentrações da insulina em jejum e da resistência à insulina calculada pelo HOMA, quando comparadas com os resultados do grupo placebo. Após um ano de tratamento com placebo, 5 mg e 20 mg/dia de rimonabanto, a prevalência de síndrome metabólica nesses grupos foi 48,1%, 46,4% e 32,3% (p = 0,30 e p < 0,001 vs placebo, respectivamente). 3) O RIO-Lipids mostrou que os níveis de adiponectina aumentaram em 57,7% com o emprego de 20 mg de rimonabanto, diferença essa que foi significativa quando comparada à observada no grupo placebo (fig. 8). É importante mencionar que mais de 50% desse aumento ocorreu independentemente da perda de peso. Ademais, os níveis de adiponectina correlacionaram-se positiva e significativamente com as mudanças do HDL-C e Apo-I. Nesse mesmo ensaio os níveis de leptina diminuíram significativamente tanto com 5 mg quanto com 20 mg de rimonabanto. As concentrações plasmáticas de proteína C-reativa reduziram-se significativamente no grupo que recebeu rimonabanto, mostrando que o fármaco interfere favoravelmente nesse marcador inflamatório (fig. 6). As pressões sistólica e diastólica diminuíram significativamente (-2,1 mmHg e -1,7 mmHg, respectivamente) e a queda foi maior nos pacientes hipertensos. 4) A análise de eficácia primária do medicamento foi aplicada à população ITT (do inglês - intention to treat) e com a LOCF (do inglês - last observation carried forward). Doses de 20 mg de rimonabanto foram geralmente bem toleradas e os efeitos adversos, de intensidade leve a moderada, restringiram-se, na sua maior parte, a episódios depressivos [2,9% vs 0,6% (placebo)], ansiedade [1,7% vs 0,6% (placebo)] e náusea [1,2% vs 0% (placebo)]. Efeitos adversos considerados sérios e que levaram a interrupção do estudo foram registrados em 5,2%, 4,0% e 2,3% nos pacientes que fizeram uso, durante um ano, de 20 mg, 5 mg e placebo, respectivamente17. Nos pacientes que receberam o mesmo tratamento durante dois anos, a taxa de descontinuidade por efeitos adversos se tornou comparável (4% placebo, 6,3% 5 mg, 4,2% 20 mg), sugerindo que os mesmos ocorrem precocemente e que 5 mg e 20 mg de rimonabanto têm um perfil de tolerabilidade e segurança semelhante ao placebo18. 5) De acordo com os dados até o momento disponíveis do PROGRAMA-RIO, não se registraram interações relevantes entre anti-hipertensivos, vastatinas, anti-diabéticos orais e fibratos com o rimonabanto17,18,76,77. Além dos ensaios clínicos incluídos no Programa RIO outros estudos estão em andamento para apreciar se a melhora do perfil de risco cardiometabólico pelo rimonabanto se traduz não só em mudanças no volume da placa aterosclerótica de coronárias mensurado por ultrassom intravascular (Estudo STRADIVARIUS)79. Os possíveis benefícios do rimonabanto sobre desfechos fatais e não fatais atribuídos a episódios de infarto agudo do miocárdio e acidente vásculo-encefálico estão sendo avaliados por meio de um ensaio clínico prospectivo, randomizado e controlado (Estudo CRESCENDO), atualmente em fase de recrutamento de pacientes80. Considerando-se, também, que a interrupção do tabagismo se associa ao rápido declínio no risco de eventos cardiovasculares, o rimonabanto está sendo testado, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa (Estudos STRATUS)81, com vista a avaliar possíveis efeitos do medicamento sobre as taxas de abstinência de cigarro. Resultados parciais do STRATUS-US mostraram que essa taxa foi significativamente maior em indivíduos que usaram 20 mg de rimonabanto quando comparados àqueles que utilizaram placebo. A avaliação dos dados desses ensaios clínicos mostra que a intervenção farmacológica sobre o sistema endocanabinóide é alternativa não só inovadora como bastante promissora no tratamento dos fatores de risco cardiometabólico que acompanham a obesidade abdominal e, possivelmente, um instrumento de real potencialidade na prevenção da aterosclerose e suas conseqüências. Apontam, também, para a extensão desses efeitos por período de até 2 anos ressaltando que a melhora do perfil metabólico aconteceu, em parte, independentemente da perda de peso. A farmacoterapia no combate a obesidade com fármacos que antagonizam os receptores CB1 do sistema endocanabinóide deve ir além da perda de peso e de seus propósitos meramente estéticos. É preciso dirigi-la aos pacientes de elevado risco, a maioria exibindo excesso de gordura intra-abdominal, à qual se agregam inúmeros fatores de risco cardiovascular e metabólico. Porém, isoladamente é insuficiente e medidas que visam mudanças no estilo de vida devem ser sempre implementadas. Ademais, identificar o fenótipo acima mencionado pela simples mensuração da cintura abdominal, poderá mudar o persistente panorama de risco residual que ainda se registra em percentual significativo de pacientes. Referências 1. Gregg EW, Cheng YJ, Cadwell BL, et al. Secular trends in cardiovascular disease risk factors according to body mass index in US adults. JAMA 2005;293:1868-1874. 2. Ford ES, Mokdad AH, Giles WH. Trends in waist circumference among US adults. Obes Res 2003;11:1223-1231. 3. Carmena R, Duriez P, Fruchart JC. Atherogenic lipoprotein particles in atherosclerosis. Circulation 2004;109:III2-III7. 4. Heart Protection Study Collaborative Group. MRC; BHF Heart Protection Study of cholesterol lowering with simvastatin in 20,536 high-risk individuals: a randomized placebo controlled trial. Lancet 2002;360:7-22. 5. 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  23. O uso "Terapêutico" de Cannabis por dependentes de crack no Brasil Eliseu Labigalini Junior & Lúcio Ribeiro Rodrigues.* (*) Médicos-psiquiatras, pós-graduandos do PROAD/ UNIFESP ( Programa de Orientação e Assistência ao Dependente- Depto. de Psiquiatria e Psicologia Médica - Escola Paulista de Medicina - Univ. Federal de São Paulo) INTRODUÇÃO E HISTÓRICO Nos últimos anos tem ocorrido a veiculação de informações tanto na literatura médica quanto na imprensa leiga, a respeito de estudos sobre o uso terapêutico de cannabis em várias áreas( DOYLE,1995; UNGERLEIDER,1985; ZINBERG, 1979). Em pacientes HIV positivos como ansiolítico e estimulante do apetite (LOWENTHAL,1995); em portadores de neoplasias em tratamento quimioterápico como anti-emético e anti-nauseante (SCHWARTZ,1994; DOW,1981); e em oftalmologia em algumas formas clínicas de glaucoma( GONZALEZ, 1995), como exemplos. Esta mudança recente na postura de muitos cientistas parece ser fruto de uma maior abertura cultural dos países ocidentais onde esta substância tem perdido lentamente o "status" de droga de abuso com características semelhantes às chamadas drogas pesadas, como a cocaína, álcool e heroína. E por que será que a cultura ocidental insistiu e insiste constantemente em não aceitar que existam diferenças importantes quanto à especificidade das diferentes substâncias? Esta pergunta não é fácil de ser respondida, mas algumas hipóteses podem ser levantadas. A questão da legalidade parece exercer grande influência neste sentido. Historicamente, as substâncias psicoativas, com exceção do álcool, passaram a ter seu uso proibido no início deste século em grande parte dos países ocidentais, sem ter sido avaliadas as suas características específicas, seus potenciais de abuso, riscos de overdose e rituais sociais e individuais associados a cada uma delas, o que provocou e continua provocando distorções muito graves. O uso de álcool, por exemplo, é estimulado constantemente em todos os meios de comunicação, é facilmente acessível e em geral, é fortemente reforçado na própria família desde o início da adolescência. Contudo sabemos claramente que as repercussões sociais, econômicas e pessoais que o abuso e a dependência desta substância provocam são muitas vezes desastrosas. Em contrapartida, a cannabis, por pertencer ao grupo de drogas ilícitas, passa a ter o mesmo status do que a heroína e a cocaína para a grande maioria das pessoas, especialmente `aquelas que não foram ou não são usuárias de qualquer substância ilícita. Sendo assim, um indivíduo que faça uso recreativo de cannabis, vai sofrer as mesmas conseqüências legais e sociais dos dependentes de drogas pesadas. É interessante notar em relação ao uso recreativo de cannabis que estudos epidemiológicos realizados nos EUA (CHEN,1995), de acompanhamento a longo termo, demonstram que os americanos usam esta substância na adolescência e início da vida adulta, declinando acentuadamente por volta dos vinte e cinco a trinta anos de idade. Apenas uma pequena parcela destes indivíduos desenvolve abuso e dependência por outras substâncias, e apenas outra pequena porcentagem faz uso pesado de cannabis ao final desse período. O uso de crack desde o seu surgimento no Brasil, no início da década de oitenta, esteve relacionado com as classes mais pobres. Contudo, nos últimos anos nota-se que este uso se estendeu às camadas média e alta, especialmente em São Paulo. Isto se deveu, em parte pelo fato de muitos dependentes de cocaína inalada não terem conseguido encontrar cocaína em pó em muitas "bocas" onde antes encontravam sem dificuldades. Isto nos faz pensar que os traficantes estavam "forçando" a entrada do crack nestas cidades. Tal estratégia parece ter dado o resultado esperado por estes indivíduos, já que a procura de tratamento por dependentes de crack observada nos últimos anos tem sido maior do que por dependentes de cocaína inalada e são muitos os relatos destes indivíduos sobre esse desaparecimento da cocaína em pó do mercado, especialmente em São Paulo. O crack tem seu preparo mais rápido e mais barato, mas traz conseqüências clínicas e psicológicas desastrosas em um período mais curto de tempo quando comparado com a forma em pó da mesma substância. O crack traz sintomas clínicos e psiquiátricos bastante específicos e que estão diretamente relacionados à substância e à via de administração utilizada. São freqüentes as queimaduras de dedos, lábios e mucosas orais, quadros de asma brônquica, edema pulmonar, tosse persistente, dor torácica, infecções respiratórias altas e baixas, emagrecimento rápido, perda do apetite e acidentes vasculares cerebrais (MEISELS,1993; SMART,1991). Estes sintomas surgem rapidamente, após o indivíduo ter usado apenas algumas vezes em alguns dias, quando começa a apresentar sintomas de ansiedade relacionados à abstinência. Esta "fissura" é crescente e maior do que aquela gerada pela uso contínuo da forma inalada da cocaína. Seu efeito dura cerca de 5 a 10 minutos e se caracteriza pela presença de movimentos estereotipados, pensamentos repetitivos semelhantes a pensamentos obsessivos, além de ideação paranóide e alucinações visuais e auditivas que podem estar delimitados apenas ao momento do uso, ou podem permanecer presentes por alguns dias após cessado o uso, dependendo das características psíquicas de cada usuário. Neste sentido, outra delimitação importante entre o uso de cocaína inalada e o uso de crack, é que existe uma relação entre o uso deste e uma auto-destrutividade individual importante, que se sobrepõe ao indivíduo em um determinado momento de sua vida. Esta auto-destrutividade individual, no entanto é reforçada por um fator cultural que permeia a experiência destes dependentes. Independentemente do nível sócio-cultural destes indivíduos ocorre um fenômeno interessante durante o processo de obtenção e utilização do crack. Muitos deles permanecem dias dentro de barracos muito pobres em favelas na periferia da cidade, em condições péssimas de higiene e geralmente acompanhados de traficantes e outros dependentes desconhecidos, como se esses indivíduos precisassem viver um lado de suas personalidades que só pode ser resgatado nestes locais e através destas relações. Sabemos que nos rituais iniciáticos dos povos ditos primitivos, os adolescentes se submetiam à ingestão de determinadas plantas ou fungos que alteravam suas consciências temporariamente, e esta alteração tinha uma finalidade bastante clara e ancestral: visavam a transformação daquele jovem em um homem adulto da tribo. Esta experiência é relatada como uma vivência de morte muito profunda e que em algumas situações chegava a ocorrer concretamente. Cito estes rituais porque o uso urbano de crack parece reproduzir um pseudo ritual: o dependente sabe que pode morrer, faz um uso em grupo, e vai usar o crack em locais que realmente reproduzem um clima de morte, medo, e falta de qualquer laço afetivo verdadeiro. Sendo assim, o dependente de hoje vive seu pseudo ritual às avessas: renasce sempre antes de cada "pipada" e morre simbolicamente após usá-lo, quando constata mais uma vez a falência de seu projeto inconsciente ( ZOJA, 1992) Já o uso de cannabis no país tem um registro histórico cultural bastante interessante: desde os tempos de descoberta (1500 d.C.) existem relatos de viajantes portugueses que faziam uso da substância e que exaltavam as qualidades desta droga como intensificador de "emoções" pré-existentes. Com a formação de duas classes sociais polarizadas e distintas culturalmente, uma aristocrática e outra formada por escravos e pobres, este uso parece ter se mantido em ambas nos séculos subseqüentes, até o início do século XX, quando começa a haver uma tentativa de normatização desta substância em termos legais, influenciada por mudanças que ocorriam neste sentido tanto na Europa quanto nos E.U.A. É interessante notar que no período anterior à abolição da escravatura no país(1889 d.C.) o uso de cannabis parecia ser de conhecimento dos proprietários dos grandes latifúndios no país e este uso não era reprimido pelos mesmos pois havia uma percepção destes indivíduos de que o uso de cannabis diminuiria de maneira importante as chances de uma rebelião entre os escravos. Contudo no início deste século, após o fim formal da escravidão, começa-se a associar o uso de cannabis com criminalidade, pobreza e com os negros. Estes novos traços culturais relacionados ao uso de cannabis, transformaram a visão predominante no país sobre essa droga em algo perigoso ou relacionado com marginalidade e violência. Seu uso hoje no país, ocorre em todas as camadas sociais, e há uma distinção clara pela maior parte de usuários de drogas de que a cannabis ocuparia um lugar distinto em relação às outras drogas disponíveis no país, e para estes indivíduos esta distinção inclui o álcool, apesar do reforço cultural positivo que existe em relação a este último. Contudo isto não significa que não haja repressão policial ao uso e porte de cannabis. Nota-se que há uma tentativa destes últimos de localizarem usuários e portadores de cannabis predominantemente com finalidade de corrupção e de suborno, já que as implicações legais para portadores de pequenas quantidades são bastante graves, situações em que muitos usuários recreativos são obrigados, muitas vezes, a se desfazer de objetos pessoais, para pagar suborno a policiais. Neste sentido, seria muito desejável que a legislação na grande maioria dos países se adequasse às diferenças verificadas na clínica da dependência, que demonstra haver diferenças bastante específicas para cada substância utilizada, ou para o uso concomitante de duas ou mais substâncias. A experiência de Liverpool do psiquiatra Jonh Marks e do antropólogo Anthony Henman demonstra muito claramente como o fato da legislação ser rígida e proibitiva apenas reforça ainda mais as características transgressoras deste ato no meio social ( MARKS, 1994). É claro também como foi importante neste projeto a existência de uma rede médica de apoio capaz de dar suporte psiquiátrico e social a todos os dependentes que procurassem assistência. Medicações ou drogas podiam ser obtidos nas farmácias da cidade com receitas controladas. Em 10 anos notou-se uma redução espantosa na prevalência de dependentes daquela região, para todas as drogas ilícitas. MATERIAIS E MÉTODOS Foram acompanhados, por um período médio de nove meses, 20 pacientes do sexo masculino, com idade entre 16 e 28 anos, que procuraram o PROAD / UNIFESP (Programa de Orientação e Atendimento ao Dependente - Universidade Federal de São Paulo) em São Paulo, Brasil, no período de Agosto de 1995 a Setembro de 1996. Estes pacientes recebiam atendimento clínico psiquiátrico semanal e não apresentavam outros diagnósticos clínicos e psiquiátricos no período anterior e durante o acompanhamento a que se submeteram. Estes pacientes não receberam qualquer medicação para sintomas de abstinência, e tal conduta era tomada após o relato espontâneo destes indivíduos de estar usando cannabis com a finalidade de atenuar estes sintomas. Quando isto ocorria, estes indivíduos passavam a fazer parte da amostra deste projeto e eram assim excluídos quanto ao uso de medicações que pudessem atenuar os sintomas de abstinência, como por exemplo anti-depressivos tricíclicos, inibidores da recaptação de serotonina e ansiolíticos. O relato sobre o uso de cannabis com essa finalidade geralmente ocorria na primeira ou segunda consulta e era trazido sempre com uma certa culpa, pelo fato de não imaginarem qual seria a reação do psiquiatra a este uso. Estes indivíduos eram todos solteiros, apresentavam cerca de 6,7 anos de escolaridade e quatro destes indivíduos desistiram de seus tratamentos antes de concluírem três meses de acompanhamento. Todos os indivíduos incluídos na amostra apresentavam dependência grave por crack segundo o checklist do DSM-III-R, no momento da primeira avaliação. DISCUSSÃO E RESULTADOS Todos os pacientes incluídos nesta amostra que permaneceram sob acompanhamento psiquiátrico por nove meses referiram que a cannabis trazia uma redução da ansiedade e mudanças subjetivas e concretas em seus comportamentos. No Brasil e especificamente na periferia de São Paulo, local onde moram a maioria destes pacientes há uma distinção clara por parte dos usuários de drogas ilícitas entre a cannabis e a cocaína, inalada ou fumada. Foi observado que o padrão de uso de cannabis por estes indivíduos apresentava um pico nos primeiros três meses, em que este uso era diário, onde usavam em média três a quatro cigarros. Nos meses subseqüentes houve uma redução espontânea deste uso em 14 pacientes podendo classificá-los como usuários recreativos desta substância, ao final dos nove meses. Esta redução foi acompanhada com facilidade no manejo da maioria dos casos, onde muitos citavam que os efeitos avolitivos advindos do uso pesado de cannabis acabava sendo indesejado, facilitando esta mudança no padrão de uso. Em relação aos efeitos agudos do uso de cannabis por estes indivíduos durante este período, os mesmos relatam que sentiam uma diminuição importante da ansiedade e dos sintomas de "fissura", ganho de peso importante, melhora do sono e menor necessidade de sair para procurar amigos ou outras drogas. Citavam também que a manutenção do ritual de preparo do "baseado" ou cigarro de cannabis parecia ser algo que trazia um certo alívio na tentativa de não usar o crack. Como o crack também é fumado, esses indivíduos referiam que o preparo do cigarro reproduzia subjetivamente o preparo do cachimbo para uso do crack. Contudo ao contrário do crack, que é usado nas grandes cidades, geralmente de forma grupal em favelas ou casas abandonadas onde passam dias muitas vezes sem se alimentarem, o uso de cannabis para estes indivíduos geralmente é solitário, na própria casa do usuário. Estes referem que passam a ficar mais em suas residências, ajudando em alguns serviços de casa, vendo TV, ouvindo músicas e dormindo mais horas por dia do que anteriormente. Um trabalho realizado na Jamaica (DREHER,1994), procurou avaliar dois grupos de gestantes jamaicanas que eram divididos segundo o hábito de fumar ou não cannabis neste período. Este trabalho foi realizado utilizando-se uma abordagem etnográfica e é importante ressaltar que as mães classificadas como usuárias faziam este uso em um contexto religioso, como comumemente acontece na zona rural daquele país. Os filhos destas mulheres eram então avaliados segundo uma escala de avaliação minuciosa para neonatos e os resultados demonstraram que os filhos das mães do grupo de fumantes apresentaram um desempenho nos itens desta escala, superior ao grupo controle. Os autores, na discussão deste artigo fazem referência a um trabalho semelhante realizado com gestantes americanas onde os resultados encontrados foram os opostos ao trabalho realizado na Jamaica ( HINGSON, 1986). De posse destes dados é possível pensar que as diferenças culturais existentes entre os dois países seja responsável por estes resultados opostos. A mãe jamaicana faz um uso religioso de cannabis e se encontra sintônica com a cultura de seu povo; já a mãe americana deve se sentir mais culpada, seu uso não é aceito pela cultura local devendo ocupar uma posição social marginalizada, aproximando-se culturalmente dos dependentes de outras drogas. Este artigo tem fundamental importância para tentarmos estabelecer uma compreensão socio-cultural e psicológica destes achados. Como já foi citado anteriormente, a cannabis é vista pelos dependentes no Brasil como uma droga que ocupa um espaço diferenciado em relação a outra drogas ilícitas presentes no país. Esta inserção cultural não se aproxima do uso ritualizado dos jamaicanos , mas também não se assemelha à cultura americana dominante, para os quais todas as drogas representam algo perigoso, que deve ser evitado de qualquer forma. Neste sentido, a abordagem utilizada pelos autores, etnográfica, é muito mais adequada ao objeto que está procurando se delimitar. É extremamente redutivista ter a pretensão de acharmos que conseguiremos, através de questionários padronizados, reproduzir aspectos subjetivos do estado de consciência induzido pela cannabis ou outras substâncias com efeitos semelhantes. Estas colocações, no entanto devem ser bastante relativizadas, procurando-se não generalizar traços dominantes em uma determinada cultura, como se toda uma cultura pudesse ser alguma vez redutível às tentativas humanas de expressá-la. Dizemos isso, por que apesar de me referir à cultura norte-americana da forma que fizemos, podemos levar a uma confusa e infeliz generalização. Esta constatação pode ser exemplificada pelo fato de sabermos que na região sudoeste dos EUA, especialmente na Califórnia, existem muitos pesquisadores trabalhando com cannabis e outros alucinógenos para uma posterior possibilidade de uso terapêutico em diferentes quadros citados na introdução deste artigo. Além disso, em uma decisão inédita neste Estado, houve recentemente a liberação legal para o uso médico de cannabis em algumas situações clínicas específicas. Bibliografia CHEN, K.& KANDEL, D.,B.- (1995) The natural history of drug use from adolescence to the mid-thirties in a general population sample. 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  24. Conseqüências neuropsicológicas do uso da maconha em adolescentes e adultos jovens Neuropsychological consequences of cannabis use in adolescents and young adults Maisa dos Santos Rigoni, Margareth da Silva Oliveira " e Ilana Andretta Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil Resumo O interesse de pesquisas relacionadas ao consumo de Maconha tem aumentado, indicando que é a droga ilícita mais usada no Brasil entre estudantes. O uso crônico da maconha pode levar a déficits cognitivos. Neste artigo, realizou-se uma revisão de estudos sobre conseqüências neuropsicológicas do uso de maconha em adolescentes e adultos jovens, através de buscas em bases de dados PsycInfo e Pro Quest, entre 2000 e 2005, com as palavras-chave drugs, cannabis, adolescence, young people, teenager, evaluation cognitive, assessment cognitive and cognitive functions . Também foram consultados os acervos da Biblioteca Central da PUCRS e o site SCIELO. Encontraram-se poucos artigos sobre esta temática, e a maioria sugere alterações significativas no funcionamento cerebral e neuropsicológico em usuários graves de maconha que afetam funções associadas direta ou indiretamente ao Córtex Pré-frontal, como atenção, memória, funções executivas e funções psicomotoras. © Ciências & Cognição 2006; Vol. 08. Palavras-Chave: adolescência; maconha; funções cognitivas. Abstract The interest in researches related to cannabis use has been increasing, indicating that this is the most used illicit drug among students in Brazil . The chronic use of cannabis may lead to cognitive losses. This article reviewed studies about neuropsychological consequences of cannabis use among adolescents and young adults, making use of data basis PsicInfo and Pro Quest between 2000 and 2005, using the following key words for the search: drugs, cannabis, adolescence, young people, teenager, cognitive evaluation, cognitive assessment and cognitive functions. The main library of PUCRS and the site SCIELO were also used. There are few articles about this theme, and most of them suggest significant changes in brain functioning as well as neuropsychological functioning in heavy cannabis users, affecting functions associated directly or indirectly to the prefrontal cortex, such as attention, memory, executive and psychomotor functions. © Ciências & Cognição 2006; Vol. 08: xxx-xxx. Key Words : adolescence; cannabis; cognitive functions. Índice 1. Introdução 2. Método 3. Resultados 3.1. Neuropsicologia e abuso de drogas 3.2 Efeitos do uso da Maconha 3.3. Efeitos Neuropsicológicos do uso da Maconha 4. Discussão dos resultados 5. Considerações Finais 6. Referências Bibliográficas 1. Introdução Os estudos referentes ao uso da maconha vêm aumentando de forma progressiva, como descritos na literatura internacional com estudos de Bolla, Brown, Eldreth, Tate e Cadet (2002); Budney Hughes, Moore e Novy (2001); Hall e Solowij (1998); Pope, Gruber e Yurgelun-Todd (1995); Pope e Yurgelun-Todd (1996); Pope, Gruber, Hudson, Huestis e Yurgelun-Todd (2001); Pope e colaboradores (2003); e, Solowij e colaboradores (2002) . A relevância desta temática se justifica pelo aumento do uso de maconha em todo o mundo, citando como exemplo os Estados Unidos da América (EUA), onde houve um aumento importante de usuários dependentes que fazem uso nocivo de maconha quando compara-se dois diferentes períodos: entre os anos de 1991-1992 e 2001-2002 (30,2% e 35,6%, respectivamente), assim como ocorreu um aumento no teor de tetrahidrocannabinol (THC), elemento psicoativo da maconha, na amostra de maconha consumida entre os anos 2001-2002 (5,11%) quando comparada a amostras consumidas entre 1991-1992 (3,01% de THC) (Associação Brasileira de Psiquiatria, 2005). Identificamos pesquisas nacionais que também estudam temas relacionados ao consumo de maconha, como as desenvolvidas por Crippa e colaboradores (2005); Laranjeira, Jungerman e Dunn (1998); e, Lemos e Zaleski (2004). Estes pesquisadores têm investigado os efeitos e as repercussões neuropsicológicas relacionadas ao consumo de maconha. A ABEAD (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas, 2005) relata que o interesse de pesquisas relacionadas ao consumo de maconha tem aumentado em função de: um maior número de pessoas ter utilizado esta droga, de o uso inicial ter ocorrido mais cedo, e de a concentração de THC ter aumentado. Aumentam também os estudos que discutem os efeitos adversos agudos e crônicos da maconha. Segundo pesquisa realizada com alunos do Ensino Médio e Fundamental, da rede pública de ensino, pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas – CEBRID (1997) a maconha é a droga ilícita mais usada no Brasil. No levantamento de 1997, as capitais que apresentaram maior consumo foram Curitiba (11,9%) e Porto Alegre (14,4%). Constatou-se que 7,6% dos estudantes relataram já ter experimentado maconha uma vez na vida. No estudo realizado por Saibro e Ramos (2003), com 1586 estudantes, em 14 escolas públicas e privadas do ensino médio e fundamental de Porto Alegre, verificou-se que o uso de maconha teve seu pico de experimentação na faixa etária dos 14 aos 16 anos (72,5%), sendo a prevalência de uso na vida (uso experimental) de 21% nesta população. Além de observarem que o consumo de maconha tem aumentado entre os adolescentes, alguns estudos abordam os prejuízos acarretados ao longo do tempo, devido a este uso. Há evidências de que o uso prolongado de maconha é capaz de causar prejuízos cognitivos relacionados à organização e integração de informações complexas, envolvendo vários mecanismos de processo de atenção e memória (Ribeiro e Marques, 2002). As alterações neuropsicológicas relevantes identificadas em usuários crônicos desta substância são déficits em tarefas psicomotoras, atenção e memória de curto prazo (Pope et al ., 1995). Após períodos breves de tempo de uso desta substância, em alguns casos, são detectadas dificuldades de aprendizagem em função de prejuízos na memória de curto prazo. Também prejuízos da atenção podem ser detectados a partir de fenômenos tais como aumento da vulnerabilidade à distração, afrouxamento das associações, intrusão de erros em teste de memória, inabilidade em rejeitar informações irrelevantes e piora da atenção seletiva. Tais prejuízos parecem estar relacionados ao tempo de uso, mas não a freqüência do consumo de maconha (Pope e Yurgelun-Todd, 1996). Diante do exposto, faz-se necessário estudos que possam clarificar os efeitos neuropsicológicos do uso da maconha devido ao crescente aumento do consumo desta substância na adolescência e suas conseqüências adversas na vida deste adolescente. A Associação Brasileira de Psiquiatria (2005) lembra que a adolescência é um momento da vida de maior vulnerabilidade e que pode favorecer a experimentação e a manutenção do uso de maconha: fatores, como, por exemplo, o baixo rendimento escolar, uso de outras substâncias psicoativas como álcool e o tabaco, por parte do próprio adolescente ou de amigos seus, delinqüência, e desestrutura familiar contribuem para a manutenção do comportamento do uso de substâncias. Este artigo buscou realizar uma revisão bibliográfica de estudos sobre as conseqüências e os efeitos neuropsicológicos associados ao uso de maconha em adolescentes e adultos jovens. 2. Metodologia Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica por meio de buscas em bases de dados PsycInfo e ProQuest, entre 2000 e 2004, com as palavras-chave drugs, cannabis, adolescence, young people, teenager, evaluation cognitive, assessment cognitive and cognitive functions . Na procura de artigos de revistas não indexadas foram consultados os acervos da Biblioteca Central da PUCRS e o site SCIELO. Também foram consultados alguns estudos de anos anteriores e de 2005 que se mostraram relevantes. 3. Resultados Na busca às bases de dados, foram encontrados 101 estudos, mas poucos se referiam a temática proposta por este artigo. Apesar de poucos estudos encontrados abordarem as conseqüências neuropsicológicas do uso de maconha em adolescentes e adultos jovens, alguns realizaram pesquisas relevantes que são expostas a seguir. Estes dados encontrados nos levam a pensar que mais pesquisas envolvendo este assunto necessitam ser realizadas, principalmente estudos com adolescentes. 3.1. Neuropsicologia e abuso de drogas De acordo com a Psicologia Clássica, o abuso de substâncias pode ser explicado pela tendência do ser humano a repetir condutas que produzem prazer e evitam o desprazer. As drogas atuam em zonas do cérebro associadas às emoções positivas e que estimulam condutas incentivadoras. Atualmente, sabe-se que os mecanismos de recompensa produzidos pelas drogas no cérebro envolvem, de maneira relevante, ao menos seis sistemas neurotransmissores (dopamina, serotonina, acetilcolina, glutamato, GABA e diversos peptídeos) e seis áreas cerebrais (sistema mesolímbico, núcleo pálido ventral, hipocampo, hipotálamo, amígdala e núcleo pendúlo-pontino-tegmental) (Ustárroz et al. , 2003). O funcionamento neuronal pode ser alterado pelo uso de qualquer droga com conseqüente modificação do desempenho das funções cerebrais, tais como todo o processo do pensamento normal, sensopercepção, atenção, concentração, memória, sentimentos, emoções, coordenação motora, nível intelectual, entre outras (Mattos, Alfano e Araújo, 2004). Do ponto de vista médico, as drogas de abuso ou uso recreacional são classificadas conforme sua forma de agir no cérebro, podendo ser divididas entre as depressoras ou estimulantes da atividade cerebral e as alucinógenas. Inicialmente, as drogas produzem uma sensação agradável de bem-estar devido a sua ação direta ou indireta sobre a via neuronal cerebral dopaminérgica mesolímbica, ou via do reforço, da gratificação ou do prazer, responsável pela nossa capacidade de sentir prazer e/ou satisfação em diferentes situações. Encontramos, na classificação de drogas alucinógenas, a cannabis, ou maconha, mescalina, ayhuasca, psilocibina, LSD, ecstasy, club drugs, triexfenidila e ketamina. Essas drogas perturbam o funcionamento do sistema nervoso central sem deprimir ou estimular as funções cerebrais. Alteram as percepções sensoriais, no pensamento e nos sentimentos, causando experiências alucinatórias vívidas (Lemos e Zaleski, 2004). 3.2. Efeitos do uso da maconha No Brasil, maconha é o nome popular dado à planta de nome científico Cannabis sativa ; ela pode ser preparada de diferentes formas; o que varia em seu preparo é o conteúdo do ingrediente ativo, o tetrahidrocannabinol (THC), droga psicoativa que afeta a mente e o corpo (Longenecker, 1998). Estudos apontam a existência de um sistema neurotransmissor canabinóide endógeno, que modula outros sistemas de neurotransmissão, entre eles o dopaminérgico (Lemos e Zaleski, 2004). Há numerosos receptores de THC no sistema nervoso central, principalmente no cerebelo, núcleos da base e hipocampo, que atuam sobre o equilíbrio, os movimentos e a memória. A partir da descoberta de receptores de THC, passou-se a pesquisar um composto natural que agisse normalmente sobre eles; assim, recentemente se identificou a anandamida, que é um composto que interage com estes receptores (Longenecker, 1998). Alguns autores classificam a maconha como uma droga alucinógena (Laranjeira et al ., 1998; Lemos e Zaleski, 2004), mas Schuckit (1991) ressalta que, embora a maconha seja algumas vezes classificada desta forma, nas doses mais frequentemente usadas, os efeitos preponderantes são a euforia e uma alteração no nível de consciência sem alucinações francas. Os efeitos do THC são no cérebro, coração ou aparelho cardiovascular e pulmões. A maioria destas alterações ocorre de maneira aguda e parecem ser reversíveis. Os usuários tendem a desenvolver problemas com a memória recente e podem apresentar um prejuízo da capacidade de desempenhar tarefas com etapas múltiplas. Os efeitos prazerosos da maconha são: sensação de relaxamento, os cinco sentidos ficam mais aguçados, qualquer coisa torna-se divertida, euforia e aumento de prazer sexual. Já os efeitos que causam desprazer são: ansiedade, pânico, paranóia, diminuição das habilidades mentais especialmente da atenção e memória, diminuição da capacidade motora e aumento do risco de ocorrerem sintomas psicóticos (Laranjeira et al ., 1998). O uso crônico da maconha provoca déficits de aprendizagem e memória, diminuição progressiva da motivação (isto é, apatia e improdutividade, o que caracteriza a "síndrome amotivacional"), piora de distúrbios preexistentes, bronquites e infertilidade (reduz a quantidade de testosterona). No caso de adolescentes, o déficit cognitivo está relacionado a dificuldades na aprendizagem e repetência escolar (Lemos e Zaleski, 2004). A síndrome amotivacional está associada a um estado de passividade e indiferença, caracterizado por disfunção generalizada das capacidades cognitivas, interpessoais e sociais, devido ao consumo de THC (princípio ativo da maconha) que mesmo quando interrompido, os efeitos persistem durante anos. Para a Organização Mundial de Saúde esta síndrome está associada aos efeitos diretos da intoxicação crônica por THC (Gallego, 2002). O uso crônico da maconha também provoca náusea e fadiga crônica, letargia, dor de cabeça, de garganta crônica, irritabilidade, congestão nasal, piora da asma, infecções freqüentes nos pulmões, diminuição da coordenação motora, alteração na memória e atenção, alteração da capacidade visual e do pensamento abstrato, problemas menstruais, impotência, diminuição da libido e da satisfação sexual, depressão e ansiedade, labilidade e irritabilidade, ataques de pânico, tentativas de suicídio, isolamento social, afastamento do lazer e outras atividade sociais (Laranjeira et al ., 1998). Em um estudo controlado, com 12 pacientes ambulatoriais, na faixa etária de 18 a 50 anos, examinou-se a confiabilidade e especificidade dos efeitos da abstinência que ocorrem quando usuários diários de maconha param de fumar de forma abrupta. Avaliaram-se os mesmos, em 16 dias consecutivos, durante os quais eles fumaram como sempre (do 1º ao 5º dia – fase 1), ficaram abstinentes de maconha (do 6º ao 8º dia- fase 2), voltaram a fumar (do 9º ao 13º dia- fase 3) e novamente se abstiveram do uso (do 14º ao 16º dia – fase 4). Observou-se que estes sujeitos apresentavam aumento significativo de desconforto nas fases de abstinência e voltavam ao normal quando retomavam o uso. Fissura, diminuição do apetite, dificuldades de dormir e perda de peso mudaram nas fases de consumo e abstinência. Além disso, aspectos relacionados à agressividade, raiva, irritabilidade, inquietação e sonhos estranhos aumentaram significativamente durante a primeira fase de abstinência (Budney et al ., 2001). Neste mesmo estudo , familiares confirmaram os relatos dos pacientes, e foi possível validar muitos efeitos específicos da abstinência de maconha em usuários graves, bem como foi demonstrado que estes dados são confiáveis e clinicamente significativos. Constatou-se, também, que estes efeitos da abstinência de maconha parecem semelhantes, em tipo e magnitude, àqueles observados em estudos de abstinência de nicotina (Budney et al ., 2001). 3.3. Efeitos neuropsicológicos do uso da maconha A maconha pode causar déficits na memória, atenção e na organização e integração de informações complexas. O uso prolongado de maconha está associado a déficits cognitivos, e a avaliação destas funções é necessária para verificar a reversibilidade em períodos de abstinência. Estudos em animais demonstram que a administração crônica de maconha pode comprometer o sistema endógeno canabinóide com prejuízos na memória, emoção e funções cognitivas (Hall e Solowij, 1998). Em estudo realizado avaliando as conseqüências neuropsicológicas em 22 usuários de maconha, com uma média de idade de 20,7 a 24,6 anos, foram utilizados os seguintes instrumentos de avaliação da memória visual e verbal, atenção, destreza manual, velocidade psicomotora e funções executivas: Wechsler Adult Intelligence Scale- revised (WAIS-R), Wechsler Memory Scales- revised (WMS-R), Rey Auditory Verbal Learning Test (RAVLT), Rey Osterreith Complex Figure , Symbol Digit Paired Associat Learning Test , Trails A e B , Stroop , Wisconsin Card Sorting Test (WCST) e Judgement of Line Orientation . A amostra foi dividida em grupos de usuários leves ( 2 a 14 cigarros de maconha por semana, no período de 2 a 6 anos), moderados ( 18 a 70 cigarros de maconha por semana, no período de 2 a 15 anos) e graves ( 78 a 117 cigarros de maconha por semana, no período de 3 a 15 anos), para verificar as diferenças existentes nos resultados destas funções cognitivas de acordo com o consumo de maconha. O principal resultado encontrado foi que o uso grave de maconha faz com que persistam as alterações cognitivas relacionadas ao Córtex pré-frontal, como a memória, funções executivas e destreza manual após 28 dias de abstinência (Bolla et al ., 2002). Em outro estudo para investigar as conseqüências cognitivas residuais em estudantes com uso grave de maconha, na faixa etária de 18 a 28 anos, a amostra constituída de 161 estudantes foi dividida em dois grupos: um grupo - com uso grave caracterizado pelo consumo de maconha no mínimo durante os 22 dias no último mês; e outro grupo - com consumo leve caracterizado pelo uso de, no máximo, 9 dias no último mês. Nesta amostra, as funções cognitivas avaliadas demonstraram que houve uma redução na função do sistema executivo e atencional compreendido pelo decréscimo na flexibilidade mental e perseveração, bem como redução na capacidade de aprendizado. Já nas funções cognitivas de fluência verbal, habilidade de retenção de novas informações, funcionamento e recuperação de memória, mostraram-se inalteradas. Os autores citam como limitação deste estudo não haver diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos de usuários e sugerem que, em estudos futuros, comparem-se amostras de usuários e não usuários (Pope e Yurgelun-Todd, 1996). Em uma revisão computadorizada da literatura nos indexadores Medline e PsycLIT entre 1966 e 2004 com os termos “cannabis”, “marijuana”, “neuroimaging”, “magnetc resonance”, “computed tomography”, “positron emission tomography” e “single photon emission computed tomography” , verificaram que estudos de neuroimagem estrutural apresentaram resultados conflitantes com a maioria dos estudos, não relatando atrofia cerebral ou alterações volumétricas regionais. Contudo, há uma pequena evidência de que usuários de longo prazo que iniciaram um uso regular no início da adolescência demonstraram atrofia cerebral, assim como redução na substância cinzenta. Estudos de neuroimagem funcional relatam aumento na atividade neural em regiões (lobos frontal e orbital) que podem estar relacionadas com intoxicação por cannabis e alterações do humor e redução na atividade de regiões relacionadas com funções cognitivas prejudicadas durante a intoxicação aguda (Crippa et al ., 2005). Em um estudo longitudinal com 70 sujeitos usuários exclusivos de maconha, com idades entre 17 e 20 anos, com o objetivo de determinar: se o uso atual e regular de maconha é preditivo para a queda de QI (Quociente Intelectual) nos níveis de pré-uso; se há diferenças de QI entre usuários graves e leves, ambos usuários freqüentes; se as conseqüências no QI permanecem após os sujeitos cessarem o uso de maconha por pelo menos 3 meses. Nesta amostra, foi aplicado o WISC, na pré-adolescência e antes da iniciação do uso da maconha, para se obter o QI na faixa etária dos 9 aos 12 anos. Posteriormente, quando esta população estava na faixa etária dos 17 aos 20 anos, aplicou-se o WAIS para a obtenção do QI. Dos 70 sujeitos, 37 não usavam maconha regularmente (o uso regular foi definido como consumo de pelo menos um baseado por dia) e não usaram maconha nas últimas duas semanas. Outros 9 sujeitos, foram considerados como ex-usuários por fumarem maconha regularmente no passado, mas não nos últimos 3 meses antes da avaliação; 9 sujeitos foram atualmente considerados usuários leves (consumo de menos de 5 baseados por dia; e 15 sujeitos foram atualmente usuários graves (o uso grave foi definido como, pelo menos, 5 baseados por semana) (Fried et al., 2002). Este estudo constatou que o uso grave de maconha tem um efeito negativo no escore de QI global. Na média de QI global, a diferença foi de 4,1 pontos a menos para usuários graves, se comparados ao grupo de não usuários. Entretanto, este efeito negativo não foi observado no grupo de ex-usuários, que fumaram maconha regularmente no passado, mas não fumaram maconha nos últimos 3 meses antes da avaliação. Com isso, foi possível concluir que o uso de maconha não apresenta prejuízos na inteligência global, a longo prazo, após a suspensão do consumo. Em um estudo realizado com 145 sujeitos, com idades entre 30 e 55 anos, foi avaliado o desempenho neuropsicológico de usuários de drogas no 1º, 7º e 28º dia após a interrupção do uso de maconha. Os sujeitos foram divididos em três grupos: o primeiro grupo de usuários graves havia fumado maconha pelo menos 5.000 vezes na vida e no último mês estava fumando diariamente; o segundo grupo havia fumado pelo menos 5.000 vezes na vida e, no máximo, 12 vezes nos últimos três meses; e o último grupo foi constituído por sujeitos que não fumaram mais de 50 vezes na vida. Comparando os resultados do 1º com o 7º dia de abstinência foram encontrados prejuízos na memória e aprendizagem. No entanto, no 28º dia de abstinência os prejuízos não foram mais detectados, sugerindo que os déficits cognitivos causados pela maconha podem ser um fenômeno reversível desde que investigados: a duração da exposição à droga, o tempo de uso na vida e os efeitos cumulativos pela quantidade de consumo (Pope et al ., 2001). Pope e colaboradores (2003) avaliaram 180 sujeitos, entre 30 e 55 anos de idade, que foram divididos em usuários de maconha com início precoce (antes de 17 anos de idade) e usuários de maconha tardios (início após os 17 anos de idade), para verificar se a exposição precoce à maconha estava associada a déficits cognitivos. Constataram que os usuários com início precoce demonstraram um desempenho cognitivo precário, principalmente em relação ao QI verbal. Estes resultados podem indicar que as diferenças entre os grupos podem ser inatas, anterior ao primeiro uso de maconha; o efeito neurotóxico da maconha pode ter desenvolvido um dano cerebral ou ser resultado de uma aprendizagem formal precária. Solowij e colaboradores (2002) examinaram os efeitos do uso de maconha em 102 sujeitos, com idades entre 19 e 55 anos, sendo 51 usuários de longo-prazo (23,9 anos de uso) e 51 usuários de curto-prazo (10,2 anos de uso), e compararam com uma amostra de 33 sujeitos não usuários de drogas. Neste estudo, foram utilizados nove testes neuropsicológicos, e os resultados confirmam os prejuízos cognitivos entre usuários de maconha de longo-prazo que apresentaram déficits de memória e atenção, isto é, alterações em funções associadas direta ou indiretamente ao Córtex pré-frontal. Cunha (2005) refere estudos que afirmam haver indícios eletrofisiológicos de que o uso da maconha está associado a problemas na resistência cerebrovascular, o que coloca o usuário crônico em situação de risco aumentado para acidente vascular cerebral (AVC). O THC atua principalmente nos receptores canabinóides chamados de CB1, que se localizam em regiões do hipocampo, amígdala e córtex cerebral, e seus efeitos agudos englobam prejuízos psicomotores, alterações de memória, atenção, estimulação do apetite, além dos efeitos analgésicos e antieméticos (alívio de náuseas). 4. Discussão dos resultados Alguns autores evidenciaram que o uso prolongado de maconha pode causar prejuízos cognitivos em atenção, memória de curto prazo, tarefas psicomotores e funções executivas (Hall e Solowij, 1998; Pope et al ., 1995; Pope et al., 1996; e, Ribeiro e Marques, 2002). Já outros estudos detectaram que o uso grave de maconha propicia a persistência de alterações cognitivas associadas ao córtex pré-frontal, como memória, funções executivas e destreza manual, após 28 dias de abstinência da droga (Bolla et al., 2002). Também apontam que em usuários graves, há um efeito negativo no escore de QI global, mas não em ex-usuários, concluindo que o uso de maconha não apresenta prejuízos cognitivos em longo prazo após a suspensão do consumo (Fried et al ., 2002). Determinados estudos verificaram prejuízos cognitivos em usuários de maconha abstinentes de 1 a 7 dias, mas esses prejuízos se extinguiram no 28º dia de abstinência, sugerindo um fenômeno de reversibilidade destes prejuízos (Pope et al., 2001). O que se pode concluir com estes achados é que o uso de maconha pode levar a déficits cognitivos tanto em usuários graves quanto em usuários de longo prazo. No entanto, o que gera contradição nos estudos é o que caracteriza um uso grave e o que determina um uso de longo prazo ou crônico. Para Bolla e colaboradores (2002), um usuário grave consome de 78 a 117 baseados por semana, num período de 3 a 15 anos; já para Pope e colaboradores (2001), o usuário grave é aquele que fumou maconha pelo menos 5000 vezes na vida e fumou diariamente no último mês; Fried e colaboradores (2002) consideram um uso grave o consumo de mais de 5 baseados por semana; e, Solowij e colaboradores (2002) definiram um uso de longo prazo o consumo de maconha por 23,9 anos. Diante disto, verificamos que faltam definições mais precisas que possam auxiliar os profissionais de saúde quanto à abordagem e tratamento de usuários de maconha. Sabe-se que a maconha causa prejuízos cognitivos, mas persistem sem respostas questões como: Que tipo de usuário e por quanto tempo esses efeitos perduram após a abstinência? Isto reforça a necessidade de estudos com esta temática. Também há uma carência de estudos com populações mais jovens, adolescentes, que estão no início do uso de maconha e nem sempre percebem a presença de alguma dificuldade relacionada a este consumo. A investigação relacionada a usuários recentes de maconha pode auxiliar na criação de programas de prevenção e divulgação de informações referentes aos cuidados com a saúde. 5. Considerações finais A adolescência é um período conturbado, de muitas mudanças físicas e psicológicas que tornam o adolescente vulnerável ao uso de maconha, e as conseqüências deste uso, em alguns casos, podem ser fatais. Esta revisão identificou na literatura especializada que o funcionamento cerebral e neuropsicológico em usuários graves de maconha poderia apresentar alterações significativas, afetando funções associadas direta ou indiretamente ao córtex pré-frontal, como: atenção, memória, aprendizagem, funções executivas, tomada de decisões, funcionamento intelectual e funções psicomotoras, mesmo após 28 dias de abstinência. Estes prejuízos podem afetar de maneira crucial a vida dos usuários, podendo afetar a motivação para a realização de atividades do cotidiano e, mesmo, prejudicar a aderência aos tratamentos propostos. Apesar do aumento de estudos referentes ao uso da maconha, são necessárias mais pesquisas em neuropsicologia para que se possam detectar as conseqüências do uso desta substância, não só em usuários de longo-prazo, mas também em usuários recentes que, na maior parte das vezes, não percebe as pequenas alterações cognitivas associadas ao consumo de maconha. 6. 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Rigoni é Psicóloga Clínica, Psicanalista membro do NESF e Mestre em Psicologia Clínica (PUCRS). http://www.cienciasecognicao.org/artigos/v08/m32684.htm
  25. Maconha: qual a amplitude de seus prejuízos? Cannabis: how far is it harmful? A maconha é a droga ilícita mais usada em todo o mundo. O uso da maconha geralmente é intermitente e limitado; no entanto, estima-se que 10% dos que experimentaram maconha tornam-se usuários diários e 20 a 30% a consomem semanalmente. Dados da Austrália mostram que os indivíduos têm iniciado o uso bem mais cedo e a concentração de delta9-tetrahidrocanabinol (THC, principal substância psicoativa presente na maconha) está 30% maior do que há 20 anos atrás.1-2 Alguns autores sugerem que damos menos atenção aos danos causados pela maconha por seus efeitos nocivos não serem tão óbvios como o de outras drogas.1 No entanto, nos últimos anos, começou-se a investir em pesquisas buscando avaliar a amplitude dos efeitos do uso desta droga. Este tema é particularmente importante para profissionais de saúde mental, pois os maiores prejuízos relacionados ao uso da maconha são os transtornos mentais que acabam sendo relacionados com o consumo. Uma conferência internacional intitulada "Cannabis e Saúde Mental", em dezembro de 2004, no Instituto de Psiquiatria da Universidade de Londres, abordou dois aspectos opostos relacionados à maconha e saúde mental: 1) as conseqüências do uso recreacional, abuso e dependência da maconha; 2) o uso terapêutico dos derivados da maconha (canabinóides). Neste editorial, trataremos dos estudos relacionados ao impacto do uso de maconha. A partir de estudos com o THC, Mechoulam et al descobriram o sistema endocanabinóide humano. Receptores cerebrais (CB1) e neuromoduladores (ex: anandamida) têm um papel importante na fisiologia cerebral regulando diversos sistemas neurotransmissores, tais como: dopaminérgico, serotonérgico, colinérgico, glutamatérgico e gabaérgico. Estudos com animais mostram que o uso crônico de THC determina um desbalanço no sistema endocanabinóide e, por conseqüência, alterações nos diversos sistemas neurotransmissores. A maconha é a droga ilícita mais usada por grávidas e estudos com animais e fetos humanos abortados evidenciam efeitos deletérios cerebrais devido à exposição intra-uterina à maconha que podem determinar alterações na vida adulta, inclusive na predisposição para o consumo da droga.3 Vários estudos mostram que a maconha pode produzir alterações cognitivas; usuários crônicos apresentam déficits em várias áreas, incluindo aprendizado verbal, memória de curto prazo, atenção e funções executivas.1-2 O impacto cognitivo é maior quanto mais precoce e maior a duração do uso. Ainda não está claro se as alterações cognitivas melhoram com a abstinência prolongada e estudos maiores investigando a irreversibilidade dos déficits neuropsicológicos associados ao uso prolongado desta substância são necessários. Uma série de estudos tem se concentrado num tema muito em voga atualmente, a relação entre uso de maconha e psicose.2,4 Verdoux et al estudaram populações de estudantes e constataram que a maconha é um fator de risco para experiências psicóticas na vida diária. Uma meta-análise realizada recentemente mostrou que a maconha duplica o risco de psicose e contribui para 8 a 13% dos casos de psicose na população.2 Mary Cannon et al analisaram dados de um estudo de coorte populacional realizado na Nova Zelândia2 e mostraram que a maconha estava associada à emergência de psicose em uma minoria de usuários portadores de uma variação alélica do gene da enzima COMT (catechol-O-methyltransferase). Estes achados evidenciam a interação entre predisposição genética e a exposição ambiental à maconha no desenvolvimento dos quadros psiquiátricos, já que os indivíduos portadores de genes relacionados com a esquizofrenia têm uma chance muito maior de desenvolver a doença quando usam maconha do que os que não têm o gene. A maconha determina alterações cerebrais mais sutis do que o álcool, cocaína ou heroína. O artigo de Crippa et al,5 neste fascículo, faz uma revisão dos principais achados em relação ao impacto do uso da maconha no cérebro, ou seja, os efeitos neurotóxicos residuais. Poucos estudos examinaram esta questão com metodologia adequada, mas os autores mostram como os avanços das técnicas de neuroimagem estrutural e funcional se prestam para investigação dos efeitos da maconha e seus derivados no cérebro. O artigo sugere novos caminhos para investigação de alterações cerebrais sutis, tais como estudos com desenhos adequados combinando diferentes técnicas de neroimagem e avaliações cognitivas. Atualmente, está claro que a maconha é mais prejudicial quanto mais cedo se começa, quanto mais anos se usa e se houver exposição intra-uterina. A maconha não é condição necessária ou suficiente para a ocorrência de quadros psicóticos, mas é um componente causal que interage com outros componentes causais, tais como genótipo, condições ambientais e de neurodesenvolvimento. Apesar das alterações cerebrais relacionadas ao uso da maconha serem mais sutis que as alterações determinadas por outras drogas, não significa que elas não existam e não sejam relevantes. Com o avanço das técnicas exploratórias do cérebro humano vemos um caminho a seguir. Acreditamos que a combinação de diversas abordagens que permitam avaliar os indivíduos sob diferentes aspectos, tais como clínica, psicossocial, terapêutica, neuropsicológica, neuroimagem (estrutural, funcional e molecular) e genética, poderemos ter dados mais precisos sobre as conseqüências do uso da maconha. A maconha sempre foi uma planta polêmica e continua sendo, pois além de ser uma droga de abuso que pode causar prejuízos,1-4 ela contém uma série de substâncias com propriedades terapêuticas comprovadas e potenciais. Informações científicas coerentes que favoreçam o esclarecimento destes dois aspectos diametralmente opostos da maconha podem facilitar imensamente as discussões sobre o uso da maconha e seus componentes na nossa sociedade. Flavia S Jungerman e Ronaldo Laranjeira Uniad – Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, Departamento de Psiquiatria, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Rodrigo A Bressan LiNC – Laboratório Interdisciplinar de Neuroimagem e Cognição, Departamento de Psiquiatria, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Referências 1. Hall W, Solowij N. Adverse effects of cannabis. Lancet. 1998;352(9140):1611-6. 2. Castle DJ, Murray R. Marijuana and madness; psychiatry and neurobiology. Cambridge, UK: Cambridge University Press; 2004. 3. Smith AM, Fried PA, Hogan MJ, Cameron I. Effects of prenatal marijuana on response inhibition: an fMRI study of young adults. Neurotoxicol Teratol. 2004;26(4):533-42. 4. Witton J, Murray RM. Reefer madness revisited: cannabis and psychosis. Rev Bras Psiquiatr. 2004;26(1):2-3. 5. Crippa JA, Lacerda AL, Amaro E, Busatto G, Zuardi AW, Bressan RA. Brain effects of cannabis: neuroimaging findings. Rev Bras Psiquiatr. 2005;27(1):70-8 http://www.scielo.br/scielo.php?pid=...rttext&tlng=en
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