Marcha de Porto Alegre, por nando_trankuilo
Fotos por Guilherme Santos
Galera, meu relato sobre a Marcha em Porto Alegre, no último domingo: foi bonito de ver, tranquilo e com uma repercussão relativamente boa. Cheguei nos Arcos do Parque Farroupilha às 15h. Umas 200 pessoas já estavam por ali, um grupo teatral atraia uma bela roda de gente – manifestantes e curiosos – e disparava mensagens bacanas, capazes de quebrar o gelo e os preconceitos de quem passava, já que o parque é o mais popular da cidade e enche no domingo. Diversos materiais (cartazes, livros, relatos escritos) estavam espalhados para a galera ver, a imprensa filmar, o cérebro dar nó. "Droga Proibida, Máfia Agradecida", "O que não se pode discutir em uma democracia?". Um dos cartazes tinha o relato de um usuário que foi preso por portar uma quantidade ridícula da droga. Por sorte, a marcha não sofreu nenhum tipo de repressão comparável a esses relatos que, infelizmente, ainda rolam.
E enquanto discursos e conversas corriam – com participações do pessoal do Princípio Ativo, do advogado Gerardo Santiago, que veio do RJ, do redutor de danos Dênis Petuco, um dos pioneiros da marcha em POA –, as poucas centenas de pessoas ganharam força e intensidade. Contando por cima, quando bateram as 16h20, umas 700 pessoas começaram a caminhada. Mais gente se juntava à marcha por onde ela passava em sua caminhada ao redor do parque, e logo umas 1000 pessoas caminhavam, gritando pela legalização. Não houve uma incomodação sequer.
Mesmo antes de a Marcha marchar, já dava pra sentir uma energia muito boa. Vi gente interessada, curiosa, disposta a ouvir o que esse movimento amplo e cheio de informação tem a dizer. Vi senhoras de idade relatando uso medicinal de seus familiares – uma delas disse ter um filho esquizofrênico que fumava para se acalmar. "Só me preocupo com a tosse", disse ela. Vi funcionários públicos mostrando a cara e apresentando estudos de vencedores de Prêmio Nobel que garantem: o mais racional a se fazer é legalizar a maconha e devolver a esta substância seu lugar, livre para ser plantada e consumida, porque causa menos danos que inúmeras substâncias legais, porque tem comprovados e impressionantes potenciais medicinais, porque é uma excelente alternativa a diversas práticas industriais, seja como combustível, matéria prima, alimento. E porque temos o direito de cuidar e usufruir do nosso corpo e da nossa mente, cabendo ao Estado zelar por nós sempre que precisarmos dele.
Foi uma bela celebração, mas mais do que isso, um exercício de democracia, garantido pela constituição e pelo Ministério Público estadual do RS. O pessoal do Princípio Ativo dá, anualmente, o start em um processo que já se desenrola naturalmente. Porto Alegre teve sua marcha mais expressiva e intensa. Bons ventos sopram aqui pelo Sul.